O sol ainda mal havia se erguido no horizonte quando Lyra acordou com o som dos pássaros e o cheiro de terra molhada. As folhas acima dela filtravam a luz fraca da manhã, criando feixes dourados que dançavam ao sabor da brisa. River já estava de pé, em silêncio, terminando de apagar a fogueira e erguer o pequeno acampamento.
— Dormiu bem? — perguntou ela, espreguiçando-se enquanto amarrava os cabelos em um coque frouxo.
River apenas assentiu com a cabeça, os olhos claros desviando dela por um segundo. Ele raramente falava, mas Lyra já se acostumara à linguagem silenciosa do homem.
Eles continuaram a viagem a pé, atravessando trilhas escondidas na mata, cortando entre pedras e raízes como se a floresta os conhecesse. Lyra o guiava pelo caminho que ela sabia ser o correto, mas River estava sempre ao seu lado, atento a qualquer movimento. Era estranho como a terra de ninguém parecia mais calma do que todos faziam parecer na alcateia.
Horas depois, a vegetação começou a rarear, e um cheiro diferente invadiu as narinas de Lyra, o cheiro de asfalto, fumaça e ferro queimado.
— Estamos perto de uma cidade... — murmurou, parando ao lado de River e pousando a mão no ombro dele. — Você nunca viu uma, viu?
O lobo negou com um movimento de cabeça, os olhos arregalados diante das formas e sons que começavam a surgir entre as árvores. Do outro lado da pequena elevação de terra, construções cinzas se estendiam como blocos empilhados, cercadas por cercas de ferro, postes altos e placas de metal. Veículos passavam pelas ruas em alta velocidade, soltando fumaça pelas traseiras. Pessoas caminhavam apressadas pelas calçadas, carregando bolsas, celulares e copos com tampa.
— Isso... — começou Lyra, com um sorriso pequeno e nostálgico — ...é o mundo humano.
River não respondeu, apenas se sentou sobre uma pedra e continuou observando como se tentasse decifrar um enigma complexo demais.
— Os humanos inventaram muitas coisas depois da queda das velhas fronteiras. — Ela se sentou ao lado dele, apontando para os carros. — Aqueles são carros, eles se movem com combustível, um líquido inflamável que eles retiram do subsolo. A maioria anda com isso o tempo todo, pra cima e pra baixo.
— Eles são... rápidos — murmurou River, com a voz baixa, quase infantil.
— Muito. — Lyra assentiu. — Mas presos, não têm liberdade como os nossos. Mesmo andando rápido, eles sempre voltam para algum lugar, sempre presos por horários, por regras... por telas.
Ela tirou do bolso um pequeno aparelho quebrado, com a tela rachada. Estava desligado e provavelmente sem uso há meses, mas ainda guardava a aparência de um celular humano.
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