Quando Lua abriu os olhos, o teto familiar do quarto a recebeu com uma calma estranha. O coração dela disparou imediatamente, lembrando do que havia acontecido na noite anterior, o frio na espinha veio junto, acompanhado da lembrança do rugido, da transformação, dos olhos vermelhos e... do abraço.
Ela se ergueu de súbito, mas logo sentiu a cabeça pesar e o mundo girar ao seu redor, voltando a cair no travesseiro. Do lado dela, sentada numa cadeira e quase cochilando, Amber pulou de susto com o movimento.
— Lua! — exclamou, inclinando-se para perto, os olhos claros cheios de alívio. — Graças à deusa, você acordou.
Lua piscou algumas vezes, a garganta seca.
— Onde... onde está ele? — murmurou, a voz rouca. — Onde está o meu monstrinho?
Amber congelou por um segundo, franzindo a testa, sem entender nada.
— Monstrinho? — repetiu confusa. — Lua, você estava sozinha na mata, seu pai te achou sozinha numa clareira, não tinha ninguém com você. Eu tava tão assustada, achei que ele tinha te atacado…
Lua arregalou os olhos, passando a mão nos cabelos brancos. Será que tudo tinha sido um sonho? Uma visão ou algo assim?
— Isso não… Não pode ser... eu lembro dele. Ele estava lá, me segurando... com cuidado. Ele não me machucou, Amber, eu juro!
Amber balançou a cabeça, negando com firmeza.
— Não, Lua. Você desmaiou e ponto. O que você acha que viu deve ter sido coisa da sua cabeça, não pode ter sido real, meu irmão é selvagem… Se ele encontrasse você… Talvez fizesse o mesmo que fez com minha mãe.
— Sabe que não é culpa dele, não sabe? — ela perguntou, mas Amber não respondeu, virando o rosto para o lado, o olhar magoado.
A jovem mordeu o lábio inferior, frustrada, o olhar dela se perdeu no teto por um instante, mas o coração insistia em doer pelo monstrinho, seu monstro, sua fera, mesmo que a amiga não quisesse acreditar que ele tinha salvação, que podia ser bom.
Antes que pudesse insistir, a porta do quarto se abriu e Lyra entrou, seguida de River. O olhar dos dois era de pura preocupação.
— Filha — Lyra correu até ela, segurando sua mão com ternura. — Como você está se sentindo?
— Eu estou bem, mamãe — respondeu Lua, tentando sorrir para tranquilizá-los. — Só cansada.
Mas o alívio não apareceu nos rostos deles.
River suspirou pesadamente, aproximando-se da cama com o rosto sério, e a tensão que trazia nos ombros parecia se espalhar pelo ar.
— Lua, precisamos conversar — disse ele, a voz grave e baixa.
Ela assentiu devagar, preparando-se para a bronca que certamente viria.
— Ontem... Sua transformação — começou River, passando a mão pelo cabelo. — Não foi qualquer transformação, querida.
Um sorriso pequeno escapou dos lábios dela.
— Pai, eu finalmente tenho uma loba, não é incrível?
Mas a reação dele não foi a que esperava, River balançou a cabeça, preocupado.
— É muito mais do que isso, Lua. Você precisa manter esse segredo, ninguém, absolutamente ninguém fora da nossa alcateia pode saber o que aconteceu ontem. É perigoso demais.
Lua arregalou os olhos.
— Segredo? Mas por quê? Eu não entendo, esperei tanto tempo por isso e agora o senhor está me dizendo que tenho que esconder?
— Uma das criaturas mais raras e cobiçadas que existem. Muitos fariam qualquer coisa para ter você ao lado deles e é por isso que o segredo é vital. Se alguém de fora souber... você corre perigo. Se é que já não sabem.
O coração dela acelerou, as mãos suando frio.
— Eu não quero isso... eu só queria ser normal, como todos os lobos!
Lyra se inclinou, acariciando os cabelos brancos da filha.
— Você não precisa ter medo, meu amor. — A voz dela era doce, mas determinada. — Nós vamos proteger você.
— Sempre — completou River, apertando o ombro dela. — Eu não vou deixar ninguém encostar um dedo em você, Lua.
Amber, que até então estava calada, apertou a mão da amiga.
— E eu também, ninguém vai te machucar, amiga.
Lua olhou para os três, sentindo o peito apertar, o medo ainda estava lá, mas a sensação de estar cercada de amor a fez respirar mais fundo.
— Então eu vou manter segredo — murmurou, a voz embargada. — Juro.
River a puxou para um abraço forte, quase esmagador.
— Você é minha filha, nada vai mudar isso.
Naquele instante, mesmo com a escuridão do destino pairando sobre eles, Lua sentiu que não estava sozinha.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...