O Príncipe do Oriente romance Capítulo 37

Os dias passaram tranquilos. Karim tinha medo de que fosse uma bonança antes da verdadeira tempestade chegando. Ainda assim, se preparava para que nada acontecesse. A segurança era revista toda semana, as investigações de onde o pai de Karen poderia estar eram sempre revistas, ainda que eles nunca conseguissem encontrar o homem.

Com muitos afazeres, Karim teve que confiar nos amigos para que Karen estivesse segura. Felizmente, Agnes e Seth cuidavam muito bem da jovem e a mantinham em segurança. Ela também diminuiu o trabalho no ateliê com medo de receber alguém que a quisesse mal e continuou apenas com as clientes que ela melhor conhecia.

Mesmo que Karim pedisse para que ela aproveitasse o momento para descansar um pouco, ela ainda trabalhava em cima do vestido que antes era para Alisha, mas que agora ela retocava para que servisse para ela.

A mídia continuava recebendo muito bem o casamento e Karen achou que falariam alguma coisa de Alisha, mas qualquer informação a respeito da moça foi apagado da mídia antes que alguém ousasse falar dela. Karen se sentia mal por não ter cumprido a sua promessa com a mulher e não sabia, de verdade, o que ela poderia tramar para querer o poder novamente. Afinal, duvidava que ela aceitasse o fato de ter perdido o cargo de princesa assim tão facilmente.

Pelo menos, a lembrança do tapa indicava insistentemente isso.

Suspirou enquanto buscava ar. Tinha colocado um hijab laranja e estava esperando Karim. Naquele dia iria para mais um dia de consulta e pré-natal, só que agora acompanhada do príncipe regente, seu futuro marido. Ele insistira tanto que gostaria de ouvir e ver o bebê que ela concordou que ele visse.

Em mais duas semanas, Karen também conseguiria descobrir qual era o sexo do bebê. Se casaria com 4 meses de gravidez. Era bastante coisa.

Não demorou para que um porshe estacionasse na frente da mansão. Um guarda saiu para abrir a porta e outros dois carros pararam na frente e atrás. De todos, guardas saíam para receber a futura princesa. Karen achava aquilo tudo desnecessário, não achava que a atacariam, não com a repercussão positiva que a mídia estava tendo, mas sabia que aquilo era, principalmente, pelo reconforto mental de Karim.

Entrou no carro e ele começou a se movimentar até o hospital onde Karen fazia o acompanhamento.

― Você não precisava se preocupar tanto, futuro marido. ― Karim sorriu de lado e apertou a bochecha de Karen com delicadeza. Os olhos brilhavam felizes.

― Claro que preciso. Você vai se responsabilizar? ― Ele arqueou uma sobrancelha. Karen não compreendeu de imediato, franzindo o cenho.

― Me responsabilizar pelo que?

― Por me deixar tão perdida apaixonado por você que não aguento a simples ideia de perdê-la. ― E Karim continuava com aquelas declarações tão lindas e fofas que Karen só conseguia corresponder também sorrindo.

― Só se você se responsabilizar também.

― Por?

― Por me fazer amá-lo tanto. ― E a sua surpresa foi tanta ao sentir um beijo de Karim na sua testa. Infelizmente, não poderia beijá-la com tantos guardas também no carro os olhando. Karen fechou os olhos sorvendo o momento de cuidado e alento. Haveria momento de maior alegria para si do que aquele?

Não demorou para que chegassem no hospital. Depois de mais cuidados para evitar problemas e o esvaziamento de um andar inteiro por via das dúvidas, logo eles estavam na sala ouvindo o batimento do bebê e vendo-o em perfeito estado.

― Infelizmente, ele não está em uma posição boa o suficiente para que pudéssemos ter certeza se é menino ou menina, mas o bebê está com o tamanho ótimo para a quantidade de semanas que tem. Catorze semanas, Karen. Continue fazendo uso dos medicamentos que te receitei. ― E foi depois, já no fim, que Karim franziu o cenho e reconheceu o doutor Saiji, o último que ele tinha quase brigado de uma maneira bem feia.

― Oh… Você! ― Saiji sorriu encabulado.

― Vossa Majestade… ― Ele assentiu.

― Por que você não me contou?

― O sigilo da paciente era o mais importante para mim. Eu tinha que fazer isso pela Srta. Karen. ― Explicou o médico agora que aparentemente conseguia ter uma conversa aparentemente normal com o príncipe. ― Por isso precisava assegurar a segurança dela. Fiquei com medo de que você a puxasse com muita força e ela caísse, se machucasse. Ela carrega um feto grande e robusto para a sua estatura, então compreenda, majestade. ― Disse o médico já ficando com medo de perder o emprego. Afinal, aquele hospital, em grande parte, era mantido pela família real.

― Eu compreendo, doutor. E agradeço. Antes eu não conseguia entender, mas agora entendo. ― Disse Karim realmente sincero.

No carro, Karim apertou as mãos de Karen enquanto sorria. Estava tão feliz que não cabia dentro de si. Os preparativos para o casamento estavam a todo o vapor e já quase acabando. Em questão de uma ou duas semanas, eles estariam juntos. Não havia maior felicidade naquele momento que esse para o príncipe.

― Vou deixá-la na casa do Seth. Preciso resolver uma papelada gigantesca ainda hoje e uma reunião. O que acha de almoçarmos juntos amanhã? ― Karen sorriu.

― Acho uma ótima ideia. Venha almoçar conosco. Eu cozinho e Agnes deve querer me ajudar um pouco também. Senhora Zilena e Senhor Rashid vem almoçar conosco e Fer e Al também. Acho que você vai se sentir em família. ― Karim concordou com a cabeça.

Com a morte de Omar e a doença do pai, era bem verdade que Karim já não tinha uma família que pudesse se reunir e comemorar o que quer que fosse. Além disso, com tantos afazeres nas costas, o pai precisou segurar um reino nas mãos e criar dois meninos para um dia o sucederem. Com isso, poucas vezes eles se uniram em família. Poucas vezes puderam estar juntos para diversão. Quase sempre era para se inteirarem de algum assunto. E, de qualquer forma, sem a presença de uma figura feminina na família, tudo parecia mais preto e branco dentro do palácio real.

― Até amanhã, Hubb. ― Eles se despediram.

Karim retornou para a mansão suspirando. Havia tanto trabalho para fazer e ainda tinha medo do que seu tio poderia estar aprontando. Contudo, por ocasião de problemas de ordem maior, tinha esquecido de que havia outro problema tão grande quanto e que esse problema esquecido tinha decidido aparecer depois de quase duas semanas em silêncio, ali, no seu escritório, no palácio.

Não mentiria se dissesse que ficou realmente surpreso quando um empregado lhe falou que Alisha estava esperando por ele no seu escritório. Achou que no fim tinha ficado tudo bem. A situação tinha sido melhor do que ele achou que seria. Afinal, a família Al Kaen tinha aceitado a futura Rainha desde que o Hotel Jalila passasse para as mãos da família, por conta do que chamavam de vexame nacional que Alisha havia passado.

A família real concordou tranquilamente.

Por isso, era realmente estranho que, depois que os Al Kaen tivessem aceitado ficar quietinhos e esquecer tudo, que Alisha aparecesse ali, independentemente do que quer que ela quisesse falar.

Andou em passos rápidos e decisivos até o escritório e abriu a porta em um roupante. Estava com dor de cabeça e a última coisa com a qual queria lidar era com uma ex. Não quando tinha passado por um dia incrível, quando tinha ouvido o coraçãozinho do seu herdeiro. Não quando havia visto os olhos brilhando de sua futura esposa.

― O que está fazendo aqui? ― Não se importou se por acaso parecesse grosso.

― Vim conversar com você. ― Ela disse encarando as unhas. Estava apoiada na mesa do escritório.

― Não temos o que conversar. ― Alisha riu.

― Ah, temos sim. Ou você acha que é assim? Você fica com aquela vaca e eu saio na pior? ― Fechou a cara. De onde Alisha tinha tirado de que poderia falar assim da futura princesa?

― Não ouse mover os seus lábios sujos para falar de Karen. E outra, você não saiu na pior. O hotel Jalila passou para a sua família. ― Alisha revirou os olhos.

― Acontece que o Hotel Jalila que foi para a minha família não fará parte do meu dote, mas do dote do meu irmão. Eu sou só uma peça nesse tabuleiro. ― Karim respirou fundo para acabar não fazendo nenhuma besteira.

― Eu não tenho nada a ver com como a sua família resolve as coisas, Alisha.

― MAS VOCÊ ME TIROU A CHANCE DE SER PRINCESA! ― Ela gritou quase em lágrimas. Karim então compreendeu. Apertou um lábio sobre o outro. A questão ali então era de brio, de sonho. Algo que Alisha achava que tinha sido tirado dela. Era tão infantil e idiota que Karim não conseguiu falar absolutamente nada. Alisha, por sua vez, recuperou o tom de voz e sorriu.

― Me deixe ser a segunda princesa. ― Confessou seus planos, num primeiro momento só falando. Karim ficou chocado. Aquela menina era maluca? Ela estava se oferecendo para ser a segunda, assim, do nada? Era muito tentador, se ele não tivesse olhos só para Karen.

― Não. ― Limitou-se a dizer.

Alisha não aceitou o não. Assombrado, Karim viu sua perna ser agarrada enquanto aos prantos Alisha implorava para que fosse a segunda princesa. A humilhação era tão grande que Karim tentou tirar Alisha dos seus pés, mas ela não largava de jeito nenhum ainda suplicante. Karim começou a ter pena.

― Alisha… O mais importante não é ser princesa. Na sua vida, você não tem que buscar uma coisa exterior como essa. Deve buscar um homem que te respeite, um homem que passe a amá-la e que você o ame tamb -

― Eu não quero! Eu quero ser princesa! ― E era degradante a forma como as lágrimas escapavam dos olhos de Alisha. Ele suspirou.

― Um dia você vai encontrar um homem que você o ame da mesma forma que ele te ama, Alisha e então você vai conseguir me entende―

― Eu não quero te entender! ― Ela gritou limpando as lágrimas do rosto com raiva e levantando-se rapidamente. Se aquilo era verdade ou teatro, Karim não conseguia ter certeza de mais nada.

Alisha foi em direção a porta transtornada e raivosa. Contudo, antes que saísse, se virou novamente para Karim, agora com um sorriso de escárnio no canto dos lábios.

― Eu vou atrás de quem vai conseguir me fazer sua Rainha. ― E dito isso, Alisha escapou antes que Karim conseguisse alcançá-la para perguntar se ela havia recebido alguma proposta do seu tio Aziz.

Enfurecido, Karim socou a mesa antes de se sentar. Queria ter mais poder para saber o que seu tio estava aprontando. Estava com muito medo. Se pudesse ao menos saber os passos do tio para que pudesse se precaver antes…

Tentou entrar em contato com seu investigador pessoal, mas ele murmurou que estava difícil saber o que Aziz estava fazendo. A melhor informação que tinha era que Aziz havia entrado em contato com uns homens que pareciam ser da máfia russa. Provavelmente estava caçando o pai de Karen agora que ele tinha aceitado uma grande quantia para ficar quieto na dele escondido numa ilha paradisíaca próximo da Oceania.

O silêncio que o Tio Aziz mantinha era o pior tipo de tortura que Karim poderia aguentar. Tinha pedido para que a segurança no seu casamento fosse reforçada, mas tinha medo de que alguma coisa pudesse acontecer. Não achava que o tio ia tão longe fazendo qualquer coisa que fosse justo no dia do casamento, mas não podia esperar muito do homem que havia contratado um homem da guarda pessoal do Rei para atirar na barriga de uma mulher grávida. Um homem que batia na própria esposa. Aziz era inescrupuloso. Nojento. Terrível.

Suspirou olhando a janela por onde a noite avançava tranquilamente indicando o fim do dia. Orou brevemente a Deus pedindo que ele cuidasse de tudo e os livrasse de todo mal que pudesse estar vindo. Era a única coisa que podia fazer, já que estava de mãos atadas e não sabia muito bem como agir…

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