O Príncipe do Oriente romance Capítulo 12

Não falamos mais nada enquanto começamos o enterro de Omar. Tento lembrar de algumas passagens do alcorão das quais eu mais gosto e fico repassando mentalmente cada uma delas.

Faço uma oração mental para que se Omar e minha mãe se encontrarem, que ela possa cuidar dele, tal como ela foi maravilhosa cuidando de mim.

Mal terminamos o almoço e Karim se dirige até a praia novamente. Enquanto pego as coisas valiosas que ele separou para levar para a cabana, Karim começa uma tarefa árdua de cavar, no começo da floresta, onde ainda não é íngreme, para enterrar Omar.

É o melhor que podemos fazer e Karim está fazendo isso com uma pá de cavar buracos pequenos para horta. Não é a toa que demora boa parte do dia.

Já está escurecendo quando ele termina e me chama para que possamos fazer uma mini cerimonia para o irmão. Sua pele bronzeada está totalmente molhada de suor, escorrendo do cabelo, nas costas, mas fazendo sua pele parecer brilhante como fios de ouro descendo por ele. Desvio meu olhar do corpo de Karim e voltou a atenção para Omar que é colocado com cuidado no buraco.

― Tanto o levante como o poente pertencem a Deus e, aonde quer que vos dirijais, notareis o Seu Rosto, porque Deus é Munificente, Sapientíssimo. ― Comecei a citar o alcorão, em voz baixa, uma das minhas citações favoritas, porque me fazia lembrar que Deus estava comigo, não importasse onde eu estivesse. Ele nunca me abandonaria.

― Ó fiéis, amparai-vos na perseverança e na oração, porque Deus está com os perseverantes.

― Ele é o Soberano absoluto dos seus servos, e vos envia anjos da guarda para que, se a morte chegar a algum de vós, os Nossos mensageiros o recolham, sem negligenciarem o seu dever.

― Tenho certeza de que meu irmão está bem. ― Ouço Karim falar e me viro na sua direção observando sua face constrita enquanto olha para onde o irmão está, faltando apenas a terra para cobri-lo. ― Ele sempre foi uma pessoa maravilhosa.

Conheço a dor de perder alguém, mas minha mãe foi vencida pelo câncer. Acredito que seria muito pior se alguém tivesse a matado. Talvez eu sofresse mais, porque a morte por assassinato não é algo aceito por Deus, é uma atitude egoísta e dolorosa.

― Sim. ― Consigo dizer.

A noite cai com seus tons escuros tomando conta de toda a paisagem laranja. Traz um vento insuportavelmente frio e mosquitos. Sinto a areia afundar sob meus pés enquanto caminho de volta à cabana seguida de Karim. Em silêncio, cada um com sua própria dor.

Na cabana, começamos a fazer um inventário das coisas que tem ali e que provavelmente vamos precisar até que as pessoas lembrem de nós e venham nos buscar ou ao menos nos procurar.

Provavelmente, ao encontrarem alguns corpos naufragados, podem presumir que todos estão mortos. Engulo em seco. Não, essa não pode ser uma boa ideia. Não pode acontecer. Não quero passar o resto da minha vida nessa ilha com Karim, ou até quando a família real decidir fazer mais uma festa aqui. Não. Essa vida está fora de cogitação.

Cansado, provavelmente de tanto cavar, Karim é o primeiro a se deitar puxando o sofá até que ele vire uma cama de casal. Sua aparência não é das melhores, mas duvido que a minha esteja melhor.

Ambos sujos, suados, com cara de naufragados ressecados. Mas o momento não me pede para pensar em banhos. O cansaço do primeiro dia na ilha também desce sobre mim, mas há outras coisas me atormentando também.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O Príncipe do Oriente