Passamos a noite em claro. Ainda assim, o primeiro dia foi o mais tranquilo, mesmo assim. O segundo, no entanto, foi difícil. Recheado de sono, estávamos dois cacos tendo que cumprimentar novas pessoas que chegavam, de outro países, para dar felicidades pelo casamento. A maioria eram representantes políticos e diplomatas, mas não deixava de ser angustiante a quantidade de pessoas que eu tinha que sorrir e cumprimentar.
No segundo dia, ficamos mais divididos. Enquanto Karim se juntou com os homens em um canto, para rir, fazer votos de cumprimento, dentre outras coisas mais, eu tive que me juntar às mulheres. Não que eu tivesse alguma coisa contra. O problema é que, mesmo sendo a noiva, mesmo a festa sendo para comemorar o meu matrimônio com o príncipe de Omã, as mulheres continuaram me ignorando deliberadamente como se ainda não aceitassem a nossa união.
Claro, muitas mulheres ali eram riquíssimas, amigas da família Al Kaen, eu até conseguia entender um pouco, mas porque então vir para o meu casamento? Ao menos que fingissem alguma coisa na minha frente. O pior de tudo era ser ignorada em um canto como se você fosse um lixo que poderia muito bem ser descartado. Eu odiava essa sensação.
Mesmo assim, não me deixei ser abalada. Estava cansada de pessoas que julgavam pelas aparências e não era como se eu precisasse de pessoas para conversar. Para falar a verdade, estava cansada até mesmo de falar. Queria ficar em paz.
Ainda mais, Fer tinha ido trocar a bebê dela e Agnes estava em algum lugar naquela festa. Minha amiga tinha uma condição inerente a ela que era se perder nos lugares mais estranhos ou ter o azar com as piores coisas na vida. De manhã, ela teve que ir se trocar porque foi recebida com um golpe de suco de uva na abaya verde de uma maneira que era impossível de esconder. Ao menos, eu tinha a deixado com um grande estoque de roupas estilizadas por mim. Ela estava segura.
Como estava relativamente sozinha e não estava a fim de conversar, decidi que agora que tinha lembrado das roupas estilizadas, ia me concentrar em fazer um vestido para mim. Afinal, eu não sabia quando ia precisar. Peguei o meu caderno, no qual eu costumava desenhar algumas produções e um lápis. Sentei num canto e, enquanto era servida com um pouco de suco de laranja, aproveitei para me concentrar e desenhar um pouco. Ajudaria a fazer com que o tempo passasse logo.
Demorei a perceber que as mulheres tinham parado de se reunirem a fofocarem e me excluírem e que agora uma ou outra aparecia ao meu lado para conferir o que eu desenhava com certa curiosidade. Demorou para que uma decidisse abrir a boca e exclamasse alguma coisa sobre o que eu desenhava, mas quando ela o fez, as outras quase que imediatamente fizeram o mesmo:
― Mas que lindo! E na cor azul deve ficar fantástico! ― Disse uma e as outras concordaram meneando a cabeça. Sorri.
― Estava pensando nessa cor mesma. Mas a senhora…?
― Jaline. ― Assenti.
― Jaline, a melhor cor de abaya para você, sem dúvida, seria laranja. Destacaria a cor da sua pele e a deixaria deslumbrante.
― Oh-oh! Você acha? ― Ela perguntou apertando as bochechas e fazendo um bico com os lábios.
― Acho sim. ― E as mulheres logo começaram:
― E para mim, majestade? Qual cor você acha que combinaria?
― E para mim?
― E quanto ao melhor tecido para os lenços?
― E as melhores presilhas?
― E o melhor caimento?
E as perguntas eram tantas que eu quase me vi perdida em meio a tantas perguntas e falas, mas sorri. Finalmente, estava interagindo com as mulheres na minha festa e isso me deixava muito, muito feliz!
― Acho que tudo depende do tamanho corporal, mas a cintura também conta. Pelo Alcorão, nada que fique muito marcado, então precisamos nos atentar bastante com isso. ― Elas assentiram concordando quase que imediatamente com o que eu falava.
Quando olhei, as mulheres já havia feito uma meia lua de rodinha ao redor de mim e todas nos sentamos no chão, em meio a alguns puffs naquela antessala para mulheres. Eu tinha a atenção delas.
― E é verdade que foi você que fez esse vestido que você está usando agora?
― Não só esse, como o de ontem também. ― Respondi sorrindo.
― Mesmo grávida? ― Perguntou uma outra descrente que acabou deixando o assunto vir a tona. As outras mulheres a encararam como se o assunto do qual ela falava fosse haraam. Apertei um lábio sobre o outro tentando segurar a vontade de rir.
― Mesmo grávida. É um pouco cansativo, mas não consigo ficar parada por muito tempo. E eu realmente gosto de desenhar e produzir os meus próprios vestidos. ― Elas assentiram maravilhadas.
― Inclusive esse aqui, oh, foi ela que fez! E vê se minhas curvas não ficaram bem proporcionais no vestido! ― E essa era minha amiga, Agnes, chegando com o seu vestido agora vermelho. Os cachos estavam soltos com um lenço jogado displicente no cabelo. Na certa, ela tinha se cansado de deixá-los dentro do hijab.
― É verdade!
― É mesmo! ― Elas concordaram com Agnes que passou a falar dos últimos modelitos que eu havia feito e que ela tinha em seu guarda roupa.
Rapidamente, os convites e pedidos por um vestido feito pela própria princesa começaram a crescer em quantidade assustadora. Agnes me sugeriu que abrisse uma grife agora como Princesa para essas madames que pediam um vestido feito por mim. E que eu fizesse em caráter especial, com preço especiais também, podendo ser um incentivo para ajudar a Casa. Eram tantas ideias que chegavam e eu estava tão feliz, exultante com as novas opções que se abriam, mesmo nessa nova vida, que demorei para perceber que Karim havia chegado na rodinha feminina, fazendo uma mesura polida e perguntando:
― Será que eu poderia levar a princesa rapidinho, senhoras? ― E elas concordaram com sorrisos congelados no rosto, porque, afinal, a beleza de Karim era inegável e, naquele terno branco em particular, ele estava magnífico.
― Sim. Sim.
E Karim estendeu a mão para mim que a peguei quase imediatamente me deixando ser guiada para longe por ele.
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