O grande castelo de pedra se erguia solitário no meio das montanhas, mergulhado em neblina e sombras. Suas torres altas quase tocavam as nuvens pesadas, e a bruma da manhã escorria pelas muralhas frias bem devagar, como se ali o tempo tivesse parado. Mas enquanto do lado de fora o tempo parecia parado, dentro a agitação era tanta que fazia parecer não haver tempo suficiente para o que se precisava fazer.
Atlas se preparava.
No jardim interno, dentro dos grandes muros, o alfa já estava transformado. O enorme lobo cinzento, maior do que qualquer outro da sua espécie, ocupava quase todo o espaço, o pelo era grosso, duro, meio encrespado, e os olhos ardiam num vermelho cruel. Ele permanecia imóvel, só a respiração denunciando a força contida, como se aguardasse o momento certo para explodir.
Em volta dele, soldados se organizavam em fileiras, alguns carregavam lanças e machados banhados em prata, outros, já em forma de lobo, avançavam em círculos, testando os músculos, afiando garras contra a pedra, se aquecendo para a longa viagem que tinham pela frente.
Entre os guerreiros, uma figura mais lenta se aproximava: a anciã da alcateia Sombras da Noite, seu corpo era curvado e seus cabelos quase totalmente brancos e longos, apesar de claramente debilitada seu olhar era frio e sério. O lobo se deitou na grama, abaixando a cabeça para que a mão da anciã o alcançasse.
Nas mãos, a mulher trazia um pequeno pote com sangue rubro, ela se ajoelhou diante do lobo gigante, sem tremer, e todos se calaram, deixando que o único som ouvido ali fosse o do vento frio. A anciã molhou os dedos no sangue e pintou uma lua no centro da testa do alfa, o gesto foi lento, quase solene.
— A batalha vai ser difícil, Alfa Atlas — disse ela, a voz grave e séria, avisando sobre o perigo que estavam prestes a enfrentar. — Vai haver sangue, e talvez o preço seja maior do que imagina.
Por um momento, parecia que o ar tinha ficado mais frio, o lobo inclinou a cabeça, os olhos queimando sobre a velha, mas não respondeu em palavras. Em vez disso, ergueu o focinho para o céu e uivou.
O som não foi apenas ouvido; foi sentido.
O uivo atravessou o castelo, correu pelas muralhas, bateu contra as montanhas e voltou como eco. Mas mais do que isso: ele entrou na mente de cada lobo da alcateia Sombras da Noite, palavras se formaram naquele som, uma ordem que não precisava ser dita em voz alta.
“Nada é difícil para nós. Nada!”
Os soldados se arrepiaram, como se a pele tivesse sido incendiada, garras bateram no chão, lanças ergueram-se mais alto. O poder do alfa não precisava de discursos longos, apenas um uivo era suficiente para que todos acreditassem que a vitória já estava escrita.
Nem todos, porém, estavam tomados pela mesma euforia da guerra.
No meio do exército, duas mulheres caminhavam presas por correntes grossas, eram lobas, mas não estavam ali como guerreiras. Seus pulsos e tornozelos estavam presos por correntes para garantir que não fugissem, vestiam apenas vestidos simples, gastos, e estavam completamente apavoradas encarando aquela cena.
Elas se olhavam em silêncio, ofegantes, encarando o rei que as mantinha cativas como pets há quase dois anos. Agora, supostamente, o tormento delas estava prestes a acabar, quando o rei tivesse finalmente sua luna, elas não teriam mais serventia… Mas sabiam que Atlas não pretendia libertá-las, por isso estava levando-as.
— Será que a gente volta viva? — sussurrou a menor das duas.
A outra apertou os olhos, como se a pergunta fosse proibida.
— Não pergunta isso, ele pode ouvir.
Elas se calaram de novo, as correntes tilintando no meio do barulho da preparação.
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