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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 128

A floresta ao leste da Lua Sangrenta recebia a lua cheia em silêncio, o trio chegou à clareira por onde a luz descia como um holofote natural. O chão era uma mistura de folhas e terra úmida; uma pedra grande no centro parecia um palco, o tronco caído ao lado, um banco. Lua parou com a mão no peito; o chamado agora era quase voz.

— Aqui. — A palavra saiu com certeza. — Tenho certeza que ele tá perto.

Amber e Tailon ficaram de costas um para o outro, olhos varrendo as bordas, os sentidos ligados como rádio na estação certa. A guerra lá atrás continuava, cada explosão vindo como trovão atrasado, mas ali, no centro, era silêncio.

Primeiro, veio o cheiro: ferro, pelo molhado, sangue e algo doce mas esse doce sutil e reconfortante só Lua sentia, porque era o cheiro de seu companheiro. Depois, o barulho de galhos pesados sendo empurrados, a silhueta que emergiu não era a fera que invadia acampamentos, nem o humano que um dia perdeu a si mesmo. Era… algo entre as duas coisas. Ainda muito alto para um homem, as pontas de osso que costumavam rasgar o ar agora pareciam retraídas, cobertas por uma pele áspera; as garras, ainda grandes, recolhidas o máximo possível para não cortar. O rosto, com focinho e olhos rubros, tinha… outro jeito, traços mais humanos, mesmo que ainda monstruosos.

— Monstrinho… — Lua sussurrou, o tempo parando quando ela o viu pela primeira vez mais humano.

Ele parou a um passo de distância, cabeça ligeiramente de lado, como bicho curioso que teme ser espantado. Respirou o cheiro dela e, como antes, tentou encaixar o próprio fôlego no dela, a respiração grande diminuindo para acompanhar a dela menor. Um rosnado baixo, não ameaça, quase de… Alívio, vibrou no peito.

Amber levou a mão aos lábios, sem perceber que chorava, Tailon apertou o ombro dela de leve.

Os ferimentos estavam por toda parte. Flechas arrancadas tinham deixado buracos feios, a prata ainda escurecia algumas bordas, vermelho e negro misturados. O lado esquerdo do peito tinha uma cratera menor, mas profunda, certamente de lança. No dorso, arranhões longos, alguns com casca nova. O cheiro de queimado denunciava que ele tinha passado por selos também.

— Querem… — o som veio bruto, uma língua que não é feita pra consoantes humanas tentando fazer consoantes humanas. A garganta dele trabalhou. — pe… gar… você. — a frase saiu arranhada, mas inteligível, e o olhar dele estremeceu levemente de medo como se tentasse de toda forma passar a mensagem, mesmo sem conseguir falar direito.

Lua deu um passo, mão erguida, dedos abertos.

— Eu sei — ela respondeu, e foi sincera. — Eu vi.

Ele inclinou mais a cabeça, os lábios meio deformados tremeram e a boca abriu um tanto, como para formar outra palavra. O som veio rouco, passando com dificuldade pela garganta dele:

— Lu… a.

Amber soluçou, um barulho baixinho e emocionado apoiando as mãos na boca ao ouvir o irmão falar de novo, e Tailon soltou o ar como se estivesse segurando desde o túnel.

Lua tinha levado na mochila um kit clínico de verdade, gaze esterilizada, clorexidina, soro fisiológico, pomada antibiótica, analgésico em gotas, bandagens elásticas e um par de tesouras, e um punhado de ervas que a Luna ensinou a usar quando o corpo precisa de uma ajuda que remédio humano não sabe dar. Ela abriu a bolsa no tronco caído, alinhou tudo como Petra fazia, e respirou fundo.

— Vai doer — avisou, vendo o corpo dele se retesar enquanto os olhos de Caleb subiam para Amber e Tailon, que se aproximavam devagar. — Mas eu prometo que vai doer menos depois.

Ele fez algo que parecia um aceno, ou talvez só tenha sido a cabeça pesando.

Lua molhou uma gaze com soro, começou a limpar ao redor de uma ferida de flecha. A prata chiou quando tocou o líquido, um som baixo, quase um tsss de chaleira. Ele fechou os olhos, o corpo todo retesando..

— Exe… — ele tentou, de novo, a palavra comprida. — Exer… ci… to. — a língua dele tropeçou e a fera rosnou pela a própria dificuldade, irritado consigo. — At… — tragou o resto e empurrou o ar: — Atlas.

— Eu sei — Lua disse, e os olhos dela ficaram escuros de tristeza e raiva. — Ele te machucou, machucou todo mundo. — segurou o rosto dele como se segurasse um copo fino. — Mas ele não vai me levar, prometo.

O ouvido de Tailon estalou com um som que não vinha de nenhum bicho. Passos firmes, treinados, eram discretos, mas não passaram despercebidos pelos sentidos dele.

— Tem alguém vindo! — o ruivo avisou, o corpo já em alerta, pronto para lutar se fosse preciso.

A sombra se recortou entre troncos, caminhando sem pressa, sem barulho. A luz da lua desenhou primeiro o cabelo claro, depois os olhos prateados, depois a postura de quem já enfrentou pior daquele mundo. Lyra saiu das árvores como se fizesse parte delas, não estava brava, mas seus olhos estavam sérios como nunca antes.

Amber engoliu o impulso de explicar, Tailon abriu a boca para justificar, Lua começou um “mãe, eu…”.

Mas Lyra ergueu a mão, pedindo silêncio, o gesto calmo.

A clareira prendeu o fôlego. E a lua ficou ainda mais cheia.

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