Dois dias no alto-mar e a sensação de que morreriam em breve estava muito próxima deles. O agouro da morte parecia rondar os lábios rachados, a insolação excessiva, os enjoos matinais. As lutas constantes a noite toda com o mar revolto, o momento que a balsa quase se quebrou e eles quase partiram para o fim da vida. Os desastres eram tantos que eles já oravam a Deus se preparando para a morte certa.
― Acho que vamos morrer, afinal. ― Diz Karim apoiado na balsa quase partida. Karen tem vontade de chorar, mas não parece ter lágrimas o suficiente para isso.
― Seja o que Alá quiser. ― Se limitou a falar.
Não conseguiam dormir direito, o medo da morte assombrava os olhos úmidos dos dois sobreviventes em pleno mar.
Além disso, a fraqueza era tanta, que depois de um tempo, deixaram de remar para deixar que o mar os levasse para onde ele próprio quisesse seguir. Estavam cansados, estavam muito cansados, estavam quase mortos. E de certa maneira, aceitariam morrer depois de tanto lutar por viver.
Precisou de dois dias para que um barco de pesca por acaso os encontrasse. Uma sorte que eles já não contavam mais, uma necessidade para quem quase morrera. Karim e Karen se apoiaram um no outro para se sentarem na balsa, os olhos salpicados de luzes escuras e sombras de morte. Parecia uma miragem. Poderia ser uma esperança, uma luz no fim do túnel? Tentaram gritar por socorro, mas as vozes pareciam rachadas dentro da garganta, incapazes de falar direito por conta da sede.
Depois de um pouco de água que os trouxe a voz novamente e com o retorno do barco de pesca até um porto em Omã, Karen sabia que o destino voltara a ser traçado. Mesmo com a mente fraca por conta dos dias terríveis, os pensamentos continuavam acusando a realidade cruel.
Karim voltaria para sua vida de príncipe, seria logo coroado Rei, mas antes precisaria casar com alguém da estirpe dele. Alguém que fosse rico e influente politicamente, ou que, pelo menos, tivesse uma família nesse nível. Coisa que Karen nunca poderia ser para Karim. Sua pobreza era evidente e sua realidade menosprezável. Suspirou. Quando ela entregara o seu corpo e seu coração para Karim ela já sabia de tudo isso.
Ainda assim, quase morrera, de fato. E não se arrependia de ter se entregue mesmo assim. Sabia que mesmo que vivesse, a sua vida também nunca mais seria a mesma.
A começar por não ser mais uma menina, agora era uma mulher. E ninguém gostaria de ter uma mulher não mais moça como esposa. Isso era tarefa dada ao marido e não a um qualquer. Mas Karen não se arrependia disso. Não. Ela tinha noção de que não mais se casaria, não teria essa chance. Mas ao menos poderia cuidar melhor da mansão para Agnes, poderia fazer seus vestidos em seus momentos livres no ateliê. Ainda poderia fazer muita coisa que gostava.
— Karim. — Disse voltando a atenção para o mocetão que agora a encarava esperando que ela continuasse. Sua voz saia como um sussurro, arranhando as cordas vocais fracas. — Eu já sabia do meu destino quando me entreguei a ti na ilha. E sei que para a sua estirpe social, casamentos são acordos políticos, os quais você precisa para se manter no poder. Por isso, Karim… — Ele tentou falar antes que Karen continuasse, mas ela emendou rapidamente: — Eu te desonero de qualquer compromisso que você ache que precisa ter comigo, mesmo diante de Alá. E peço apenas que você não fale mais comigo, para que tudo isso fique apenas nas nossas memórias e seja facilmente esquecido dos convívios sociais. Para que ninguém fique sabendo e te obrigue a esse compromisso. Só peço para que você não se aproxime mais de mim para que possamos viver bem com isso…
— Karen… — Tentou Karim desesperado, mas a jovem simplesmente o ignorou voltando a atenção para um dos pescadores e pedindo:
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