O Acordo Perfeito(Completo) romance Capítulo 22

Não sabia há quanto tempo estava tentando me abanar e conseguir um pouco de ar, mas a verdade é que estava morrendo, pouco a pouco. Respirei fundo enquanto tentava tatear por um ar fresco, mas só havia calor. Aquele dia, especialmente, Dubai estava muito similar ao que costumavam descrever como inferno. O calor era tanto que, mesmo com ar condicionado naquela sala, parecia que não havia era nada ligado.

― A senhora está bem? Podemos continuar? ― Perguntou a senhora responsável pela entrevista que na certa devia estar com mais calor do que eu, mas não deixava transparecer. Estava usando camadas de roupa preta fechada, mas parecia plena, enquanto eu suava tanto que me sentia tendo vindo do Alasca e não de São Paulo.

― Sim. ― Respondi. Mas o erro fora meu em tentar parecer comportada naquela entrevista. Enquanto Grace estava com um vestido de alcinha, não se importando como apareceria na filmagem, eu estava com uma blusa de meia manga e uma saia cumprida, para parecer mais formal e respeitadora, o que nada diminuía do meu calor. Eu até tentara dizer para mim mesma tudo pela sua imagem, Pam, mas não estava dando muito certo não.

― Então… Contem-me, o que as senhoras observaram nesses últimos tempos sobre Hamzaf? ― Assenti levemente enquanto tentava buscar as melhores palavras. Mas Grace acabou falando primeiro, o que me fez esquecer qualquer tentativa de discurso que eu estivesse tentando articular:

― Ele é uma pessoa adorável. Ouve quando eu falo com ele e certamente é muito gentil e inteligente. No nosso primeiro passeio juntos, eu tive uma leve tontura e ele até me ajudou a sentar. ― Grace suspirou. ― Há pessoas que nos tocam a alma desde o primeiro momento que a conhecemos. São como tinta que deixam sua marca em nossos corações e esses nunca mais deixam de ser o mesmo. ― Eu já tinha ouvido aquela frase em algum lugar, mas não me lembrava onde. Dei de ombros.

― E você, Pâmela? ― Perguntou a senhora gentilmente sorrindo para mim.

Precisei de alguns segundos para organizar a confusão de pensamentos que havia em minha mente. Porque sabia que nenhum deles descreveriam Hamzaf de verdade e porque, no fundo, eu já estava cansada de mentir.

Tinha até então me feito de doce, parecido com Grace, sorriso, parecido comportada e até tecendo comentários inteligentes e contidos. Havia falado de mim como se fosse alguém que os outros gostariam de ter como amigo, quando eu não tinha amigos. Eu nunca abri espaço na minha vida para que eles estivessem ali comigo. Eu fiz uma imagem que nada correspondia ao meu eu verdadeiro. Era tudo uma farsa.

Mas até as farsas ficam incomodadas quando percebem que só são isso: Mentiras que queremos que os outros engulam. E era o que eu queria, que os outros me engolissem a qualquer custo. Mesmo que, para isso, eu deixasse de ser quem eu era.

Eu não ia continuar com essa farsa.

― Para mim, Hamzaf continua sendo uma investigação, como aqueles filmes e séries CSI. ― Comecei, fazendo Grace franzir a sobrancelha confusa e a mulher mais ainda aproximando-se de mim para me ouvir: ― Quanto mais por dentro da investigação se fica, mais se descobre que não se sabe de nada, no entanto, mais queremos descobrir o mistério por trás de tudo, achar a verdade no meio de tanto escuro. ― Respirei fundo. Estava muito quente. ― Quanto mais acho que entendo-o, mas vejo que não sei nada e mais quero descobrir. Mas é um caminho perigoso, como toda investigação e eu sei que posso sofrer no percalço, posso me quebrar dependendo da verdade que vem pela frente, mas é só isso que anseio no momento. Descobrir a verdade por trás de Hamzaf. Descobri-lo. ― Finalizei com um alívio no peito incomensurável. Era como se eu tivesse tirado um peso de dentro do meu peito ao admitir esse tipo de coisa para mim, em voz alta. Era como se meu coração finalmente batesse de novo e eu respirasse novamente.

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