Alexander
Quando Evelyn acordou e veio para o quarto, tivemos o melhor momento da nossa relação. Pude sentir os sentimentos dela por mim, o desejo de estar sempre ao meu lado, e principalmente a forma carinhosa com que vem me tratando. Não que ela não fosse antes, mas agora há algo diferente. No olhar, nos toques... até nas palavras. “Amor.” É assim que me chama agora.
Mas foi quando ela disse: “Sua. Eu sou sua, Alex.”
Se ela não tivesse acabado de sair da UTI, eu realmente teria feito ela minha, e de todas as formas possíveis. Mas teria que esperar... até minha garota estar completamente curada.
Contei a ela sobre a história do recruta, exatamente como contei a Robert, e ela concordou em mantê-la. Não queria magoá-los, sabia que ainda choravam pela morte do filho.
Os Anderson vieram visitá-la no dia seguinte, mas Evelyn não contou que estamos juntos. Isso me irritou profundamente. Ela percebeu. Mas, mesmo com raiva, ela sempre consegue me fazer ceder.
Uma semana no hospital e, como o médico disse, a alta veio. Agora estou levando-a para casa.
— Lucas, pare o carro na porta do elevador. Vou carregá-la até a cobertura — disse, sério.
— Eu consigo andar. E o médico disse que seria bom — respondeu Evelyn, com a cabeça encostada no meu ombro e a mão enlaçada na minha. Às vezes, nem me reconheço quando estou ao lado dela.
— Você não vai andando. Eu vou carregá-la, e ponto.
Meu tom saiu mais ríspido do que eu pretendia. Ela tirou a cabeça do meu ombro e me encarou com aqueles olhos.
— Não estou com humor pra discutir. Por isso, vou deixar passar.
Respondeu praticamente no mesmo tom. E sem desviar os olhos dos meus.
Chegamos em casa. Lucas fez exatamente o que mandei. Peguei-a no colo e seguimos para a cobertura. Ela ficou em silêncio o tempo todo. Achei melhor não provocar.
Assim que a porta se abriu, Amélia veio ao nosso encontro com aquele sorriso de sempre. Mas, quando percebi que ela não estava sozinha, e como minha casa estava cheia, aquilo me desagradou. Meu olhar percorreu o ambiente em busca do responsável por aquela bagunça.
— Me coloque no chão, Alexander.
Olhei para Evelyn, confuso. Alexander? Mas então ouvi a voz que a chamava... e entendi o motivo.
— Ah, querida, graças a Deus você já está aqui conosco.
Era Susan, a mãe de Brandon.
Com certa relutância, coloquei Evelyn no chão para que Susan pudesse abraçá-la.
— Que bom te ver, Susan. E obrigada por estar aqui para me receber.
Susan a abraçou novamente e, depois, Evelyn foi de um em um. Até o idota do David estava aqui. Eu tinha planos para hoje. Cancelei compromissos, deixei coisas importantes de lado só para estar com ela. Mas, em vez disso, lá estava ela... rindo, conversando com todos, praticamente me deixando de lado. E pior me ignorando.
Jackson apareceu ao meu lado, com um copo de uísque na mão.
— Bebe um pouco, pra ver se essa cara muda — disse ele.
— Essa é a minha cara todos os dias — respondi no meu tom habitual, dando um gole na bebida.
— Na verdade, sua cara mudou um pouco depois de Evelyn.
Senti o tom provocativo, mas antes que pudesse responder, Robert se aproximou.
— Alex, como vai?
Cumprimentei-o com um aperto firme.
— Robert. Estou bem. Melhor agora que Evelyn está em casa.
— Minha garota é forte. Depois de tudo que passou... algo assim acontecer...
Tentei ignorar a leve provocação. Robert era esperto, lia pessoas como ninguém. Provavelmente está desconfiado da relação entre mim e Evelyn.
— Acidentes acontecem. Mas darei o meu melhor para que algo assim nunca mais volte a acontecer.
— Acho que não será necessário. Minha Susan está tentando convencer Evelyn a passar um tempo conosco. Acho que ela está se envolvendo mais do que deveria nesse mundo. Gosto de você, Alex, como um filho... mas acredito que seria melhor se Evelyn se afastasse por um tempo. Será melhor pra ela.
Por um momento, achei que tinha ouvido errado. Evelyn foi ferida pelas merdas do filho dele, e ele estava insinuando que a culpa era minha? Jackson, que percebeu minha mudança, decidiu intervir antes que eu acabasse com Robert ali mesmo.
Eu estava irritado. Na verdade, era mais do que isso. Só não conseguia identificar exatamente o que sentia.
— Converse com seus sogros. Aceite o convite de ir morar com eles. Já que Brandon era melhor do que eu, não é? E o Robert faz questão de esfregar isso na minha cara. Querendo te tirar de mim com essa desculpa de que sou eu quem te coloca em risco. Quando, na verdade, foi o maldito filho dele quem quase te matou!
Minha voz já não era mais baixa, muito menos controlada. Eu estava exaltado. Furioso. E, enfim, compreendi o que me corroía por dentro.
Mágoa.
Eu, Alexander Sterling, estava magoado.
Depois de tudo o que senti quando ela foi baleada… Depois de vê-la operada, inconsciente, e de passar uma semana ao lado da sua cama no hospital, velando seu sono só para ter certeza de que ela respirava, eu me sentia ignorado. Como se nada disso tivesse valor. Como se o que fiz por ela não importasse.
Essa era a verdade: Evelyn fodeu completamente a minha cabeça.
Me transformou em alguém que eu não reconheço. E, com toda sinceridade, nem sei se quero ser.
E agora, pra completar, ainda levo uma culpa que não é minha, e corro o risco real de perdê-la.
— Alex…
Ela me chamou, mas continuei lavando o cabelo pela quarta vez só pra não precisar encará-la.
— Evelyn, faça o que quiser. Se achar que o melhor é ficar longe de mim, eu não vou te impedir de partir.
Minha voz saiu num sussurro. Mas ela ouviu. Eu sei que ouviu.
E o que eu temia desde que ela acordou… aconteceu. Ela não me culpou pelo tiro. Mas alguém o fez. E sei que esse alguém tem peso na vida dela. Assim como teve na minha um dia. E provavelmente vai conseguir convencê-la a me deixar.
Foi nesse instante que me lembrei por que nunca abaixei a guarda pra ninguém.
Porque quando a gente abaixa... vem a mágoa.
E aí a gente descobre que: tudo que é bom… dura pouco.

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