Enquanto cozinho o peixe, Karim afia uma faca com uma pedra que encontrou vai saber onde. Num primeiro momento permanecemos em silêncio, mas acabo aceitando a conversa que Karim se dispõe, mesmo as perguntas mais evasivas dele.
― Você sempre conheceu Seth ou Agnes? ― Neguei com a cabeça. As lembranças até que eram boas. E o assunto não tão ruim assim.
― Nunca tive muito contato com o Senhor Seth, embora já trabalhasse há seis anos na mansão. Minha aproximação foi primeiro com a Agnes. O Senhor Seth era meio mimado antes de conhecer a Agnes. ― Arregalei os olhos ao tomar nota do que eu tinha deixado escapar da minha boca. Tapei a boca ao ver para quem eu dizia isso. Como eu podia ser tão idiota? Karim era um dos melhores amigos do Seth. Ainda que Seth tivesse abandonado o caminho incorreto que Karim continuava trilhando. Karim gargalhou.
― Fica entre nós. Meu amigo não vai ficar sabendo o que você achava dele no passado. ― Ele piscou risonho e eu concordei dando de ombros e aceitando também rindo.
― Mas a Agnes sempre foi uma pessoa incrível desde que a conheci. Ela sempre foi muito gentil quando criticava e nos ajudava sempre que precisávamos. Várias vezes ela trabalhava mais da conta só para que ficasse mais simples para nós com a administração dela da mansão. Vários dias vi ela varando noites de trabalho. Ah... E também a gente se divertia porque ela não aceitava muito bem não a forma mimada do Senhor Seth a tratava e insistia que a chefe dela era a Senhora Zilena e que não estava sendo paga para fazer as vontades do Senhor Seth. A gente ficava só assistindo de camarote as brigas dos dois. E as vezes rindo. ― Sorri. Como a vez que o professor de árabe e inglês quase teve um troço do coração com os dois se xingando na sala. A gente se segurou para não ficar rindo na frente deles, pensei.
― Então o relacionamento deles não começou nas mil maravilhas… ― Apontou Karim.
― Acho que foi por isso que deu certo. Porque isso permitiu que Seth se desse a oportunidade de mudar e que Agnes também mudasse aceitando que havia coisas na vida dela que ela precisava mudar, sabe? ― Karim concordou meneando a cabeça. A conversa estava ficando muito no teor dos meus chefes. Decidi aproveitar a deixa para mudar de assunto: ― E você?
― Eu o que?
― Sei lá, fala alguma coisa de você. ― Disse rindo.
― Ah, mas daí você vai ter que me contar alguma coisa sobre você também. ― Revirei os olhos.
― Depende então. A gente pode não querer responder, feito?
― Feito.
Ficamos alguns segundos em silêncio quando Karim decidiu ele começar pela primeira pergunta.
― A cor do seu cabelo… De onde você é? ― Senti minhas bochechas corarem imediatamente. Tinha me esquecido que estava sem o lenço.
― Puxei meu cabelo do homem que devia ter sido meu pai, na Rússia. Mas não vivi muito tempo lá. Por isso não tenho tanto sotaque ao falar árabe. ― Contei.
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