Lorenzo Bianchi
O dia de voltar para Nova Iorque estava se aproximando.
Estava tudo pronto — a passagem comprada, as malas parcialmente feitas, minha vida esperando por mim do outro lado do oceano, intacta. Mas eu não conseguia sair daqui. Não sem vê-la de novo.
Não sem tentar, ao menos mais uma vez.
Desde aquela noite, não trocamos mais do que silêncios. Eu sabia que ela precisava de tempo. E, pela primeira vez na vida, entendi que amar alguém também era saber esperar, mesmo que isso doesse. Mesmo que a vontade de invadir o espaço dela e dizer que ela ainda era minha — mesmo que por pouco, mesmo que por lembrança — gritasse dentro de mim como um impulso impossível de conter.
Mas eu me contive. Porque eu fui o culpado.
Hoje, decidi andar até o lago. Precisava clarear a mente. A manhã estava nublada, úmida, e o cheiro de terra molhada me trouxe lembranças da infância, da Itália, da vida antes de tudo se complicar. As árvores balançavam levemente, como se o mundo sussurrasse uma promessa de paz.
E então eu a vi.
Aurora.
Sentada na beirada do lago, os pés tocando a água, os cabelos soltos caindo pelas costas como uma cortina de fogo sob a luz cinza. Sozinha, como uma pintura que não se deixa entender à primeira vista.
O coração acelerou. O mundo pareceu se reorganizar em torno dela.
Ela não me viu de imediato, então dei alguns passos com calma, como se não quisesse espantar o instante — ou talvez como se estivesse invadindo um lugar sagrado.
— Aurora. — chamei, baixo.
Ela virou o rosto devagar. Os olhos me encontraram com uma mistura de surpresa e serenidade.
— Achei que já tivesse ido. — disse.
— Ainda não. Não consegui.
Ela não respondeu, apenas voltou a olhar o lago, os dedos desenhando círculos na superfície. Me aproximei mais e me sentei ao lado dela, sem tocar, sem pressa. O silêncio entre nós não era mais incômodo — era denso, cheio de significados que não precisavam ser ditos.
— Você costumava vir aqui quando precisava respirar, lembra? — murmurei.
Ela assentiu, um sorriso pequeno escapando nos lábios.
— E você odiava lugares úmidos.
— Ainda odeio. Mas agora, parece… suportável.
Ela riu, baixinho. Meu peito se apertou. Que saudade daquele som.
Fiquei olhando seu perfil. O jeito como o vento bagunçava os cabelos. O modo como seus ombros carregavam um fardo invisível. E então, sem pensar, deixei minha mão tocar a dela, devagar. Ela não recuou.
— Eu não vim aqui pedir nada. — sussurrei. — Só queria lembrar você de como a gente era… quando não havia dor.
Ela virou o rosto pra mim, os olhos brilhando com algo que não era tristeza — nem certeza.
— Você me bagunça, Lorenzo. — disse, com a voz embargada. — E ao mesmo tempo… é quando estou com você que sinto que posso me encontrar.
Eu me aproximei mais. Os narizes quase se tocando.
— Então se perca em mim agora. Só por um instante. Me deixa entrar na sua vida novamente.
Nossos lábios se encontraram. Devagar, como se nossas bocas se reconhecessem depois de anos em silêncio. Não foi um beijo apressado, não foi possessivo. Foi profundo. Quente. Sentido.
O mundo inteiro desapareceu.
O gosto dela — um misto de saudade e entrega — me invadiu como uma febre boa. A respiração dela se acelerou, os dedos se entrelaçaram nos meus. Senti seu corpo se aproximar mais, até que não houvesse espaço entre nós.
Ela se abriu pra mim como nunca antes. Não no físico, mas no sentir.
E eu soube, naquele instante, que ela nunca tinha sido beijada assim.
Não daquele jeito.
Com desejo e reverência.
Um instante antes entregue, agora hesitava.
Afastei-me um pouco, os olhos buscando os dela. E ela me olhou com algo entre carinho e vulnerabilidade.
— Lorenzo… — disse, baixo, quase como um pedido. — Eu… não quero assim.
— Assim como? — perguntei, minha mão ainda repousando em sua cintura, mas sem insistência.
Ela respirou fundo.
— Não quero que minha primeira vez seja assim. Aqui, agora… mesmo com você.
Fiquei em silêncio. O coração ainda acelerado, o desejo ainda pulsando, mas algo mais forte crescia dentro de mim: o respeito.
Ajeitei uma mecha do cabelo dela atrás da orelha e deslizei minha mão até seu rosto.
— Aurora, eu nunca quis você só por desejo.
Ela assentiu, os olhos marejados.
— Eu sei. Mas… eu quero lembrar da primeira vez como algo mais do que um impulso.
Beijei sua testa, demorado. Depois me deitei ao lado dela, puxando-a para meus braços, com o corpo dela encaixado no meu.
— Então vou esperar. O tempo que for.
Ela sorriu contra meu peito.
— Isso não é um adeus? Você não vai me achar boba por não me entregar a você?
— Não — respondi, fechando os olhos enquanto sentia seu coração bater. — Isso é só… o começo certo. E desse vez quero fazer tudo certo. Vou falar com o tio Matheu e com a tia Isa e pedir para namorar com você, provavelmente saia da sua casa com um olho roxo mas vai valer a pena.
Ela sorri, seu sorriso completo como há muito tempo não via. E, de alguma forma, deitado ali com ela, sem pressa, sem pressões, eu soube que havia algo mais forte crescendo entre nós. Algo que, diferente do desejo, resistia até mesmo ao tempo.

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