Depois de uma semana louca sem precedentes como essa, os outros dias foram seguidos de uma calmaria sem igual. Saímos os três para visitar outros restaurantes chiques por Dubai, as conversas sempre recheadas de amenidades e de pouco assunto de interesse. Na verdade, Grace era a mais falante e eu e Hamzaf acabávamos mais respondendo as indagações dela e deixando que ela falasse do que de fato participando de uma ideia no meio do papo todo.
Claro que alguns casos interessantes aconteceram durante esses almoços. Seguradamente, Hamzaf conhecia a maioria dos chef’s e normalmente apreciava um bom vinho. Grace conseguia vez ou outra arrancar um sorriso da face dele, mas Hamzaf parecia um pouco ranzinza na maioria das vezes. E eu tinha certeza que esse motivo envolvia um pouco a mim.
Por alguma razão, eu fazia Hamzaf gargalhar quando me atrevia a abrir a boca. No entanto, com Grace presente, esses casos eram cada vez mais raros, porque eu não me sentia a vontade em fazer Hamzaf rir e porque Grace tentava se esforçar tanto, mais tanto para que Hamzaf gostasse dela que, no fim, Hamzaf começou a me esquecer de escanteio, já tendo desistido que eu falasse ou fizesse algo que o fizesse rir e se inteirava do novo assunto que Grace trazia, um diferente do outro a cada almoço que tínhamos juntos.
Os fotógrafos já haviam marcado entrevistas conosco. As pessoas que observavam com interesse toda essa palhaçada, principalmente as românticas já casadas e endinheiradas que não tinham o que fazer e gostavam de ficar remexendo na vida dos outros, aparentemente queriam saber um pouco mais das mocinhas do romance que observam, talvez para se identificarem com ela numa espécie de catarse teatral, talvez porque realmente não tivessem o que fazer e isso fosse capaz de matar o tédio delas. Qual motivo fosse, o dia da entrevista logo chegaria e eu tinha certeza que ninguém daquele lugar gostaria de mim. Porque Grace ainda tentava parecer minimamente submissa. Mas eu não tinha vocação alguma para tal coisa.
― Acho que precisamos comemorar o almoço de hoje com vinho e bolo! ― Bradou Grace batendo palminhas. ― Não é todo dia que fazemos aniversário. Ainda mais eu!― Ela deu um pequeno gritinho muito agudo para meu ouvido e continuou: ― Por favor Hamzaf! ― E ele que também parecia absorto em alguma coisa, pareceu acordar do seu torpor.
― Sim, sim, claro. ― Chamou então o garçom que estava a nossa disposição e pediu: ― Vocês conseguiriam trazer algum pedaço de bolo ou algo do tipo para a aniversariante? ― O garçom assentiu com um mini sorriso contido no rosto. ― Um château cheval blanc, tinto, por favor, também, para acompanhar. ― Invariavelmente, no mesmo segundo, os nossos olhos acabaram se encontrando e eu sorri fracamente.
Mesmo depois de todos os acontecimentos toscos depois, o início daquela noite, a conversa depois do vinho, essas coisas ainda marcavam a minha mente distribuindo um mini sorriso no meu rosto. Não conseguia deixar de lembrar de ratatouille e como ele havia feito parte da conversa sobre o vinho.
Era o meu segredo com Hamzaf. E eu não estava disposta a compartilhá-lo com Grace.
Os dias passaram tranquilamente, sem muitos embaraços. Mamãe tentara me ligar para que me lembrasse de pedir dinheiro para Hamzaf, mas eu já não tinha terreno para pedir esse tipo de coisa para ele. Muito menos para atender minha mãe e dizer isso. Envolvia o meu pai. Eu precisava correr contra o tempo… Mas não sabia como agir ou o que fazer.
Suspirei enquanto concordava em sair de casa naquela noite com Grace. Hamzaf estava no seu costumeiro trabalho e, já estando lá, nós há mais de três semanas, digamos que sozinhas, sem família, nem ninguém, saber que pelo menos a família de Grace tinha condições de ir vê-la já seria algo a mais na monotonia dos dias que seguiam sempre em frente.
Na verdade, não era a família dela, mas um primo dela. Ela tinha um primo que morava por aquelas bandas também e ele tinha conseguido um tempo longe do trabalho dele naquela semana. Assim sendo, ele estava ali apenas para dizer oi para ela e claro, se atualizar sobre a questão familiar.
Não sei porque Grace queria tanto me apresentar ao primo dela, mas acabei aceitando que tomar um sorvete não seria ruim, ainda que fosse visível que sim. Bastava que olhasse para os lados para ver pessoas nos encarando como se duas mulheres sozinhas indo encontrar com um homem em público fosse algo que não devesse nem acontecer. Não ligava.
Estava com minhas costumeiras calças jeans e tênis que mamãe mataria se me visse. Grace estava com um vestido de meia manga até o joelho gracioso e o cabelo vermelho estava traçado em duas tranças caindo despretensiosamente e emoldurando o rosto. Era a que as pessoas mais olhavam dentre nós duas, é claro.
― Jason, essa é minha colega, Pâmela, Pamy, esse é o Jason. ― Ela nos apresentou. Sorri apertando a mão dele.
Jason era loiro, os cabelos grandes presos por um rabo de cavalo despretensioso nas costas. Tinha uma barba por fazer que deixavam ele com o rosto menos de bebê. Se ele tirasse a barba, acreditava que ele pareceria uma criança. Mas com barba, até parecia condizer com mais ou menos a nossa idade. Os olhos azuis muito combinavam com a blusa também azul que ele usava. Não parecia muito com a Grace, mesmo sendo primo dela.
― É um prazer conhecê-la, Pam. Grace me falou muito de você. ― Sorri voltando minha atenção para Grace. Ela não estaria tentando me tirar do jogo me jogando para cima do primo dela, não? Eu preferia acreditar que não.
― É mesmo?
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