Leonardo
O relógio do escritório marcava quase onze da noite, mas o sono estava longe de me alcançar. O brilho frio da tela do computador iluminava meu rosto, refletindo as inúmeras pastas abertas, os relatórios escaneados e os documentos espalhados pela mesa. Minhas mãos estavam cerradas em punhos, os nós dos dedos esbranquiçados pela força da minha tensão.
Amber era teimosa. Sempre foi. Mas hoje, depois da briga que tivemos, eu percebia que isso não era apenas insistência ou orgulho. Era um impulso emocional que a fazia querer cavar um passado que talvez devesse permanecer enterrado. E isso me deixava em alerta.
Uria Bayer tinha aparecido na nossa vida como um fantasma, um espectro que não deveria existir, e o pior de tudo era que Amber queria acreditar nela. Queria acreditar que, depois de décadas, essa mulher havia reaparecido por amor. Eu não podia deixar isso acontecer.
Pressionei o botão do telefone no viva-voz, ouvindo a chamada sendo direcionada diretamente para Hobbins. Ele atendeu no terceiro toque.
"Conseguiu algo?" Minha voz soou mais ríspida do que pretendia.
"Sim e não", Hobbins respondeu do outro lado da linha. Seu tom era profissional, mas carregado de algo mais… incerteza.
"Explica isso direito", exigi, cerrando a mandíbula.
"Consegui levantar informações até os vinte anos de Uria Bayer. Depois disso, ela praticamente desaparece do mapa."
Pisquei algumas vezes, absorvendo as palavras.
"Desapareceu como? O que quer dizer com isso?"
"Quero dizer exatamente isso. Não há histórico financeiro, nenhum endereço fixo, nenhuma atividade registrada oficialmente. É como se ela tivesse realmente morrido, só que sem atestado de óbito."
Um silêncio pesado preencheu o escritório. Magnus, sentado no sofá à minha frente, endireitou-se, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto me observava atentamente.
"Isso só aconteceria se ela tivesse saído do país", ele murmurou, balançando a cabeça. "Mas..."
"Ela teria que ter um passaporte e os cartões ainda estaria em funcionamento." Hobbins falou. "Verifiquei isso também, e não existe nenhuma saída dela do país através de meios convencionais."
"O que quer dizer? Que ela foi traficada?" questionei tenso. "Ela era nova em seus últimos registros."
"Não só nova," Hobbins continuou: "há alguns rastros que consegui seguir. E nada disso j**a a favor dela. Pelos registros que encontrei, ela pulou entre casas de bordel, trabalhou como acompanhante de luxo e passou por diversas cidades, sempre sem deixar vestígios. Depois de um tempo, ela começou a usar nomes diferentes. Algumas identidades descartáveis que não duraram muito tempo."
Uma sensação gelada percorreu minha espinha.
"Então você está me dizendo que essa mulher, que aparece agora se dizendo mãe de Amber, passou a vida inteira trocando de nome, pulando entre bordéis e não tem nenhuma conexão confiável em sua história?"
"Exato", Hobbins confirmou. "Se ela realmente passou todos esses anos procurando por Amber, não há qualquer evidência disso. Nenhuma tentativa oficial, nenhuma movimentação que sugira que ela tenha feito esforços reais para encontrá-la. O registro é que ela deu à luz a Amber, aos 14 anos, depois disso a situação ficou bem complicada."

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