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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 122

Lua enrolou um pacote com ataduras dentro de um saquinho de tecido e levou para o quarto; o suor na nuca, as mãos tremendo levemente de ansiedade e medo. Não gostava de esconder dos pais o que ia fazer, mas sabia que aquela era a decisão certa, mesmo assustada. A cada batida do coração, a imagem dele voltava: olhos vermelhos, o focinho junto do dela, o jeito engraçado e triste com que dissera “Lu-a”.

“Eu vou te ver hoje”, prometeu em silêncio, sem saber se prometia ao monstro ou ao homem que morava dentro dele.

Ela conferiu de novo o kit de curativo, soro fisiológico em frasco plástico, gaze estéril, ataduras, pomada, álcool 70 e fita microporosa, e olhou a mochila que Amber tinha arrumado pela milésima vez: garrafinha d’água, sachês de ervas, panos limpos e alguns sanduíches bem embrulhado em papel-toalha e saco zipado. Fechou tudo e empurrou com o pé para debaixo da cama. Quando se ergueu, Tailon estava na porta, o cabelo ruivo preso de qualquer jeito, os olhos claros sempre preocupados demais.

— Tá faltando alguma coisa? — ele perguntou, coçando a nuca, sem saber pra onde olhar dentro do quarto de Lua.

— Só coragem — ela tentou brincar, mas a voz saiu meio torta.

Tailon entrou, fechou a porta com cuidado e ficou a um passo dela, as mãos no bolso, o peso balançando de um pé pro outro.

— Eu… — começou, parou, tossiu de leve, recomeçou — eu sei que você tá toda confiante sobre ele ser seu companheiro… Mas eu to com um pouco de medo, as coisas não estão muito boas… Tudo parece perigoso demais, Lua.

Lua o encarou, surpresa de verdade.

— Medo de quê? — ela tentou rir.

— De perder a Amber. — A frase caiu inteira, sem floreio, direto do coração. — De não ser rápido o bastante, de alguma coisa dar errado e a gente dar de cara com o Atlas de vocês duas se machucarem e eu não conseguir proteger vocês.

Ela sentiu a garganta apertar, por um momento, esqueceu o cenário de guerra e viu só um garoto grande dizendo uma verdade simples. Deu um passo pra frente e segurou a mão dele.

— A gente não vai se perder — falou, lentamente, como se cada palavra fosse uma promessa. — E se algo der errado, você puxa a Amber e corre. Eu sei o caminho, dou um jeito.

— Não — ele rebateu, e o “não” saiu firme, quase rude. — Se algo der errado, todo mundo corre junto, ou ninguém corre. Não vou te deixar pra trás.

Eles se olharam por um tempo e assentiram um para o outro, estavam decididos, ninguém ficaria pra trás, não importa o que acontecesse.

— Então… encontro vocês na dispensa, às nove. Eu confiro o túnel às oito e meia.

— Certo. — As duas repetiram.

Do lado de fora, patrulhas passavam. River tinha dobrado os turnos, ninguém cruzava o pátio sem receber um olhar afiado de algum guarda. Os uivos de treino eram mais curtos, mais rudes, os muros pareciam mais altos.

Lyra passou pelo corredor devagar, como quem patrulha com outra intenção. Parou diante da porta entreaberta do quarto da filha, mas não entrou. Ouviu as últimas palavras de organização, se sentiu um pouco mal por esconder isso de River, mas sabia que não podia arriscar, algo nos seus instintos lhe dizia para manter o plano de Lua em segredo. Se ele soubesse, trancaria Lua num quarto sem janela.

Não poderia simplesmente ficar sentada enquanto a filha fugia, mas podia, sem duvidas, acompanhá-los de longe. Melhor encontrar a fronteira entre risco e proteção com os próprios olhos do que ceder à paranoia do companheiro e quebrar a confiança que Lua ainda depositava neles.

No fim, lobos precisavam trilhar seu caminho sozinhos, e Lua era diferente deles, ela sabia sempre soube, então, não iria ser um empecilho no destino da filha, mas uma protetora.

“Eu vou atrás de vocês”, prometeu em silêncio, com a calma feroz que sempre a tomou em noites de perigo. “E se alguma coisa der errado, trago todo mundo pra casa.”

A tarde pareceu passar devagar demais para um povo que se preparava pra uma guerra. River cruzou os muros, conferiu sinos cada armadilha pessoalmente, reviu postos, recitou instruções. Viu meninos afiando flechas com a língua entre os dentes, mulheres amarrando cabelos, velhos colando talismãs nas portas.

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