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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 129

Lyra saiu da sombra como quem já conhece o caminho da noite, a luz da lua desenhou prata no cabelo e nos olhos, e, por um instante, Lua se sentiu criança outra vez, achando que nada no mundo ruim conseguiria atravessar sua mãe. O instante passou quando o cheiro de sangue, humano, lobo, prata e química, veio da direção dos muros. Lyra sentiu a dor de seu companheiro pelo vínculo e mordeu o lábio com um pouco de força respirando fundo.

Mesmo assim, não correu na direção do marido, sabia que precisava estar ali, então olhou o monstro diante dela, alto, deformado e, de algum modo, inteiramente frágil, e depois a filha, as mãos ainda sujas de soro e pomada, o olhar que misturava vergonha e também coragem.

— Mãe, eu… — Lua começou, as palavras se atropelando de culpa.

Lyra ergueu uma mão e o gesto bastou para as três bocas se calarem de uma vez. A Luna deu um passo a mais e fez algo que Tailon não esperava ver ninguém fazer diante de uma criatura com garras: estendeu as próprias mãos.

— Caleb — ela disse, num tom sério e tenso mas sem desviar os olhos. — Me dá as suas.

A fera piscou, o corpo inteiro retesou como arco prestes a quebrar. O instinto de fugir, ou atacar, fez as garras avançarem um meio centímetro. Olhou para Lua de relance, confirmando se aquilo fazia sentido, Lua assentiu com um gesto mínimo, o coração de ponta-cabeça.

O monstro ergueu as mãos, devagar, muito devagar, a luz prateada pegou nos calos, nas fissuras, nas bordas onde os ossos pareciam querer sair. Lyra segurou e, quando segurou, não foi como quem tolera; foi como quem recebe.

— Eu sei quem você é — ela disse, simples. — E sei quem você acha que é.

Os dedos de Caleb tremeram.

— Lu… — ele tentou, olhando para Lua. — a.

— Ela está aqui — Lyra respondeu, e puxou as mãos dele um pouco mais para baixo, para que ficassem na altura do coração dela. — E você também está. Conheci sua mãe, sabia? Ela fez de tudo para te proteger.

Atrás, Amber apertou o braço de Tailon, os olhos brilhando, molhados demais.

Lyra inspirou, a dor pelo vínculo voltou a puxar, uma fisgada quente, ardendo pela coluna. River resistia, o corpo dele estava cercado de bruxas e curandeiros, Lyra sentia que estavam cuidando dele, mas ainda assim seu instinto era correr até seu companheiro.

“Mas ainda não.”

— Escuta — Lyra falou, agora para Lua. — A gente cria os filhos para protegê-los. Mas tem uma coisa que pai e mãe não fazem melhor do que um companheiro.

Lua piscou, confusa e ferida em igual medida.

— O quê?

— Guardar o coração. — Lyra sorriu de leve, e era um sorriso que deixava as rugas ao redor dos olhos mais bonitas. — Porque o coração reconhece onde deve ficar, e o seu está olhando pra ele há anos, mesmo que ninguém tenha deixado vocês se verem, filha. Eu lembr da primeira vez quando você e Amber eram só crianças e Caleb escapou de onde Camilla o mantinha, e desde aquele dia ele aparentou ficar mais calmo com você.

Caleb fechou as pálpebras por um segundo, como se a frase abrisse uma janela por dentro.

— Pro… te… ger. — ele soprou, como quem lembra o próprio nome.

— É isso — Lyra confirmou. — E o que eu vou dizer agora não é fácil. A Lua Sangrenta não é mais segura pra você, filha, nem é segura pra ele. Muito menos para vocês juntos. — ela olhou para além das árvores, onde alguma movimentação começava a se formar. — Atlas invadiu aqueles barulhos que vocês ouviram foi isso, e ele conseguiu derrubar seu pai, eu senti. Não sei como, mas River perdeu essa luna.

— Mãe, não… — Lua sacudiu a cabeça, o “não” vindo de trás do peito. — Eu não vou te deixar, nem o pai. Eu não vou…

— Vai. — A voz de Lyra não levantou, mas deixou claro que não deixaria Lua voltar para a alcateia. — Você vai, porque eu vou mandar.

— Mas… — Tailon começou a voz um pouco trêmula. — Quando vamos poder voltar, Luna? Como vamos saber que é seguro?.

— Eu, River e seu pai vamos encontrar vocês, Tailon, só voltem quando nós formos buscá-los, entendeu?

O ruivo assentiu, firme.

— Se… Vi… Vierem. — apontou, rudimentar. — E… Eu… — fechou os olhos, inspirou, e completou: — Eu… des… vi… o.

— Foque em protegê-los, eu vou cuidar de desviar eles — Lyra disse, já girando o corpo na direção contrária, o som de passos ficando mais alto. — Agora vão, não olhem pra trás.

Lua mordeu o lábio, o corpo dela queria pular do colo de Caleb, grudar na mãe e não sair nunca mais, enquanto sua cabeça queria obedecer, pela primeira vez em dias sem argumentar.

— Eu te amo — Lua falou, sem vergonha de chorar. — Mãe… Toma cuidado…

— Eu também — Lyra respondeu, com voz de quem tinha um mundo para segurar com duas mãos. — Agora, corre.

Amber e Tailon respiraram fundo, Caleb ajustou o peso, preocupado em machucá-la enquanto corriam e os passos na mata ficavam cada vez mais altos. Então, com uma ultima olhada para a Luna da Lua Sangrenta, correram, sumindo entre as árvores.

Nesse momento, um grito soou na mata.

— Tem alguém aqui!

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