O Acordo Perfeito(Completo) romance Capítulo 34

O sol batia no meu rosto queimando parte dele e isso foi o que me fez me espreguiçar acordando naquela manhã. Observei o quarto sem Grace, de repente sentindo o peso de que eu me casaria com Hamzaf e que isso era quase certo. Esse pensamento me atingiu como um soco no estômago e eu me vi correndo para o banheiro e colocando minha bile para fora porque não esperava por isso. Pior, não esperava mesmo que eu fosse viver num país estrangeiro.

Parecia que só agora o peso das palavras de Hamzaf do dia anterior vinham com força para cima de mim. Me lembravam de que ele havia dito que a gente se casaria e que ele queria guardar-nos para depois do casamento. Respirei fundo enquanto jogava uma água no rosto e escovava os dentes.

Estava suando frio, porque um casamento significava muitas responsabilidades e eu acho que Hamzaf havia esquecido o quanto eu era extremamente bagunçada, um zero a esquerda para tratar de roupas e que talvez só o pudesse salvar na cozinha, muito embora nem isso pudesse dizer, já que certamente ele sabia cozinhar muito bem para ele mesmo.

Fui em direção a cozinha e encontrei Hamzaf já sentado tomando um café. Havia ovos e pães torrados na mesa o que foi um alento para o meu estômago vazio. Hamzaf riu enquanto parecia se lembrar de uma piada interna, mas que não quis dividir comigo.

― Está uma delícia. ― Murmurei fazendo Hamzaf sorrir.

― Fico feliz, cavalo marinho. ― Ele disse contando a piada da qual ria e eu revirei os olhos.

― Começou de novo, sua esponja marinha. ― Hamzaf riu e eu logo ri em seguida.

― Vou ter que descer mais cedo hoje e voltar tarde. Chegou um carregamento de novos produtos para o restaurante. ― Explicou Hamzaf. Concordei enquanto olhava para o pão torrado que comia.

― Tudo bem. ― Hamzaf concordou levantando-se prestes a sair. Para minha surpresa, antes de fechar a porta ele disse:

― Até mais tarde, Habib. ― E enquanto eu o via partir me dava conta do que Hamzaf havia me chamado agora e também no dia anterior.

E então sorri.

*

Ficar sem fazer nada numa casa é entediante. Ficar sem fazer nada numa casa sem que eu tivesse ao menos a Grace para encher o saco, era pior ainda. Eu me sentia numa espécie de tortura feita especialmente para mim.

Lavei um pouco de roupa, assisti um pouco de televisão, mas continuei na monotonia que se seguiu sem que nada de novo surgisse. Fiz uma janta simples para eu comer e suspirei enquanto trocava de canal. Definitivamente aquela não era uma vida que eu gostaria de levar no futuro. Eu definitivamente não tinha vocação para ser dona de casa. O meu destino era trabalhar, essa era a verdade.

Suspirei enquanto lembrava dos dias que passei na companhia de Sara e Ale, dos dias corridos cozinhando no calor escaldante da cozinha e passando os pratos para que eles finalizassem. Eram dias desgastantes, eu saía da cozinha morta, mas, ao mesmo tempo, eu me sentia realizada, com uma energia interior vibrando em cada uma das minhas células e um sorriso de dever cumprido que não cabia dentro de mim.

Eu sentia falta de tudo isso.

Suspirei enquanto tentava pensar quando eu teria isso novamente. Eu queria muito voltar ao curso de culinária, mas nem estava casada com Hamzaf e estava fazendo um pedido de empréstimo de dinheiro para ele. Não conseguia nem imaginar como ele reagiria se eu dissesse que queria fazer culinária. No entanto, uma vozinha na minha cabeça me acusava de que eu deveria abrir o jogo com Ham por que ele precisava saber o que eu gostava de fazer e eu precisava saber se ele ia deixar eu fazer. Não sabia como isso poderia afetar minha disposição em casar com ele, mas certamente era algo que eu queria, decidi com certa convicção.

Continuei trocando os canais sem nenhuma vontade de continuar naquele apartamento. Era como se eu tivesse numa bolha de ar prestes a estourar e o ar já estivesse rarefeito, meus pulmões se contraindo, a morte chegando…

Talvez eu fosse dramática demais, mas não aguentava mais ficar ali.

Olhei para o relógio observando que horas eram. Já passava da meia noite. A cozinha lá embaixo já devia fechar, portanto, eu poderia conversar com Ham e falar sobre o como gostava de cozinhar. E também, para falar a verdade, poderia espiar e conhecer a cozinha dele, que, sinceramente, era algo que não saía da minha cabeça. Eu queria muito.

Nem olhei, para a falar a verdade, o que estava vestindo. Apenas apertei o botão do elevador e desci. Quando o elevador parou no primeiro andar, pude vislumbrar um restaurante já completamente vazio. Encaminhei para a cozinha. Mal abri a porta e percebi que os empregados estavam terminando de arrumar a cozinha, alguns terminando de lavar a louça e outros passando panos para limpar os eletrodomésticos. Ham estava absorto enquanto encarava uma folha de papel e falava em árabe alguma coisa. Os funcionários respondiam com gritos, o que parecia sinceramente uma chamada oral.

Contudo, toda a atmosfera séria parou quando os homens simplesmente pararam de fazer os trabalhos deles e passaram a me encarar. Pararam, inclusive, de responder a chamada oral que Ham estava fazendo, o olhar vidrado em mim. Me senti, de repente, muito exposta e voltei meu olhar para mim mesma procurando alguma coisa que pudesse estar errado comigo. Não demorei para encontrar o que era. Hamzaf, por sua vez, não demorou para perceber que eu havia invadido a sua cozinha, paralisado, igual aos outros homens sem que as conexões neuronais o indicassem que era eu, realmente, que estava ali.

Os homens que trabalhavam com Ham pareceram acordar do torpor muito antes dele.

― Senhorita Riaz? ― Um deles me perguntou e a única coisa que entendi foi a pergunta que seguia do sobrenome de Hamzaf. Franzi o cenho.

― Não falo árabe. ― Disse em inglês.

― Você é por acaso irmã do senhor Riaz? ― Perguntou um deles em inglês sem esconder nem um pouco que estava encarando as minhas pernas expostas, já que eu nem tinha me ligado que estava de short por causa do calor que tinha feito de manhã.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O Acordo Perfeito(Completo)