Agnes tinha me ajudado a mobiliar um espaço no centro da cidade para que eu pudesse fazer o que eu gosto: Moda. Estava tão feliz que não conseguia parar de sorrir. A semana transcorreu sem muitas interferências.
Tive que ajustar o espaço como podia, já que mal tinha inaugurado e já havia recebido milhões de encomendas de todos os tipos de clientes, pobres ou ricos. Mulheres. Não estava aceitando fazer roupas de homens por encomenda. Só Seth ainda tinha esse privilégio.
Muitas mulheres haviam me feito pedidos e como eu era uma pessoa que gostava de entregar o meu trabalho sempre bem feito e o mais rápido que podia, passei os dias seguintes correndo que nem louca, fazendo ajustes, comprando tecidos, lantejoulas, zíperes, linhas e um monte de coisas enquanto trabalhava arduamente.
Agnes reclamava que eu estava chegando muito tarde na mansão e ela estava ficando preocupada comigo, pois mesmo deixando um motorista particular a minha disposição, ela achava perigoso que eu ficasse no centro da cidade até tão tarde da noite trabalhando nas peças. Contudo, aquele era o meu objetivo de vida, era o que eu realmente gostava de fazer e não havia chances de eu parar, até porque se eu ficasse com muito tempo ocioso fatalmente acabava me lembrando de Karim e esse não era o meu objetivo, afinal.
Por isso, já havia até preparado um colchão e jogado no chão para dentro do ateliê para dias que eu sabia que seriam longos, principalmente os fins de semanas, atarefados para entregar os pedidos o mais rápido possível para a festa de algumas madames e era quando eu precisava mandar o motorista ir dormir enquanto eu continuava trabalhando arduamente.
Assim, foi com certa surpresa que verifiquei pela câmera do ateliê, que ficava no segundo andar de um conjunto de lojas no centro de Muscat, que Alisha tocara o interfone e esperava que eu desse permissão para que ela subisse e pudesse ter comigo.
Enquanto permitia que ela entrasse, tentei deixar o ateliê o mais apresentável possível, ainda que não fosse fácil. Joguei algumas linhas tortas na lixeira e uns pedaços de tecido rasgados e não usados também. Dei uma sacudida no sofá branco onde as clientes costumavam sentar e analisar alguns dos desenhos que eu fazia escolhendo algum modelo que parecia as agradar mais e inspirei fundo dessa vez lembrando que estava sem o véu, mas quando ia na direção dele, Alisha adentrou o ateliê não me dando mais essa oportunidade.
Dei um sorriso forçado. Alisha ainda não estava sendo muito plotada pela mídia, mas era conhecida o suficiente para justificar o hijab escuro e os óculos escuros àquela hora da noite. Tentei engolir em seco. Não havia uma expressão sequer no rosto de quem seria a futura Rainha de Omã, mas mesmo assim parecia que havia um bolo entalado na minha garganta que não descia e não saía de jeito nenhum me deixando levemente com a sensação de que sufocaria com aquela mulher ali dentro.
Nunca tinha sentido isso, mas imaginava que fosse fruto da minha mente que acabava associando a sua similaridade com sua irmã e achando que ela seria tão ruim como a falecida, causando tristeza para o coração do príncipe de quem eu gostava.
Balancei a cabeça em negativa. Esse pensamento não podia continuar fazendo morada dentro de mim.
― Então você que é a tal da Karen. ― A voz saiu tão azeda que parecia contaminar tudo ao redor. Ainda assim, precisei de um esforço hercúleo para sorrir e fazer uma mesura.
― Sim. Posso ser útil para a senhora, vossa majestade? ― Ter massageado o ego dela pareceu ser o tiro certo, já que Alisha abriu levemente os lábios num sorriso contido tentando parecer despretensiosa enquanto se sentava no sofá e analisava as unhas pintadas. Devia estar naqueles dias, pensei.
― Acho que sim… Andam falando tão bem dos seus modelitos arrasadores que achei que você poderia deslanchar mais ainda se desafiando um pouco mais num trabalho que certamente vai valer a sua vida toda. ― Arqueei a sobrancelha.
― Sim?
― Um vestido de noiva. ― Ela disse por fim enquanto um sorriso comedido forçava a barra no canto dos seus lábios. ― Eu quero o melhor vestido de noiva dos séculos. Um que todas, mas todas mesmo olhem e não consigam parar de olhar. Tão perfeito que se você puder costurar nuvens e o fizer leve ao mesmo tempo que majestoso, será perfeito. Será que você consegue? ― Ela arqueou a sobrancelha num gesto de desafio.
Eu sabia que ela estava me provocando, mas ainda assim assenti. Hesitei um pouco, mas concordei. Eu era capaz de fazer um vestido para uma princesa. Eu daria o meu melhor para que Karim pudesse amar sua verdadeira esposa ou, pelo menos, como ela conseguia cair bem em qualquer roupa que eu fizesse para ela.
― Vou anotar um pouco do seu gosto para fazer um vestido do qual você goste, vossa majestade. Posso mostrar alguns desenhos para a senhorita? ― Alisha ainda me olhou como se achasse que eu fosse sobrenatural. Na certa esperava que eu parecesse atacada de ciúmes, com cara feia ou qualquer coisa do tipo, mas, o que ela não sabia, era que eu estava fazendo isso mais por Karim do que por ela. Ao menos pelos bons tempos com Karim.
― Certo. Deixe-me ver. ― Então passei a mostrar um pouco do que eu tinha desenhado para Alisha enquanto anotava os seus gostos. Enquanto o fazia, fiquei surpresa com como os nossos gostos se pareciam e como certamente seria fácil fazer um vestido de arrasar para os padrões dela. Como ato de comiseração por mim mesma e pelo que eu não teria, decidi me auto punir um pouco decidida a dar a Alisha o melhor vestido com o qual eu gostaria de casar.
Anotei então as medidas de Alisha e conversamos sobre o melhor tecido. Ela queria se casar bem tradicional, afinal, Omã ainda era bem tradicional.
Não tanto quanto a Arábia Saudita, mas o suficiente para que a Rainha fosse capaz de ditar as regras para as mais jovens.
Sorri. Exceto para minhas amigas Fer e Agnes, mas isso já eram outros quinhentos.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Príncipe do Oriente