Vittorio Bianchi
O céu da Itália desapareceu pela janela do avião, mas a sensação de que estou deixando algo inacabado me acompanha.
Heloisa foi embora. E, com ela, levou algo que não consigo nomear, mas que pesa no peito a cada dia que passa.
Eu tentei ignorar. Mergulhei no trabalho, tentei afogar a confusão em taças de vinho perfeitamente envelhecido, mas nada funcionou. A vinícola sem ela parece… vazia.
Talvez por isso eu esteja aqui, a caminho da casa dela. Assim que chego à casa dos Mouras, Hugo me recebe com um sorriso surpreso.
— Ora, ora! O que um italiano perdido está fazendo nos EUA?
Solto um suspiro, dando de ombros.
— Precisava sair um pouco da Itália. A vinícola anda bem, mas... tudo lá me lembra uma garota. E é complicado.
Hugo solta uma risada, me dando um tapa no ombro.
— Ah, então é isso! Não sabia que você estava apaixonado, Bianchi. Mas entendo, às vezes um novo ambiente ajuda a clarear a mente.
Assinto, forçando um sorriso. Ele comprou a desculpa. Mas a verdade? Eu não saí da Itália para esquecer Heloisa. Eu vim para onde ela está. E agora, só me resta descobrir o que diabos vou fazer com isso…..
Estou na casa dos Monteiro há dois dias. Dois dias fingindo que essa viagem tem outro propósito. Dois dias ouvindo Hugo falar sobre negócios, sobre a vinícola nos EUA, sobre oportunidades que eu deveria aproveitar. Mas nada disso importa.
A única coisa que importa esta dentro de casa…Heloisa.
Ela tem evitado a minha presença desde o momento em que cheguei. Nos poucos momentos em que nos encontramos, sua expressão é fechada, a postura rígida, como se minha presença aqui fosse uma provocação.
Talvez seja.
Talvez eu tenha vindo até aqui apenas para vê-la reagir, para descobrir se, em algum lugar por trás daquela máscara indiferente, ainda existe a mesma garota que me olhava como se quisesse devorar cada pedaço de mim.
— E então, Vittorio? — A voz de Hugo me puxa de volta à conversa. Ele gesticula com a taça de vinho na mão. — O que acha da proposta?
Droga. Proposta? Do que ele está falando mesmo?
— Parece interessante — murmuro, sem realmente saber sobre o que estou concordando.
Hugo sorri, satisfeito. Mas minha atenção está em outro lugar. Na figura delicada que acaba de atravessar o jardim, em direção à piscina. Heloisa. Vestida com um vestido branco simples, os cabelos soltos, descalça. Linda.
— Com licença — digo rapidamente, me levantando antes que possa mudar de ideia.
Sigo na direção dela sem saber ao certo o que vou dizer. Só sei que não posso continuar nesse jogo silencioso.
— Você pretende me ignorar até quando? — Minha voz sai mais rouca do que eu gostaria.
Ela para, mas não se vira.
— Não estou te ignorando. Só estou respeitando sua decisão.
— Minha decisão?
Heloísa se vira devagar. Seu olhar está firme, mas há algo mais ali. Algo que ela tenta esconder.
— Você não quis me responder quando eu perguntei o que eu era para você. Então eu entendi a resposta.
Engulo em seco.
— Não era tão simples assim.
— Mas eu precisava que fosse — ela rebate, cruzando os braços. — Eu precisei me afastar, Vittorio. Precisei lembrar quem eu sou sem você.
Minha mandíbula se contrai. Odeio admitir, mas entendo o que ela quer dizer. Dou um passo à frente, diminuindo a distância entre nós.
— E já descobriu?
Ela me encara, e por um momento, acho que vai me mandar embora. Mas então, seus olhos deslizam pelos meus, sua respiração vacila, e vejo. Vejo que, apesar de tudo, ainda há algo aqui.
— Ainda estou tentando — ela admite, quase num sussurro.
Me aproximo mais, meu corpo quase tocando o dela.
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