Amber
A sala estava mergulhada num silêncio sufocante, quebrado apenas pelo som monótono da televisão. As imagens que passavam na tela pareciam zombar de mim, uma realidade que eu queria esquecer, mas que insistia em me encarar de frente. As manchetes rodavam em um ciclo infinito: “Leonardo Martinucci apresenta sua defesa”, “O CEO mantém postura impecável durante coletiva”.
Deixei escapar um suspiro pesado, os olhos queimando enquanto o nó na garganta apertava. Caminhei até o controle remoto, que estava jogado no chão. Minhas mãos tremiam enquanto tentava juntar os pedaços do controle. Uma pilha aqui, outra ali, tentando fazer funcionar o que Leonardo tinha quebrado em sua fúria.
"Vamos, funciona," murmurei, apertando os botões que ainda restavam.
A cada canal, a mesma história: "Reviravolta no caso de Peter Calton", "CEO revela verdade sobre desaparecimento". Os comentaristas não paravam de elogiar.
"Diferente das acusações anteriores, que pareciam motivadas por emoção," dizia um especialista na TV, "o CEO da MGroup apresentou uma postura profissional, aguardando o parecer da justiça."
"O que eu tinha feito?" chorei apertando minha cabeça com raiva, me sentindo ridícula.
Então meus olhos encontraram as manchas de sangue na parede, e meu estômago revirou. Ele tinha se machucado, mas em nenhum momento... mesmo furioso... ele não me machucou.
"Como fui burra..." as lágrimas começaram a cair. "Como pude ser tão..."
Corri até o banheiro procurando uma forma de amenizar aquela situação tanto em meu peito quanto na visão das crianças. Encontrei uma esponja e o baldinho amarelo de patinhos que Louis usava na banheira, em seguida procurei algo que servisse como sabão.
"Shampoo," falei analisando a embalagem. "Vai ter que servir." Enxi o balde com água e voltei para a sala.
De joelhos, esfregava freneticamente a parede, já tendo tirado os poucos respingos no chão, porém o papel de parede parecia ter absorvido o sangue e por mais que eu tentasse ela não saia, até que um pequeno lado se rompeu.
"Ah não..não não não." busquei uma toalha para secar e tentar consertar, mas parecia que só piorava a situação. Eu estava desesperada para tentar arrumar aquela situação, quando ouvi as vozes alegres se aproximando.
"Mamãe!" Louis entrou correndo. "Por que você tá no chão?"
"Tem sangue na parede!" Bella apontou assustada.
"Senhora Bayer," Samia, uma das babás, se aproximou preocupada. "O que aconteceu? Deixe-nos ajudar..."
"Não foi nada," forcei um sorriso. "O tio Leo tropeçou e se cortou um pouquinho. Estava tentando limpar, mas acho que acabei piorando ainda mais a situação."
"Me deixe terminar, senhora..."
"Eu..." minha voz falhou. "Eu estou tentando consertar." falei olhando para o estrago no papel de parede.
"Vou chamar alguém da manutenção." ela me falou e percebi que as crianças estavam encarando o balde de água suja. Me levantei, tentando esconder deles o que eu estava sentindo naquele momento e peguei o balde, indo para o banheiro, ali joguei a água rosada na pia, evitando olhar meu reflexo. Não queria ver a pessoa que tinha sido capaz de...
Lavei as mãos e voltei para a sala, vendo os dois ainda encarando aquele pedaço de papel rasgado.
"Senhora?" Aretah voltou discretamente. "Vou pedir o almoço das crianças. Quer que peça seu também?"
"Não, obrigada." Meu estômago ainda estava embrulhado. "Não estou com fome."
O som do elevador fez meus músculos tensionarem. Leonardo entrou, parando ao nos ver abraçados. Seus olhos ainda carregavam a tempestade de antes, mas algo mais suave também estava lá.
"Tio Leo!" Bella pulou do sofá. "Cadê seu dodói?"
Ele franziu a testa, confuso.
"A mamãe tava limpando seu sangue da parede," Louis explicou. "Ela disse que você caiu."
O olhar que Leonardo me lançou fez meu coração apertar. Surpresa, compreensão e algo mais que não consegui identificar.
"Foi só um arranhão, piccola," ele disse suavemente, mas seus olhos não deixavam os meus.
"Deixa eu ver," ela segurou sua mão que agora eu percebia que estava com um curativo. "Vou ser sua médica, pincipe. Você tem que descansa." ela segurou sua outra mão e saiu o puxando, o fazendo se sentar ao meu lado.
O silêncio que seguiu pesava uma tonelada, carregado de palavras não ditas e arrependimentos de ambos os lados.

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