O Príncipe do Oriente romance Capítulo 25

A semana passou sem muitos problemas. Quando dizem que o tempo sempre arruma um jeito de domar a dor, acho que não mentiam… muito. Era óbvio que as lembranças ainda vinham. Karim havia contaminado a minha vida de maneira inigualável. Havia coisas que nunca mais seriam as mesmas pelo simples fato de eu ter compartilhado desses singulares momento com ele, mas, mesmo assim, eu tentava seguir o meu caminho da melhor maneira possível. Eu tentava me apegar ao fato de que um dia a lembrança não iria doer como dói agora em mim. Um dia, meu coração não se apertaria frente a qualquer menção a Karim.

Quando achei que a mídia já havia esquecido da jovem que havia sobrevivido ao náufrago ao lado do futuro Rei, me surpreendi ao ser chamada por uma rede de TV para dar uma entrevista. Até cogitei dizer não, mas Agnes insistiu tanto de que poderia ser uma oportunidade para que eu me colocasse como a artista que eu era, que eu acabei aceitando.

Agnes estava me ajudando na medida do possível, mesmo que eu dissesse que ela não tinha essa obrigação. Agora, ela havia comprado um espaço pequeno na cidade para mim, para que eu pudesse montar um ateliê e estava me ajudando a mobilhá-lo. Eu não sabia como eu poderia ser mais grata a Agnes do que eu já era. Por isso, mesmo sem nenhuma vontade de ver Karim ― ou mesmo sem vontade de encarar os sentimentos que ainda estavam ali, dentro de mim, fazendo morada e reivindicando Karim como meu ― mesmo assim, eu fui.

Para isso, trabalhei por uma semana de maneira ininterrupta sobre alguma coisa de minha autoria e gostei do que fiz. Fiz um vestido preto que descia como seda até o chão sendo emoldurado por uma faixa um pouco acima da cintura demarcando bem o espaço entre a cintura e meus seios. O tecido era de um preto forte, mas era ainda mais bonito pelas mangas que brilhavam e eram acompanhadas pelo hijab negro enfeitado de paetês brilhantes. Era tão lindo e eu me orgulhava tanto do meu trabalho que não conseguia parar de sorrir.

Fiz uma maquiagem para acompanhar o vestido, os olhos bem demarcados e escuros contrastando com um batom nude. Sorri satisfeita com tudo o que havia conseguido fazer e agradeci novamente a Agnes por ter me cedido um carro com motorista para que eu conseguisse chegar na sede do programa em paz e segurança.

Me sentei numa poltrona próxima do entrevistador e olhei de soslaio para a outra poltrona ainda sem ninguém. Meu coração já se agitava sobre o peito esperando pela chegada de Karim, mas eu sabia também que o príncipe poderia muito bem não querer aparecer ou também aparecer quando quisesse, afinal, ele era o príncipe.

― Boa noite, Senhorita Karen. Meu nome é Mohammed Salah. ― Sorri.

― Eu sei. ― Disse animada. Eu já havia assistido àquele programa algumas vezes na vida e realmente gostava dele e do apresentador gente boa e carismático que o apresentava.

― Já me viu então alguma vez? ― Ele perguntou entusiasmado e sorridente. Assenti fazendo com que o homem gargalhasse feliz da vida. ― Ah, então fico tranquilo. Não costumo mudar meus padrões de perguntas. ― Concordei.

― O senhor é incrível! Consegue também fazer com que todos nós fiquemos vidrados pela sua simpatia nas telas. ― Admiti, de verdade, fazendo o homem dar de ombros.

― A gente tenta. ― Ele murmurou. No entanto, antes que continuássemos o papo, fiquei surpresa com os gritos de euforia de Mohammed: ― Vossa Majestade! ― Engoli em seco enquanto me sentia naqueles filmes de terror que a mocinha vai se virando lentamente até dar de cara com o seu algoz. Engoli em seco enquanto analisava o homem que me fazia sentir medo até de respirar na presença dele. O mesmo homem que uma semana atrás tinha me oferecido ser a segunda esposa.

Fechei o rosto enquanto o encarava. Queria ter desviado minha atenção dele, mas isso era pedir demais para o meu pobre coração. Então, continuei olhando e tentei dizer para o meu coração que tudo bem olhar, olhar não arrancaria pedaços dele.

Karim estava desgraçadamente mais lindo do que o vi da última vez. O terno escuro não só caia bem nele como parecia dizer: estou de volta para ficar. Em Omã, no meu coração. Em todos os lugares, não sei.

Tão logo o olhei, alguma coisa pareceu acontecer. Talvez tivéssemos entrado em alguma sintonia da época da ilha, porque os meus olhos imediatamente foram atraídos até o rosto de Karim e rapidamente percebi também que Karim já me encarava sem pudor.

Os olhos dele carregavam agora uma certa luxúria, da qual era difícil escapar. Um calor começava a se formar logo no baixo ventre subindo como labaredas até alcançar o meu rosto. Muito tardiamente, percebi que estava corando. Mais tardiamente ainda que precisava me segurar para não me abanar ali, mesmo com o ar condicionado ligado e nenhum calor momentâneo ao ponto de eu… sentir calor.

― O senhor veio! Venha, venha, sente-se aqui. ― E o homem acompanhou Karim até a poltrona ao lado da minha.

Não consegui desgrudar meus olhos do homem seguindo calmamente até o meu lado. E, mesmo quando Mohammed tentou manter um papo fluido entre eu e Karim, ainda assim, eu estava aérea demais para perceber que estavam falando comigo e ainda mais aérea para responder. Em algum momento, fui deixada de lado na conversa.

Só voltaram a lembrar da minha existência quando o programa estava prestes a começar e as coisas passaram a ser ajeitadas para encaminhar para a gravação. Respirei fundo. Precisava tomar o meu auto controle novamente. Não podia deixar com que Karim me afetasse tanto assim. Mesmo que, para isso, eu precisasse me desligar da sua presença ao meu lado e tivesse que o ignorar por tabela.

Decidi fazer isso.

― Vamos começar. ― Disse Mohammad espalmando uma mão na outra e sorrindo. Ouvimos a entrada do programa e um roteirista deu sinal com a mão de que havia começado. Mohammad começou nos apresentando, contando um pouco da cena de terror que tínhamos passado em alto mar e então começando algumas perguntas tranquilas para Karim.

― Vossa Majestade, como foi ficar esse tempo todo na ilha? ― Karim se ajeitou na cadeira. Se estava desconfortável, não transpareceu.

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