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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 105

— Não!

A palavra rasgou a garganta de Lua dolorosamente e ela ergueu o corpo de uma vez, os olhos arregalados, o peito arfando como se tivesse acabado de emergir de um mergulho fundo demais. O teto branco do hospital da alcateia estava acima de sua cabeça; o cheiro de ervas, álcool e fumaça de incenso lhe invadiu os pulmões. Por um instante, Lua não viu paredes, nem janelas, nem as cortinas claras movendo-se com a brisa, só cinzas, fogo e um lobo cinzento parado sobre um mar de sangue.

— Filha! — a voz de Lyra chegou antes do toque e, num segundo, a Luna estava com as mãos no rosto da filha, os olhos prateados assustados focados na menina. — Tá tudo bem, meu amor, mamãe tá aqui...

— Lua. — River inclinou-se do outro lado, grande demais para aquela cadeira de madeira, mas encolhido nela como se pudesse esconder a própria força para não assustá-la. Os olhos vermelhos dele estavam escuros, contidos, mas queimavam com a mesma intensidade de sempre. — Respira comigo, isso, mais uma vez. Estamos aqui, você está segura, meu amor.

Lua inspirou, trêmula, sentiu o cheiro do pai, madeira, chuva, o ferro distante de sangue seco, e o cheiro de sua mãe, flores, terra molhada, cheiro de casa. Aos poucos, as paredes voltaram para o lugar, a sensação dos lençóis macios em sua pele, as mãos quentes de seus pais sobre si, segurando-a no presente, não naquele futuro assustador.

Lua só percebeu que chorava quando a voz falhou:

— Eu… eu vi…

Lyra a puxou para um abraço e Lua se agarrou nela, como quando era criança e as sombras no corredor pareciam monstros. Só que, agora, as sombras tinham nome e olhos crueis, tinham um rosto e era o rosto de Atlas. Agora os pesadelos não eram só pesadelos, eram visões, eram o futuro.

— O que você viu? — perguntou River, baixo, não era uma pergunta de quem queria satisfazer curiosidade; era o comando gentil de um alfa que precisa de cada peça para montar a defesa.

Lua sacudiu a cabeça, não queria falar, não queria lembrar, se dissesse em voz alta, ficaria mais real. Era um pensamento bobo, ela sabia, oráculos não domavam o futuro silenciando-o, mas a superstição grudou nela como frio na pele.

— Não — sussurrou, o coração descompassado. — Não quero… não consigo, pai…

River não aumentou o tom, nem deixou a expressão endurecer, apenas colocou a mão grande sobre a dela. O calor dele atravessou a pele e chegou ao coração da loba com um carinho que ela sempre reconhecia, o amor de um pai, a proteção de um alfa..

— Filha, eu preciso que você me conte — disse, firme, mas doce. — Eu prometo: cada palavra que sair da sua boca é uma arma a mais na minha mão. A gente só luta direito quando enxerga o campo.

Lyra assentiu, encostando a testa na da filha.

— Você não tá sozinha nisso, meu amor.

Lua fechou os olhos e, quando falou, a voz saiu tão baixa que parecia um sussurro:

River se inclinou e envolveu as duas, a mão grande nas costas de Lua, o calor dele cobriu o corpo trêmulo e pequeno como uma muralha que a protegeria de tudo.

— Ele não vai encostar um dedo em você — disse, cada palavra saindo de seus lábios com uma confiança digna do alfa supremo. — Não enquanto eu respirar, não enquanto eu tiver dentes, garras e gente que me segue, nem enquanto sua mãe existir neste mundo.

Lua queria acreditar.

Queria se enrolar naquela promessa e dormir por um ano inteiro, fingir que aquele pesadelo era só isso, um pesadelo, porém, mesmo assim, mesmo desejando muito isso não conseguia esquecer da visão, de seus pais mortos, de seu lar destruído.

A porta rangeu de leve e uma enfermeira entrou, as mãos cheias de frascos e um olhar que quis ser discreto, mas não conseguiu esconder a curiosidade. Lyra ergueu a cabeça e assentiu; a mulher deixou sobre o criado-mudo um copo com um líquido esverdeado e saquinhos de ervas, murmurando algo sobre ajudar a acalmar a loba por dentro. River agradeceu com um aceno e só então afrouxou o abraço.

— Beba, meu bem — disse Lyra, pegando o copo e levando até os lábios da filha.

Lua obedeceu, a mistura desceu morna, amarga no começo, depois doce, como mel depois de um gosto muito ruim, então, seu coração pareceu se acalmar, a cabeça parou de doer um pouco e tudo pareceu um pouco menos caótico dentro dela.

Mas mesmo um pouco mais calma, nenhum chá, nenhum remédio ou poção podia tirar de sua mente e coração que sua família estava em risco e a culpa era sua.

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