A noite chegou agitada, a alcateia ainda estava agitada, como se já não fosse madrugada, passos no muro, vozes baixas nos corredores, o som de metal empurrado de um lugar para outro. River, enfim, cedeu no quarto, depois de um dia muito longo, deitou de lado, o braço sob a cabeça, o outro estendido para o lado de Lyra, que estava sentada numa poltrona ao lado como se o vigiasse para garantir que ele realmente descansaria.
Enquanto isso, Lua adormeceu com facilidade que não combinava com suas preocupações e medos. Talvez fosse o cansaço, talvez fosse o fato da lua cheia estar chegando e isso acalmar seu coração, porque finalmente assim veria Caleb mais humano. O sono a pegou pela mão e levou de volta ao lugar onde a história sempre reencontrava o mesmo ponto.
A floresta, o cheiro de fumaça, o céu sem lua, só o brilho vermelho de alguma coisa queimando ao longe. Passos atrás dela, muitos, e muitas vozes.
“Entreguem a loba-oráculo…”
A clareira abriu de repente, como um rasgo no mundo, o penhasco surgiu diante dela, com um vento forte e gelado vindo dele, soprando para trás seus cabelos brancos. Atrás, um rugido, não o de Caleb, um uivo diferente, mais profundo, como se viesse de dentro do proprio penhasco, das profundezas escondidas da terra.
Atlas.
Ele surgiu entre as árvores com a forma humana, as mãos manchadas de sangue que ela não queria saber de quem era. O sorriso fácil, os olhos vermelhos de triunfo.
“Olha pra mim.” A voz dele cortou o ar. “Conheça o rosto do seu dono.”
“Eu não tenho dono” Lua disse, e foi bonito ouvir a própria voz firme dentro do sonho. “Você nunca vai me ter!” E correu para a borda, não por fuga, mas por escolha.
O corpo se lançou, e, no segundo antes do vazio engoli-la, o mundo tremeu. Então, duas mãos enormes, não mãos, garras; não garras, dedos; alguma coisa entre as duas coisas, a envolveram, com mistura de brutalidade e cuidado. O peito contra o qual ela se chocou era uma parede de calor, e um som de um coração descompassado, batendo forte, ecoou em seus ouvidos.
“Lu… a…” a voz veio arranhada, como primeira palavra de quem ficou anos mudo.
Então acordou de uma vez como se voltasse à superfície depois de quase morrer afogada num mergulho muito profundo. Sentou de uma vez, o quarto mergulhado na penumbra, Amber dormia com um braço por cima do rosto e uma brisa morna sacudia levemente as cortinas.
Lua levou a mão ao peito, tentando controlar a respiração, o rosto do Monstrinho ficou brilhando por trás das pálpebras: olhos vermelhos que, por um instante, não mostravam só raiva e descontrole, mostravam carinho e… amor.
Ela deitou de novo, mas não fechou os olhos, ficou olhando a janela clareada pela lua quase cheia, sentindo o coração ir desacelerando devagar.
— Eu vou te achar — sussurrou, para si, para a noite, para o destino. — Na lua cheia. E, se ainda tiver um homem aí dentro, eu vou trazer de volta.
Do lado de fora, um batedor passou correndo pelo pátio, a sombra alongada na parede. No quarto dos alfas, Lyra ajeitou um cobertor sobre River, e o alfa, finalmente adormecido, pareceu relaxar pela primeira vez em dias. No fundo da mata, muito longe, um som respondeu ao sonho de Lua: não era uivo, nem rugido; apenas um guincho triste de um monstro que encarava a lua prateada com esperança de que alguém finalmente visse nele mais do que um monstro cruel.
— …você vai me agradecer por eu ter trazido — a amiga completou, prática. — E tem mais: peguei também algumas coisas pra dro e isso. — Ela mostrou uma seringa com um liquido que Lua não sabia o que era. — Lidocaína pra dor. Eu sei que você quer acreditar que ele vai só encostar a cabeça em você e falar seu nome, mas naquele dia ele estava bem machucado, então acho que ele vai precisar de muitos cuidados.
Lua assentiu, as mãos apertando a barra da blusa um segundo mais do que o necessário.
— Também acho que vai.
Alguém bateu na porta de leve, apenas três vezes, o combinado do trio, e Tailon entrou com uma bolsa debaixo do braço, a testa suada apesar da manhã fria.
— Fingi pro meu pai que precisava de um descanso depois do treinamento— ele anunciou, trancando por dentro e tirando da bolsa um mapa. — Temos vinte minutos até alguém sentir minha falta.
— Cansado depois de duas horinhas? Ele nunca vai comprar essa ideia — Amber resmungou, cruzando os braços.
— Claro que não vai, mas precisamos revisar o caminho — Tailon rebateu, abrindo o mapa no chão. — Prontas?

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...