O ar no túnel cheirava a umidade e poeira, as luzes das lanternas iluminavam as pequenas partículas de poeira no ar. O som dos três passos, tênis contra o cimento velho e cheio de terra ecoavam alto demais, mesmo que os três andassem devagar e com a máxima discrição. Dos três Amber era a mais nervosa, a lanterna tremia o tempo todo em sua mão isso era perceptível pelo feixe de luz trêmulo que balançava levemente para os lados.
— Ei. — Tailon encostou a lanterna no peito, abafando o feixe, e alcançou a mão de Amber. — Eu tô com você, vai dar certo.
Amber o olhou de baixo, olhos marejados e teimosos, o coque malfeito tremia com a respiração curta. Ela assentiu devagar e, no calor daquele instante, antes que a cabeça lembrasse todas as razões para não, inclinou-se e encostou a boca na dele: um selinho rápido, tropeçado, quase um pedido de sorte.
— Por favor, tenta não morrer — ela sussurrou, meio rindo, meio chorando. — Não quero te perder agora que tomei coragem de te beijar…
— Só depois de você — ele devolveu, bobo e sério ao mesmo tempo, e voltou a andar, ainda segurando a mão dela.
Lua seguia logo atrás, capuz baixo sobre o cabelo claro, a mochila colada nas costas. O coração batia parecendo uma bateria; não só por Atlas, que rugia no fundo de algum canto escuro da mente dela, mas pelo outro chamado, mais baixo e íntimo, que vinha como algo doce esperançoso: Monstrinho. Ela sentia a presença dele como uma coceira por dentro da pele. Vinha do leste? Do norte? Era mais um puxão, como imã atraindo o metal, ele era o imã, ela o metal que estava correndo até ele sem medir as consequências..
— Em duas curvas vamos achar uma pequena escadinha e, depois, a grade de saida — Tailon recordou, voz baixa, falando só o necessário. — Cuidado com o degrau quebrado… aí.
A tampa do alçapão de saída, reforçada por barras de metal e graxa recente, rangeu como se reclamasse de ser aberta. O trio congelou por um segundo. Silêncio. Um som de água correndo, vento balançando as árvores, o chilrear nervoso de um passarinho noturno. Tailon apoiou o ombro e empurrou só o suficiente, um cheiro de folhas molhadas invadiu, e o ar livre passou entre eles, fresco, sem aquele cheiro de mofo do túnel.
Eles emergiram sob um emaranhado de raízes grossas, escondidos na base de um carvalho antigo. O céu estava escuro, pontilhado por estrelas brilhantes e a linda lua cheia, que ainda não estava em seu ápice, mas já mostrava a beleza de sua fase mais adorada pelos lobos, aquela em que seus poderes e habilidades eram amplificados, assim como seu instinto.
— Vamos, não temos tempo pra ficar admirando — Tailon indicou com um gesto do queixo. — Fiquem juntas, e olhos abertos.
Eles se enfiaram num vale raso de terra batida, os arbustos mais altos cobriam seus corpos, os escondendo bem de olhos que poderiam estar observando entre as árvores. O barulho da alcateia ficava cada vez mais distante, mas os sns que vieram da mata ao redor foi o que chegou aos ouvidos deles como sirenes de perigo.
Uivos cortaram o ar, muitos, vindos de várias direções dentro da mata, um coro de guerra que parecia não acabar nunca.
— Ele chegou. — Amber disse, sussurrando, arregalando os olhos ao entender a quem pertencia aqueles uivos.
Um clarão laranja levantou poeira ao longe a terra tremeu levemente depois de outra explosão que levantou ainda mais poeira. Os selos das bruxas começavam seu trabalho.
— Linha um, recolhe! Linha dois, na contenção! — Solomon rugia no rádio preso ao ombro, a voz replicada nos fones dos guardas. — Não abram as laterais! Ninguém abre as laterais!
Do lado de dentro do portão de aço, soldado às pressas na última semana, reforçado com barras cruzadas, River andava de um lado para o outro, nervoso, gritando ordens, o casaco estava jogado em algum lugar; vestia uma calça preta, pés firmes no chão, estava descalço, peito nu com cicatrizes exposto sem nenhum receio, pronto para se transformar quando chegasse a hora.
— Todos os guerreiros mais fortes estão em posição, Alfa — informou um capitão, o rádio trêmulo de chiado. — A vila das bruxas reporta que os selos vinte e quatro a vinte e oito foram detonados. Temos baixas, mas estamos segurando.
— Só precisamos disso, por enquanto, segurar o máximo possível — River respondeu, seco, olhos voltados para a sombra que se mexia entre as árvores. — Avise Petra: feridos pra enfermaria agora, todo mundo já catalogado. Quero saber nome, família e se respira. Ninguém desaparece no caos.
— Sim, senhor!
Um rugido cortou a noite, diferente do som dos explosivos. Veio de dentro da mata, arrastando consigo a atenção de todos. Não era um uivo de lobo comum, era mais grave, antigo, e River conhecia bem demais, vindo de um passado seu que quase se perdeu depois da maldição dos anciãos.
— Atlas. — River quase sorriu. — Filho da lua.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...