Ela ainda gemia, mas o choro tinha perdido força. Estava quase inconsciente, o rosto banhado de suor e a boca entreaberta, respirando com dificuldade. A marca parecia ainda mais inchada do que antes, como se tivesse pulsando junto ao coração dela.
— Vai passar — murmurou, mais para si mesmo do que para ela. — Vai passar, eu prometo.
Com cuidado, River pegou a pasta e aplicou sobre a ferida. A mistura começou a agir imediatamente, produzindo um chiado baixo e liberando um vapor quente, como se estivesse sugando o calor da infecção. Lyra se encolheu, o corpo se contraindo em dor, mas ele a segurou com firmeza.
— Eu sei que arde — sussurrou, pressionando a testa contra a dela. — Só aguenta mais um pouco... só mais um pouco.
A pasta se espalhou por toda a extensão da marca, impregnando a pele ferida com seu cheiro forte de ervas e raiz. River manteve a mão sobre ela por alguns segundos, a pasta parecia não ser o suficiente e o alfa pressionou a mão com mais força na garota sentindo todo seu braço arder e as veias ficarem negras enquanto, sem que pudesse controlar, absorvia a dor dela para si. Só queria que ela melhorasse mesmo que fosse sofrer para isso.
Suportaria qualquer coisa.
River a puxou para seu colo, cuidadosamente, até que sua cabeça repousasse sobre o peito dele. A envolveu com a capa novamente e com os próprios braços, formando uma muralha de proteção ao redor dela.
O lobo dentro dele parou de rosnar, estava calmo agora.
Lyra suspirou, baixinho, quase imperceptível. O corpo antes em convulsão se aquietou pouco a pouco, como se o calor dele e o toque gentil fossem o antídoto para a dor que a consumia.
— Isso... assim tá melhor... — River murmurou, fechando os olhos e inspirando o cheiro dela.
Era doce.
E familiar.
Um perfume único, que nenhuma outra fêmea tinha. Algo que ele não conseguia nomear, mas que tocava direto no mais primitivo de seus instintos. Uma mistura de flor silvestre com terra molhada. Aquele aroma fazia seu corpo relaxar mesmo no meio do caos.
Ele a segurava como se o mundo dependesse disso. Como se ela fosse um pedaço frágil de alguma coisa que ele nunca teve direito, mas que agora não podia mais soltar.
O pesadelo dela cessou.
O choro parou.
Os tremores se acalmaram.
River sentiu os músculos dela se rendendo, afundando contra o peito dele, e seu próprio corpo respondeu com uma onda de alívio que quase doeu. Não percebeu quando começou a balançar levemente de um lado para o outro, embalando-a como se fosse uma criança.
Era irracional, selvagem, mas era mais forte que ele.
Ali, no meio da floresta, sem teto ou cama, sem nada além de silêncio e folhas ao redor, River adormeceu com Lyra nos braços.
O corpo dela encaixado no seu como se fossem metades de uma coisa só.
O coração dela batendo fraco contra o dele.
E por um instante... ele teve certeza.
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