O Acordo Perfeito(Completo) romance Capítulo 24

Hamzaf havia pedido para que aproveitássemos um pouco de uma janta digna no restaurante dele. Não que eu estivesse a fim de trocar meu costumeiro pijama por uma roupa decente, mas acabei aceitando trocar de roupa e parecer um pouco digna para os amigos dele, para os quais ele ia nos apresentar, esquecendo um pouco o fato de que Grace conseguiria alcançar mais atenção. Mas tudo bem, eu só havia descido para conseguir um pouco de comida de graça. Eu gostava de comer.

Coloquei calças jeans e uma blusa que mais parecia uma bata que ia até um pouco acima do joelho de cor azul royal com alguns arabescos desenhados nas bordas da camisa e na gola dela. Calcei uma alparcata azul e prendi meu cabelo num rabo de cavalo. Acho que estava bom, ou, pelo menos, foi a mentira que contei para mim mesma mesmo vendo Grace se arrumar com mais.

Eu não queria me comparar com ela, mas acaba fazendo todas as vezes que ela se arrumava parecendo mais ir para uma festa do que para um jantar. Por exemplo, naquele momento, ela estava com um vestido de manga cumprida preto brilhante combinando com um salto também preto. O cabelo preso num coque no alto da cabeça mais parecia uma chama acesa. Eu me comparava, mas sabia também que nunca conseguiria ficar okay com um salto como ela ficava. Por isso, no fim, acabei aceitando a minha roupa confortável que ao menos me seria vantajosa para comer bem.

Quando o elevador parou para descer, congelei no lugar junto de Grace por alguns segundos. Novamente, ali estávamos nós topando com o idiota do irmão de Hamzaf. Era incrível como Rashid conseguia estragar uma noite com o seu olhar. Me dava nojo a forma como ele olhava para nós com lascívia, como se pudesse nos comer pelo olhar.

― Boa noite meninas! ― Ele disse abrindo os braços. Agarrei o braço de Grace e me coloquei o mais distante que pude daquele abraço cheio de desejos profanos.

― Eu achei que você já estava no restaurante. Afinal, Hamzaf já está lá desde as seis. ― Pontuei. Devia ser quase oito, o que era estranho.

― E estava. Fui buscar meu avental, Hamzaf as vezes pode ser um babaca. ― Ele disse, o que fez Grace dar uma risadinha. Arqueei uma sobrancelha. Não se ri com o inimigo, Grace. Porque você estava rindo com Rashid?

― Mas você não ri nem de uma piada, Pam. Grace está rindo. Porque não ri também? ― Revirei os olhos, debochada.

― Nunca gostei de palhaços, obrigada.

― Uou! Mas temos realmente uma esquentadinha aqui. Achei que tinha sido só aquele dia. ― Ele gargalhou novamente achando graça da minha falta de tato em lidar com ele. Não era para menos. Eu estava me coçando para não chutar os países baixos dele.

― Achei que você tinha aprendido a lição. ― E para minha surpresa naquele dia bizarro, ouvi Grace dizer:

― Coitado, Pamy. Deixe-o como está. O nosso silêncio é o melhor que podemos oferecer. ― Concordei balançando a cabeça e o elevador abriu as portas dando-nos a cara para um grande salão. Um belo salão.

Havia uma parede só de vidro para apreciar a noite em Dubai, com um parque mais a frente, as pessoas caminhando com bebês ou cachorros, a calmaria de uma noite como aquela. Havia também muitas famílias aproveitando a noite para jantar. Famílias grandes e pequenas comendo algo que cheirava muito bem e se divertindo comedidamente enquanto o faziam. Sorri enquanto caminhava a torpe pelo salão e acabei só parando de o fazer quando um garçom se aproximou de nós.

― Por aqui. ― Ele nos dirigiu até uma mesa com quatro cadeiras na qual uma senhora com um homem já estavam ali devidamente alocados. Pareciam bem íntimos, porque a senhora estava grávida e o homem estava fazendo carinho na barriga dela enquanto falava no ouvido dela.

Por um momento de choque da cena que mais parecia ter sido retirada de um filme ou de um livro de romance, analisei com cuidado o amor deles esperando que eu não tivesse subitamente adentrado o universo dos livros românticos. No entanto, os dois rapidamente nos viram e se levantaram rapidamente. Demorei a perceber que as mesas ao redor das nossas mesas eram só de guardas daquele inusitado casal que parecia ser beeeem importante. Por um momento, quis trocar de roupa e parecer um pouco mais da estirpe deles. Naquele meio segundo caminhando em direção a mesa, me arrependi amargamente de estar tão mal vestida de frente a um casal tão lindo.

― Oh! Vo-Vocês Sã-São…? ― Grace parecia embasbacada, o que dizia que ela conhecia aquelas pessoas famosas. Mais um ponto para Grace, bem arrumada. Menos um para mim.

― Sim. Mas não precisamos disso aqui, Senhorita. Hamzaf é um grande amigo meu. Fora que os honoríficos serviriam melhor se estivéssemos na minha pátria Omã e não aqui. ― Disse o homem de voz grave. Aproveitei para analisar as feições daquele digníssimo casal.

A jovem usava um hijab lindo rosa choque que estava adornado de pedrarias e que muito combinavam com o vestido vinho que ela usava. Os olhos estavam bem marcados, mas, por alguma razão, seus olhos traziam tanta simpatia e tanta paz que em vez de ela parecer uma daquelas riquinhas que nos deixavam no chinelo, ela mais parecia alguém com quem valeria trocar mais do que meia dúzia de palavras. Gostei dela no mesmo segundo.

O homem parecia um Rei vestido com um vermelho forte com intrincados arabescos na manga que pareciam fios de ouro. A barba estava bem cortada a navalha e ele até usava um Keffiyer quadriculado vermelho e branco. Os olhos dele eram verdes e gentis e ele rapidamente estendeu as mãos como que indicando para que nos sentássemos próximos deles.

― São o rei e a rainha de Omã. ― Sussurrou Grace para mim, o que rapidamente me explicou a gagueira dela e também rapidamente me fez sentir as bochechas corando enquanto eu ensaiava uma vênia muito mal colocada.

― Mil desculpas por não reconhecer vocês antes… Eu… Meu país… Eu mesma, na verdade, não tenho muito contato com árabes. Digamos que… É a primeira vez fora do meu país nessa jornada. ― A jovem voltou sua atenção para mim. Parecia um pouco curiosa.

― De onde você vem? Seu sotaque parece com o de uma amiga… ― Ela disse e eu acabei quebrando todas as etiquetas e rindo.

― Ah… Deve ser engano, senhora. Acho meio difícil que sua amiga tenha vindo do mesmo lugar que eu. Acho muito difícil mesmo que ela tenha vindo do…

― Brasil.

― Brasil. ― Falamos ao mesmo tempo, o que me fez arregalar os olhos. Uau. Mas isso sim era coincidência demais e eu não conseguia nem imaginar maior coincidência do que essa.

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