O Príncipe do Oriente romance Capítulo 21

Os braços de Karim ainda estavam ao redor de mim quando acordei no dia seguinte. Pareciam oferecer um casulo para o meu corpo cansado, mas ainda mais para o meu espírito que já não aguentava mais viver naquela ilha.

— Já acordou? — Sorri e assenti. Minhas bochechas já davam ares de avermelhar-se, não acostumada em estar nos braços de alguém, muito menos em me sentir tão segura neles.

— Hoje está nublado, acho que não seria muito bom irmos para o alto-mar, mas podemos resolver as provisões para quando sairmos, o que achas? — Assenti concordando com Karim. A verdade, no entanto, era que eu não queria admitir para mim mesma que não queria era sair daqueles braços.

Mesmo que eu soubesse que não deveria me sentir bem ali, já que não estávamos casados ou coisa do tipo.

Depois de alguns minutos, acabamos saindo para caminhar pela ilha. Coletamos algumas frutas e cogumelos que não pareciam muito estranhos e bebemos de um pouco de água enquanto Karim buscava alguns cipós fortes para caso precisasse amarrar alguma coisa no caminho, quando tentássemos sair da ilha. Um arrepio. O medo dava ares de graça, porque me fazia lembrar de quando quase morremos, ou melhor, de quando eu quase morri. Se não fosse por Karim me salvando e me tirando das águas profundas, eu tinha certeza de que estaria morta. Não sabia nadar na época. Agora, sabia nadar pouco.

— Vamos treinar mais um pouco do seu nado, vem. — Disse Karim me puxando em direção a praia. Não consegui nem protestar, quando vi estava no meio das águas, já tendo que nadar para meu desagrado e felicidade de Karim.

Ficamos mais de uma hora na minha tentativa de nadar de um lado para o outro. Karim continuava tentando me incentivar dizendo que eu estava indo bem, vamos lá, só mais um pouco. Eu até tinha noção de que agora não era mais um peso morto como eu poderia ser considerada antes, quando não conseguia nadar nem um pouquinho que fosse, mas mentiria se dissesse que era ótima nadadora agora só porque Karim insistia que eu continuasse dando braçadas de um lado para o outro. Felizmente, ele logo desistiu de continuar com isso e para minha surpresa, me pegou no colo beijando-me os lábios de surpresa ali na água.

— Você gosta de beijar na água, hein? — Consegui dizer entre beijos, o que fez Karim rir de mim enquanto assentia.

— Eu gosto de beijar você. — Ele me respondeu passando o polegar gelado pelos meus lábios e voltando a me beijar carinhosamente novamente.

Uma coisa eu nunca, em hipótese alguma, poderia mentir. Karim beijava bem. Muito bem. Tudo bem, era o responsável pelo meu primeiro beijo, mas acho que não era a única que considerava Karim como um bom beijador. De qualquer forma, a sensação era inebriante, viciante, perigosa. Era certo que meu coração acelerava estando próximo dele. Mas havia outras coisas acontecendo nos últimos dias.

Sentamos na areia depois de algum tempo pegando um pouco de mormaço, agora que não havia sol. Respirei fundo, o cheiro de maresia, sentindo que minha pele se arrepiava enquanto as gotículas secavam da minha pele roubando o calor do meu corpo. Karim, atencioso, pareceu perceber que eu tremia de frio e logo tratou de me abraçar com seus braços que também estavam levemente frios.

Nos últimos dias, meu coração sofria com a sensação de que talvez eu pudesse sentir mais do que atração carnal por Karim. Eu dormia pensando nele, acordava pensando no tonto, já não me importava que o dono dos meus pensamentos fosse um cretino mulherengo com o qual meu coração se agitava e o meu corpo queria e bem…

Minha cabeça já estava cansada demais daquela ilha para pensar nos preceitos religiosos, nos ensinamentos que eu tive, na minha mãe…

A exaustão naquela ilha já não me ajudava também em pensar direito, porque o medo de morrer era grande e a vontade de aproveitar os últimos míseros dias que eu poderia ter na presença de Karim eram enormes. Meu corpo pedia para fosse dele. Meu coração já havia se entregado de bom grado.

Eu tremia na presença dele, pensava nele e até queria que ele continuasse me abraçando numa espécie de casulo para que ele me protegesse do mundo exterior. Eu sabia também que, se sobrevivêssemos a empreitada, eu teria que desistir da ideia de que ele era meu porto seguro, porque Karim passaria a ser o porto seguro de toda uma nação e não só meu… E… bom… A partir de então nossos mundos seriam separados completamente.

Não havia espaço para Karim no meu mundo e nem no mundo dele para mim.

Mas naquele momento, não era isso que povoava a minha mente. Meus pensamentos eram nos lábios que me encaravam cheios, nos olhos que não paravam de brilhar e nas sensações que ele despertara em mim ao me fazer sentir coisas que eu queria sentir novamente, tal qual uma drogada.

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