— Não!
A palavra rasgou a garganta de Lua dolorosamente e ela ergueu o corpo de uma vez, os olhos arregalados, o peito arfando como se tivesse acabado de emergir de um mergulho fundo demais. O teto branco do hospital da alcateia estava acima de sua cabeça; o cheiro de ervas, álcool e fumaça de incenso lhe invadiu os pulmões. Por um instante, Lua não viu paredes, nem janelas, nem as cortinas claras movendo-se com a brisa, só cinzas, fogo e um lobo cinzento parado sobre um mar de sangue.
— Filha! — a voz de Lyra chegou antes do toque e, num segundo, a Luna estava com as mãos no rosto da filha, os olhos prateados assustados focados na menina. — Tá tudo bem, meu amor, mamãe tá aqui...
— Lua. — River inclinou-se do outro lado, grande demais para aquela cadeira de madeira, mas encolhido nela como se pudesse esconder a própria força para não assustá-la. Os olhos vermelhos dele estavam escuros, contidos, mas queimavam com a mesma intensidade de sempre. — Respira comigo, isso, mais uma vez. Estamos aqui, você está segura, meu amor.
Lua inspirou, trêmula, sentiu o cheiro do pai, madeira, chuva, o ferro distante de sangue seco, e o cheiro de sua mãe, flores, terra molhada, cheiro de casa. Aos poucos, as paredes voltaram para o lugar, a sensação dos lençóis macios em sua pele, as mãos quentes de seus pais sobre si, segurando-a no presente, não naquele futuro assustador.
Lua só percebeu que chorava quando a voz falhou:
— Eu… eu vi…
Lyra a puxou para um abraço e Lua se agarrou nela, como quando era criança e as sombras no corredor pareciam monstros. Só que, agora, as sombras tinham nome e olhos crueis, tinham um rosto e era o rosto de Atlas. Agora os pesadelos não eram só pesadelos, eram visões, eram o futuro.
— O que você viu? — perguntou River, baixo, não era uma pergunta de quem queria satisfazer curiosidade; era o comando gentil de um alfa que precisa de cada peça para montar a defesa.
Lua sacudiu a cabeça, não queria falar, não queria lembrar, se dissesse em voz alta, ficaria mais real. Era um pensamento bobo, ela sabia, oráculos não domavam o futuro silenciando-o, mas a superstição grudou nela como frio na pele.
— Não — sussurrou, o coração descompassado. — Não quero… não consigo, pai…
River não aumentou o tom, nem deixou a expressão endurecer, apenas colocou a mão grande sobre a dela. O calor dele atravessou a pele e chegou ao coração da loba com um carinho que ela sempre reconhecia, o amor de um pai, a proteção de um alfa..
— Filha, eu preciso que você me conte — disse, firme, mas doce. — Eu prometo: cada palavra que sair da sua boca é uma arma a mais na minha mão. A gente só luta direito quando enxerga o campo.
Lyra assentiu, encostando a testa na da filha.
— Você não tá sozinha nisso, meu amor.
Lua fechou os olhos e, quando falou, a voz saiu tão baixa que parecia um sussurro:
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