O Príncipe do Oriente romance Capítulo 39

Passamos a noite em claro. Ainda assim, o primeiro dia foi o mais tranquilo, mesmo assim. O segundo, no entanto, foi difícil. Recheado de sono, estávamos dois cacos tendo que cumprimentar novas pessoas que chegavam, de outro países, para dar felicidades pelo casamento. A maioria eram representantes políticos e diplomatas, mas não deixava de ser angustiante a quantidade de pessoas que eu tinha que sorrir e cumprimentar.

No segundo dia, ficamos mais divididos. Enquanto Karim se juntou com os homens em um canto, para rir, fazer votos de cumprimento, dentre outras coisas mais, eu tive que me juntar às mulheres. Não que eu tivesse alguma coisa contra. O problema é que, mesmo sendo a noiva, mesmo a festa sendo para comemorar o meu matrimônio com o príncipe de Omã, as mulheres continuaram me ignorando deliberadamente como se ainda não aceitassem a nossa união.

Claro, muitas mulheres ali eram riquíssimas, amigas da família Al Kaen, eu até conseguia entender um pouco, mas porque então vir para o meu casamento? Ao menos que fingissem alguma coisa na minha frente. O pior de tudo era ser ignorada em um canto como se você fosse um lixo que poderia muito bem ser descartado. Eu odiava essa sensação.

Mesmo assim, não me deixei ser abalada. Estava cansada de pessoas que julgavam pelas aparências e não era como se eu precisasse de pessoas para conversar. Para falar a verdade, estava cansada até mesmo de falar. Queria ficar em paz.

Ainda mais, Fer tinha ido trocar a bebê dela e Agnes estava em algum lugar naquela festa. Minha amiga tinha uma condição inerente a ela que era se perder nos lugares mais estranhos ou ter o azar com as piores coisas na vida. De manhã, ela teve que ir se trocar porque foi recebida com um golpe de suco de uva na abaya verde de uma maneira que era impossível de esconder. Ao menos, eu tinha a deixado com um grande estoque de roupas estilizadas por mim. Ela estava segura.

Como estava relativamente sozinha e não estava a fim de conversar, decidi que agora que tinha lembrado das roupas estilizadas, ia me concentrar em fazer um vestido para mim. Afinal, eu não sabia quando ia precisar. Peguei o meu caderno, no qual eu costumava desenhar algumas produções e um lápis. Sentei num canto e, enquanto era servida com um pouco de suco de laranja, aproveitei para me concentrar e desenhar um pouco. Ajudaria a fazer com que o tempo passasse logo.

Demorei a perceber que as mulheres tinham parado de se reunirem a fofocarem e me excluírem e que agora uma ou outra aparecia ao meu lado para conferir o que eu desenhava com certa curiosidade. Demorou para que uma decidisse abrir a boca e exclamasse alguma coisa sobre o que eu desenhava, mas quando ela o fez, as outras quase que imediatamente fizeram o mesmo:

― Mas que lindo! E na cor azul deve ficar fantástico! ― Disse uma e as outras concordaram meneando a cabeça. Sorri.

― Estava pensando nessa cor mesma. Mas a senhora…?

― Jaline. ― Assenti.

― Jaline, a melhor cor de abaya para você, sem dúvida, seria laranja. Destacaria a cor da sua pele e a deixaria deslumbrante.

― Oh-oh! Você acha? ― Ela perguntou apertando as bochechas e fazendo um bico com os lábios.

― Acho sim. ― E as mulheres logo começaram:

― E para mim, majestade? Qual cor você acha que combinaria?

― E para mim?

― E quanto ao melhor tecido para os lenços?

― E as melhores presilhas?

― E o melhor caimento?

E as perguntas eram tantas que eu quase me vi perdida em meio a tantas perguntas e falas, mas sorri. Finalmente, estava interagindo com as mulheres na minha festa e isso me deixava muito, muito feliz!

― Acho que tudo depende do tamanho corporal, mas a cintura também conta. Pelo Alcorão, nada que fique muito marcado, então precisamos nos atentar bastante com isso. ― Elas assentiram concordando quase que imediatamente com o que eu falava.

Quando olhei, as mulheres já havia feito uma meia lua de rodinha ao redor de mim e todas nos sentamos no chão, em meio a alguns puffs naquela antessala para mulheres. Eu tinha a atenção delas.

― E é verdade que foi você que fez esse vestido que você está usando agora?

― Não só esse, como o de ontem também. ― Respondi sorrindo.

― Mesmo grávida? ― Perguntou uma outra descrente que acabou deixando o assunto vir a tona. As outras mulheres a encararam como se o assunto do qual ela falava fosse haraam. Apertei um lábio sobre o outro tentando segurar a vontade de rir.

― Mesmo grávida. É um pouco cansativo, mas não consigo ficar parada por muito tempo. E eu realmente gosto de desenhar e produzir os meus próprios vestidos. ― Elas assentiram maravilhadas.

― Inclusive esse aqui, oh, foi ela que fez! E vê se minhas curvas não ficaram bem proporcionais no vestido! ― E essa era minha amiga, Agnes, chegando com o seu vestido agora vermelho. Os cachos estavam soltos com um lenço jogado displicente no cabelo. Na certa, ela tinha se cansado de deixá-los dentro do hijab.

― É verdade!

― É mesmo! ― Elas concordaram com Agnes que passou a falar dos últimos modelitos que eu havia feito e que ela tinha em seu guarda roupa.

Rapidamente, os convites e pedidos por um vestido feito pela própria princesa começaram a crescer em quantidade assustadora. Agnes me sugeriu que abrisse uma grife agora como Princesa para essas madames que pediam um vestido feito por mim. E que eu fizesse em caráter especial, com preço especiais também, podendo ser um incentivo para ajudar a Casa. Eram tantas ideias que chegavam e eu estava tão feliz, exultante com as novas opções que se abriam, mesmo nessa nova vida, que demorei para perceber que Karim havia chegado na rodinha feminina, fazendo uma mesura polida e perguntando:

― Será que eu poderia levar a princesa rapidinho, senhoras? ― E elas concordaram com sorrisos congelados no rosto, porque, afinal, a beleza de Karim era inegável e, naquele terno branco em particular, ele estava magnífico.

― Sim. Sim.

E Karim estendeu a mão para mim que a peguei quase imediatamente me deixando ser guiada para longe por ele.

Fomos andando calmamente de braços dados até o jardim mais afastado do castelo. Era um labirinto de rosas vermelhas e ele me guiou até o centro onde havia um banco próximo a um chafariz. Nos sentamos um pouco para descansar do calor que estava fazendo naquele dia e aproveitamos para olhar o pôr do sol vindo. Era uma beleza espetacular.

― E ainda faltam três dias.

― E ainda faltam três dias. ― Concordei com Karim apertando as bochechas por dentro da boca, com os dentes, para não rir. Karim aproveitou para levantar bastante o rosto de forma que seus olhos recebiam quase que diretamente o brilho do sol, batendo em seus olhos esverdeados e brilhando ainda mais. A sua pele, levemente bronzeada, também recebia os raios solares convidativos, inquerindo-as do quanto mais beijariam sua pele majestosa.

Por alguns segundos, me lembrei do tempo que estávamos na ilha. Parecia que já fazia tanto tempo e ainda não havia feito nem quatro meses direito. Foi sentindo as bochechas corarem que lembrei do suor caindo da sua pele, do seu cabelo bagunçado e até da barba que crescia lentamente na face, dia após dia.

― Uma moeda pelos seus pensamentos.

― Não! ― Respondi enfática até demais, sorrindo e evidenciando que o que eu pensava era de certo modo escandaloso.

― Ah, não… Não vai me dizer porque estava sorrindo tanto enquanto me olhava? ― Neguei com a cabeça fazendo Karim revirar os olhos.

― Deixa eu adivinhar então.

― Vai em frente. ― Segurei o sorriso que instintivamente vinha à tona quando eu estava com Karim. Ele concordou enquanto pensava um pouco.

― Estava pensando em nós.

― Quase. Digamos que sim.

― Na ilha? ― Arregalei os olhos.

― Como sabia? ― Ele gargalhou.

― Foi só um chute, mas você bem que é um livro aberto, querida esposa. ― Corei sentindo calor tomar conta não só da face.

― É você o culpado pelos meus pensamentos impróprios! ― Ele riu ainda mais.

― Oh, então eu desperto pensamentos impróprios em você, hubb? ― A voz de Karim era sexy e a sobrancelha levemente arqueada indicava que ele estava quase que tirando com a minha cara. Era tarde demais para fugir daquela conversa?

― O bebê! ― Tentei apelar.

― O que tem? ― Karim realmente estava confuso porque eu metia o bebê na história. Agora parecia preocupado se o bebê estava realmente bem. Tentei emendar:

― Você não pode ficar falando besteiras! O bebê vai ouvir tudo! ― Karim sorriu de lado ao perceber onde eu queria chegar. Para minha surpresa, ele se aproximou ainda mais de mim no banco e levantou a mão lentamente. Seu indicador roçou na minha pele apenas para tirar uma mecha de cabelo que caía próximo do olho, mas foi o suficiente para gerar uma onda de eletricidade e formigamento dos quais eu não tinha nenhum controle.

― Mas quem começou a falar e pensar besteiras foi você, esposa. Eu só estou aproveitando para beijar a mãe do meu filho. Ele vai se opor a isso? ― E a voz de Karim estava mais rouca quando a ponta do seu polegar continuou deslizando pelo meu rosto até encontra o meu lábio inferior. Eu quase arfei nesse meio segundo, mas por alguma razão, o ar decidiu que ficar preso dentro do meu pulmão já era mais do que suficiente para me fazer morrer com Karim tão perto.

― V-vai. ― E eu falhei em tentar convencê-lo de qualquer coisa.

― Mas é uma pena… Ele vai roubar muito a mamãe do papai, então o papai não vai se importar no momento com a oposição do nenê enquanto o bebê ainda não consegue ver o que o papai quer fazer com a mamãe. ― E sem sequer dar opções de que eu refletisse mais sobre sua frase ou qualquer coisa do tipo, tive meus lábios esmagados pelos lábios de Karim, sorridentes entre os meus, enquanto a mão que antes passeava pelo meu rosto, apertava a minha nuca me puxando ainda mais para perto dele.

A outra mão dele veio parar na minha cintura e meus braços enroscaram no pescoço de Karim enquanto nosso beijo continuava. Sabíamos que não podíamos continuar por muito tempo, afinal, logo algum convidado poderia ver a nossa loucura em público, mas eles que entendessem. Os meus hormônios não estavam lá ajudando muito e eu e Karim ainda teríamos que ficar sem nos tocar por torturantes e longos três dias.

O decoro poderia esperar só um pouquinho.

E foi com esse pensamento em mente que mesmo beijando Karim, eu consegui sorrir.

*

O último dia de festa havia chegado e era quase que com uma alegria imensa que eu e Karim percebíamos isso e suspirávamos de alegria. Eu queria logo que o último dia terminasse, que pudéssemos seguir para a outra residência da família real e que nos livrássemos de tanta gente querendo atenção, querendo mais uma foto e, claro, das poucas horas de sono dormidas.

Se naqueles cinco dias eu tivesse dormido mais de 24 horas, era mentira. As horas de sono andavam variando entre três e quatro e quase sempre intervaladas. Quando Karim estava descansando, eu estava acordada, quando ele estava acordado, eu estava descansando. Era tão angustiante e o casamento já parecia tão sem fim que eu comecei a ficar, já no último dia, bem irritada. Ao menos, conseguia dar a desculpa de que a culpa era do bebê, que estava me deixando ansiosa e levemente irritada, o que acabava dando certo e as pessoas acabavam compreendendo até que bem.

― Vamos, está acabando já. ― Disse Karim enquanto esperava que o empregado que traria o carro chegasse. Já estávamos nos despedindo dos amigos e entraríamos no carro. Aparentemente, as nossas malas já tinham sido colocadas no porta-malas.

Finalmente, o carro adentrou o perímetro do palácio. Ouvimos mais fogos, mais gritos de viva e sorrimos enquanto éramos recepcionados por fim com confetes de arroz enquanto Karim abria a porta do carro e me auxiliava a entrar. Quando ele entrou e fechou a porta, podemos finalmente respirar fundo e sorrir. Estávamos finalmente livres depois de tantas coisas que havíamos passados juntos.

― Rumo a nossa lua de mel. ― Disse Karim piscando para mim.

― Rumo a nossa lua de mel, meu querido esposo. ― Disse sorrindo ainda mais para ele.

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