Heloisa Moura
A estrada à minha frente parece infinita. Cada metro percorrido é uma despedida silenciosa daquilo que nunca deveria ter começado. O carro avança devagar pelo caminho de terra que leva à saída da propriedade, e eu mantenho o olhar fixo na janela, me recusando a olhar para trás.
Minha mente repete a cena de minutos atrás como um disco quebrado. O olhar de Vittorio quando pedi uma resposta que ele não pôde me dar. O silêncio sufocante que se seguiu. O vazio no peito quando percebi que eu estava me segurando a algo que nunca existiu de verdade.
Minha mala está jogada ao meu lado no banco. Poucos pertences, apenas o suficiente para voltar para casa. Para longe dele. Para longe do desejo que me consumia e da culpa que me sufocava.
— Senhorita, tem certeza de que deseja ir direto para o aeroporto? — o motorista perguntou educadamente, seus olhos atentos pelo retrovisor.
Minha voz sai firme, mesmo que minhas mãos estejam trêmulas.
— Sim, direto para o aeroporto.
O homem assente e volta a se concentrar na estrada.
Fecho os olhos, tentando afastar o peso esmagador no meu peito. Isso é o certo. Eu preciso ir embora.
Mas então… O som de um motor furioso corta o silêncio que estava.
Meu coração salta no peito quando vejo pelo retrovisor outro carro acelerando pela estrada atrás de nós. Preto, elegante, imponente.
Meu corpo reconhece antes mesmo que minha mente processe. Vittorio….
— Pare o carro. — Minha voz sai baixa, hesitante.
O motorista me olha, confuso.
— Senhorita?
— Pare o carro!
Ele obedeceu no mesmo instante, puxando o veículo para o acostamento. Antes mesmo de eu ter tempo de respirar, o carro de Vittorio freia bruscamente ao nosso lado. A porta se abre e, em segundos, ele está ali.
Lindo. E Irritado.
— O que você pensa que está fazendo? — Sua voz sai ríspida, o maxilar travado, os olhos faiscando.
Engulo em seco, me obrigando a sustentar seu olhar.
— Indo embora.
Ele passa a mão pelos cabelos, visivelmente frustrado.
— Você não pode simplesmente ir assim, Heloisa!
Solto uma risada amarga.
— Posso. E estou indo.
Ele dá um passo à frente, diminuindo a distância entre nós.
— Você quer mesmo fazer isso? Quer me deixar sem nem olhar para trás?
Minha garganta aperta. Ele está tão perto que posso sentir seu perfume, tão familiar, tão perigoso.
— Você não soube me dar uma resposta, Vittorio. — Minha voz treme, mas não desvia do que precisa ser dito. — E eu não posso ficar esperando por algo que talvez nunca venha.
Seu olhar vacila, por um instante apenas. Mas eu vejo. E nesse momento, eu sei.
— Se essa foi sua escolha, então espero que tenha sido por um bom motivo.
Acho que ele queria perguntar mais, mas decide não pressionar. Só que a verdade é que eu não sei se foi uma escolha. Ou uma fuga.
Me afundo na rotina da casa, tentando esquecer. Mas as noites são silenciosas demais sem o som dos vinhedos ao longe. O vinho na mesa do jantar não tem o mesmo gosto. E, acima de tudo, não importa o quanto eu tente… O nome dele ainda ecoa na minha mente.
Os dias passam arrastados. A casa dos meus pais, que antes era meu refúgio, agora parece apertada, como se cada parede estivesse se fechando ao meu redor. Meus pais tentam agir normalmente, mas percebo os olhares furtivos, as perguntas não feitas. Eles sabem que algo aconteceu. Mas eu não estou pronta para contar. Talvez porque admitir para eles signifique admitir para mim mesma.
À noite, o silêncio se torna insuportável. Eu me reviro na cama, mas o sono não vem. Me levanto, descalça, e caminho até a varanda do meu quarto. A cidade está adormecida, mas minha mente não se cala. O vento frio passa pelos meus braços nus, e eu fecho os olhos, tentando afastar a lembrança do calor daquelas mãos. Do toque dele.
Eu deveria parar de pensar em Vittorio. Eu deveria, mas não consigo.
Meus dedos deslizam automaticamente até meu celular sobre a mesa. A tela acende, e a última mensagem que recebi dele ainda está ali, intacta, não lida.
Heloísa, me liga. Por favor.
A respiração sai pesada. Eu deveria apagar. Mas tudo que faço é encarar aquelas palavras, sentindo meu peito se apertar.
O que ele diria se eu atendesse? Se eu ligasse agora, no meio da madrugada, ele ainda estaria acordado? Ainda estaria pensando em mim?
Fecho os olhos e aperto o celular contra o peito, como se isso pudesse silenciar as perguntas. Mas não posso me dar esse luxo. Escolhi ir embora. Escolhi não olhar para trás. E preciso sustentar essa decisão.
Respirando fundo, apago a tela do celular e o deixo sobre a mesa. Amanhã será um novo dia. Amanhã, tentarei esquecer um pouco mais.
Mas, no fundo, eu sei.
Não importa quantos dias passem.
Esquecer Vittorio nunca será uma opção.

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