A mata ficou silenciosa subitamente, o tipo de silêncio que vem depois do caos, do tipo de quando os pássaros voam, os galhos pararam de ranger e até o vento parece estar prendendo a respiração.
Lyra sentia cada centímetro do chão sob os pés como se ele vibrasse por dentro. A floresta, viva e antiga, sussurrava por baixo da pele e o vínculo com River seguia ardendo, mas distante o suficiente pra que ela mantivesse o foco.
“Primeiro os filhos, depois o resto do mundo.”
Passos, vários.
Ela virou o rosto na direção dos galhos partidos, rasteiras rápidas, botas técnicas, armas.
Batedores.
Cinco… Não, sete.
Eles saíram da sombra como sombras com dentes: roupas pretas coladas ao corpo, coletes leves, armas curtas, todos da tropa de Atlas. Os olhos de um deles brilharam quando a viram, como se tivessem encontrado um prêmio que não esperavam.
— Achei alguém! — gritou o primeiro. — Aqui! Uma mulher!
Dois já estavam se transformando. O estalo de ossos veio alto, acompanhado do crescer de patas e músculos. Os outros três se espalharam em formação, recuando para cobrir a retaguarda. Um sexto grunhiu algo sobre “pegar viva”.
Lyra não disse nada.
Só encarou, um por um, olhos prateados como espelho em noite sem luar.
E então soltou o ar devagar.
Com o barulho de algo inevitável acontecendo, ela se abaixou, joelhos no chão, as mãos tocando a terra como se beijassem a pele do mundo. O som que saiu de sua garganta não foi humano, mas também não era o rosnado de um lobo qualquer.
Era diferente de tudo.
A carne se moldou, ossos realinharam, o corpo, mais compacto do que os lobos gigantes da tropa inimiga, começou a brilhar de leve. Em poucos segundos, o vulto dela já não era mais de mulher.
A loba prateada surgiu com a calma de uma tempestade prestes a acontecer.
Baixa.
Ágil.
Silenciosa.
Mas havia algo nela que não cabia no tamanho, algo que crescia invisível e esmagava quem olhava por muito tempo.
Um dos batedores tentou falar, mas a voz morreu na garganta, o outro, já na forma de lobo, recuou dois passos. O terceiro caiu de joelhos sem nem saber por quê.
A loba olhou pra cima, e, então, uivou.
Um som profundo, agudo, bonito, se não fosse pelo arrepio que ele provocava.
No segundo em que o uivo cortou a floresta, todos os soldados gritaram ao mesmo tempo. Como se uma lâmina invisível atravessasse o peito deles de dentro pra fora. As mãos voaram pras cabeças, alguns caíram no chão, engasgando com a própria saliva, outros ficaram parados, tremendo. Um, em forma de lobo, soltou um ganido curto e deitou de barriga no chão, o corpo inteiro se sacudindo.
Lyra avançou devagar, os passos lentos enquanto seus olhos encaravam os lobos que se curvaram diante da Luna da Lua Sangrenta.
Ela abriu a mente, a força empurrou pra fora como uma onda: o dom da Luna. A manipulação das emoções, o legado que ela herdara da mãe, que viera antes da mãe da mãe, e que agora ela usava como lâmina.
“Medo”, pensou. “Sintam.”
E eles sentiram.
Sentiram como se estivessem no escuro, sozinhos, perdidos e esperando um predador vir atrás deles.
“Eu sou a Luna.” A voz surgiu direta, dentro da mente de cada um, como se ela estivesse sussurrando ali do lado. “E ninguém vai ultrapassar meu limite.”
Dois vomitaram, um se curvou mais, chorando. O maior de todos tentou se erguer e caiu de lado, arfando como peixe fora d’água. Um outro tremia tanto que parecia prestes a desmaiar.
E então, a mata se calou de novo, mas só por um segundo.
Do meio das árvores, surgiu ele. Cinzento, gigante, um espectro caminhando sobre quatro patas. Pelagem densa, olhos como carvão em brasa, o focinho sujo de sangue.
Atlas.
O grande lobo de guerra parou entre os próprios homens, todos ainda no chão. Ele os ignorou, só os empurrou com o corpo, como quem pisa em pedras sem notar.
“Eu vou acabar com você”, ele rosnou na mente dela, a voz furiosa odiosa. “Com você e com seu companheiro. Vou rasgar o laço de vocês com os dentes, e depois vou…”
“Cala a boca.”, seu tom era firme, e suas presas ficaram visíveis quando ela rosnou.
Atlas rangeu os dentes, tentou se jogar contra ela, mas o corpo não se moveu.
“Você me subestimou.” A voz dela soou em eco por dentro da mente dele. “Achou que só porque sou mulher, porque sou Luna, sou mais fraca, indefesa se estou longe do meu alfa… Ousou ameaçar matar a mim…”
A pata pressionou com mais força a garganta dele.
“Quando River matar você, eu vou estar com ele arrancando seu coração!”
Atlas já não conseguia mais se mexer.
O corpo inteiro dele tremia com força o bastante para sacudir, como se estivesse convulsionando.
Lyra baixou o rosto até quase tocar o dele com o focinho.
“Na próxima vez que a gente se encontrar… eu te mato.”
Atlas tentou se mover.
Falhou.
Tentou responder.
Falhou.
A loba prateada virou as costas e foi embora.
O poder se recolheu devagar, como maré obediente. Um a um, os soldados começaram a respirar de novo, confusos, humilhados e quebrados.
E no meio deles, o maior de todos, o “indestrutível”, ficava deitado, encarando a escuridão, com a certeza rasgando por dentro: ela poderia ter matado ele ali, mas escolheu não fazer isso.
E isso era o que feria seu ego enorme.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...