O céu já estava tingido de um azul profundo quando Lua percebeu que não conseguiria mais ficar parada. O quarto parecia pequeno demais, as paredes sufocavam, ela andava de um lado para o outro, os dedos apertando a barra do vestido azul que usava, o coração disparado sem motivo aparente.
Não era ansiedade comum, não era imaginação: era um fio invisível que puxava sua alma para fora, como se alguém gritasse por socorro dentro da própria cabeça dela.
E ela sabia quem era.
— Lua… — Amber chamou, da cama, apoiando o queixo na mão. — Você tá me deixando tonta só de ficar te olhando andar assim.
Lua parou, mas não respondeu de imediato, o peito arfava, os olhos fixos na janela, a essa altura a lua já brilhava lá fora, quase cheia.
— Ele tá machucado — disse, por fim, num sussurro que mal podia ser ouvido.
Amber franziu a testa, se endireitando na cama.
— Quem?
— A fera. — Lua virou o rosto, e os olhos brilhando em um lilás vivo. — Eu sinto, não sei como explicar, mas sinto a dor dele como se fosse minha.
Amber bufou, desacreditada que a amiga ainda estava insistindo naquilo, mas, ao mesmo tempo, seu coração se apertou ao imaginar o irmão ferido.
— Precisa parar com isso, esquecer essa coisa toda, Lua. Caleb é perigoso, você não sabe do que ele é capaz.
Mas a garota apenas fechou os punhos, suspirando pesado.
— Acha que eu não sei? Eu tava lá no dia seguinte ao que ele fez, vi a destruição que ele causou, Amber! Mas ontem… Ontem ele podia ter me matado, mas… só… só chorava de dor.
— Ele também matou a minha mãe! — Amber explodiu, a voz tremendo de repente. — E eu nunca vou esquecer disso, nunca vou olhar pra ele e ver outra coisa além de sangue. Você fala como se ele fosse inocente, mas não é, é um monstro, Lua! Meu irmão não existe mais naquele corpo!
O silêncio caiu como pedra entre elas, Lua tentou se acalmar, mas o aperto em seu coração não parava e agora ela estava até sem ar. Era como se cada batida do coração viesse acompanhada por outro coração, distante, ferido.
— Se você não vai me ajudar — disse, firme, encarando Amber —, eu vou sozinha. Não vou conseguir dormir sabendo que ele tá lá fora, sangrando, e eu fiquei aqui de braços cruzados.
Amber fechou os olhos, os dedos cravando no lençol, sabia que Lua não ia desistir, ela nunca desistia. Quando abriu os olhos de novo, estavam cheios de lágrimas.
— Tá bom — murmurou, engolindo o choro. — Eu vou com você, mas não significa que eu concorde, não significa que eu não tenha medo ou que eu ache que você está certa. Só não quero você se enfiando na mata sozinha, seu pai vai ficar uma fera de novo!
Lua sorriu, triste, mas agradecida.
— Obrigada.
Depois disso, as duas desceram em silêncio pelos corredores da casa da alcateia, os pés descalços abafando os passos. A cozinha estava vazia, o fogão já desligado, nenhuma louça suja, tudo silencioso. Lua abriu armários às pressas, pegando punhados de ervas secas que ela conhecia, panos limpos e um vaso com água. Amber observava tudo com os braços cruzados, inquieta.
— Já tava planejando isso né? — comentou.
— Eu pensei… Só por precaução — respondeu Lua, evitando encará-la. — Mas não achei que faria tão cedo.
Carregando o saquinho improvisado, seguiu até o porão, descendo silenciosamente e encontrando uma porta de ferro escondida sob tábuas velhas se revelou depois de alguma insistência, Amber arregalou os olhos.
— O que é isso?
— Rota de fuga — explicou Lua, puxando a tranca com esforço. — Minha mãe me mostrou uma vez, serve se a alcateia for invadida, hoje vai servir pra gente.
Entraram no túnel estreito, completamente escuro, os olhos das duas brilhavam na escuridão e, por sorte, ambas enxergavam bem no escuro graças a suas lobas. O ar era úmido, cheirava a terra molhada e raízes, o som das gotas escorrendo ecoava no escuro, e Amber apertou a mão de Lua como se fosse se perder se soltasse. O caminho parecia interminável até que, finalmente, saíram por uma abertura coberta de mato alto, bem escondida no meio das árvores.
A floresta as recebeu com o cheiro forte de musgo e um vento frio. A luz da lua mal passava pelas árvores, apenas alguns feixes prateados pintavam o chão. Lua ficou de pé segurando tudo o que levava com força, então fechou os olhos e se concentrou nele, depois olhou ao redor novamente.
— Por aqui — disse, puxando Amber pela mão.
Andaram por minutos que pareceram horas, o silêncio era quebrado apenas por galhos estalando sob os pés. Então, um ruído baixo, um gemido pesado, fez as duas pararem.
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