O Acordo Perfeito(Completo) romance Capítulo 41

A viagem até a casa dos pais de Ham, de fato, não é demorada. Meu irmão acabou não voltando para casa, mas isso era bem típico dele. Costumava beber e dormir na casa de mulheres. Me admirava que tivesse ali, em Dubai, uma que quisesse fazer isso. Mas acho que com dinheiro, independente de onde quer que seja, isso é fácil de conseguir.

Rashid, no entanto, vem no mesmo carro que nós e não parece nada satisfeito que ele estava no banco de trás em vez do lado do irmão dele. Quando chegamos a uma casa modesta, percebo que há outro carro já parado na frente da casa e Rashid já responde minhas indagações falando:

― Khaled já chegou.

― Sim. ― Responde Ham.

― Sabe o que isso significa?

― Sim. ― Responde novamente Ham e Rashid bufa. Franzo o cenho.

― O que isso significa?

― Significa, minha bela cunhada, que Khaled já comeu todos os bolinhos de falafel da mama e não vai ter um para contar a história. ― Ri saindo do carro acompanhada deles.

A mãe de Ham não demora para aparecer no batente da porta e eu me pego a avaliando nesses curtos segundos. Ela tem cabelos bem negros igual os dos meninos presos num coque frouxo. Está usando uma abaya marrom e as mangas estão puxadas até o cotovelo enquanto ela se abana fortemente. Os olhos dela são de um castanho bem negro, o que me faz crer que eles pegaram o cabelo escuro e os cílios volumosos da mãe deles e provavelmente o nariz anguloso e os olhos castanhos claro do pai.

― Oh! ― É a única coisa que entendo do que a mãe de Ham fala em árabe. Aparentemente, ela ainda não sabe que eu sou estrangeira ou, como meu irmão, não sabe como se comunicar comigo. Agora é a vez de Ham se fazer de tradutor.

― Minha mãe não acredita mesmo que você seja real. ― E mal Ham tendo dito isso, sinto as mãos da mulher sobre as minhas, apertando-as gentilmente enquanto me olha nos olhos com um sorriso cálido nos lábios.

Ela fala alguma coisa mais e enxuga uma lágrima boba que cai de um dos olhos. Ham resmunga alguma coisa e eu o olho e olho a mãe dele sem entender nada. Estou quase apelando para o google tradutor como Ham.

― Ela está emocionada porque acreditava que ia morrer sem nora, MÃE! ― Exaspera Ham como se não acreditasse nisso.

E ao que Ham me traduz, a mãe dele responde:

― Sim! Vocês ficam enfurnados nos trabalhos de vocês e esquecem de me presentear com uma filha! Achei que Rashid seria o primeiro, era o que menos trabalhava de vocês três! Mas estou feliz que seja você, Ham. Minha filha é muito linda. ― E a senhora aperta minhas mãos entre as suas novamente parecendo realmente emocionada, o que, por conseguinte, acaba me emocionando também.

A comida está quase toda pronta e de fato há um outro homem que parece cópia de Rashid e Ham sentado próximo a bancada da cozinha comendo os tais bolinhos que estão quase no fim. Os irmãos começam a brigar com ele e decidem que é hora de colocar a mesa porque estão com fome. Decido que é hora de ligar meu Google tradutor.

― Qual o nome da senhorita? ― Pergunta a mãe dele.

― Pâmela, mas todos me chamam de Pam. ― O Google logo traduz para ela.

― Chamo-me Khadija, como a primeira esposa do profeta. Que Alá o proteja, sempre! ― Concordo meneando a cabeça.

Para minha surpresa, um homem logo aparece na cozinha. Andando em passos lentos e segurando uma bengala na qual se apoia, aparenta ser uns dez anos mais velho do que a senhora na minha frente, os cabelos já brancos, a barba também, os olhos de fato castanhos claros e o nariz afilado. Com sobrancelhas espessas com fios brancos e pretos, o homem certamente daria um medo na juventude dele, a tez morena, os lábios crispados de forma séria. Mesmo na idade mais avançada, ainda carregava os trejeitos de quando provavelmente fora um militar, como Ham me dissera.

― Mas Hamzaf não trouxe uma muçulmana. ― O homem disse no que parecia mais uma afirmação do que uma pergunta. Engoli em seco.

― És cristã, ao menos? ― Engoli em seco.

― Um pouco. ― Admiti. O homem estalou a língua, a mesma coisa que Ham fazia quando não gostava muito da resposta. Já sabia de onde ele tinha pegado o hábito.

― Não tem como ser um pouco cristã, ou você é, ou você não é, criança. ― Eu me sentia recebendo uma bronca como se fosse realmente uma criança mesmo. Engoli em seco.

― Eu…

― É ou não é? ― Ele repetiu a pergunta, a voz mais alterada.

― Sou. ― Acho que estava mais para o era cristã do que para o não era, então não me senti como se estivesse mentindo para o pai daqueles homens, ainda que o olhar dele não saísse de mim como se estivesse procurando alguma falha ou mentira em mim. Como com meu embate com Ham na cozinha do apartamento dele, não ousei desviar o olhar mantendo o contato visual. Novamente, se não havia deixado de ser quem eu era com Ham, não seria com o pai dele que eu deixaria de ser. Mas aparentemente, o homem não gostou disso.

― Abaixe o olhar quando falar comigo, criança!

― Não! ― Me vi gritando como uma criança. Ótimo. O clima tinha ficado estranho.

Para minha surpresa, Ham se aproximou me puxando gentilmente pela mão para longe do pai e da mãe dele para fora da casa, num quintal de areia que era no mínimo aconchegante. Havia uma mesa de madeira grande na qual uma toalha tinha sido forrada e várias comidas estavam dispostas em cima. Havia uma árvore ressequida mais ao fundo do terreno no qual um pneu fazia papel de balanço. Além disso, havia as cadeiras na qual os dois irmãos dele já estavam sentados alheios a tudo.

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