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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 131

O vento mudou de direção quando eles chegaram ao rochedo, Caleb parou, o corpo enorme ocupando metade da passagem enquanto ele olhava para frente com os olhos brilhando em vermelho, a brisa vinda das rochas balançando seus cabelos.

O cânion, sabia que aquele era o melhor lugar, ninguém os encontraria ali, ou ao menos, levaria um bom tempo para encontrar.

Lua ainda estava nos braços dele, uma mão no peito monstruoso e a outra segurando firme a mochila com remédios, faixas, soro, garrafas d’água, bandagens, gaze e dois pacotinhos de analgésico.

— A… qui. — a voz dele veio grossa, quebrada em sílabas, mas decidida. — Eles… nun… ca… acham.

Amber e Tailon trocaram um olhar rápido, o cânion se abria numa série de fendas estreitas, degraus naturais, reentrâncias e sombras que engoliam qualquer rastro. Não tinha a floresta e, claramente, não era um lugar para lobos… Era um território evitado por qualquer lupino pelo que habitava aquelas fendas, um povo inimigo com os quais há muitos anos não se relacionavam.

— Você acha que… — Amber começou mordendo o lábio.

Mas Tailon balançou a cabeça, se tivessem vindo sozinhos, levariam horas para encontrar um caminho seguro; com Caleb, talvez realmente ficassem seguros.

— Raposas foram extintas — respondeu, olhando para Amber, depois encarou Caleb. — Você conhece isso tudo? — perguntou, encarando-o seriamente pronto para seguir aquele que acreditava ser um monstro apenas algumas horas atrás.

Caleb assentiu de leve, o que no corpo dele significava um movimento de ombros que parecia um desmoronamento controlado.

— Eu… corri. Mui… tas… ve… zes. Esc… Esco… Escondi… Aq… Aqui — apontou com o queixo para um corredor de pedra. — Se… guro.

Ele desceu primeiro a encosta com Lua nos braços, como se os pés soubessem sozinhos onde pisar. A sola das botas de Amber raspava, fazendo poeira deslizar, Tailon vinha atrás, conferindo altura, distância, pontos de apoio. Cada cinco passos, olhava para trás, hábito de quem aprendera com o pai a nunca subestimar uma retaguarda aberta. Assim, entraram na área que parecia mais pedra do que mata. O verde ainda existia, mas em escala bem menor e em formato de vegetação mais rasteira que cobria a superfície das pedras imensas que se espalhavam por toda parte.

Caleb corria mais rápido do que os outros dois, mas ainda assim tomava cuidado para não acabar deixando-os para trás. Ele entrou nos corredores de pedra e dobrou em vários deles como se conhecesse cada esquina e cada rocha. O corredor em que estavam se curvou para a direita e então para a esquerda, estreitando até virar uma fenda que obrigava todos a virarem de lado. Em um ponto, Caleb ergueu Lua por cima de um lajeado e depois, com um gesto surpreendentemente delicado, puxou Amber pela mão, como se ela pesasse nada.

— De… graus… se… cre… tos. — disse, encostando a garra retraída num saliente da rocha.

Uma escada natural revelava-se na penumbra, degraus irregulares que subiam e depois mergulhavam de novo, como use tivessem sido esculpidos há muito tempo pela água, e realmente foram.

O vento, ali dentro, fazia uma corrente fria que apagava cheiros e confundia ouvidos. Amber respirou mais fundo pela primeira vez desde que saíram do túnel da alcateia.

— Se eu fosse caçadora, desistia aqui — murmurou, sincera.

— Por isso que… Es… Esse… É.. Segu… ro. — Caleb confirmou, continuando a andar pela imensa caverna que parecia não acabar.

Depois de contornar duas quinas e cruzar um corredor tão estreito que os ombros de Tailon roçaram nas duas paredes, chegaram a um vão entre paredões, uma fenda mais larga, onde o chão se abria numa espécie de terraço de pedra. Dali, um túnel mais baixo seguia para dentro, onde o escuro não era só ausência de luz, mas a presença de um lugar.

Caleb entrou primeiro, sem nenhum medo.

Era relativamente grande para caber ele e mais pessoas, profunda o suficiente para que o som não escapasse para fora, e havia um segundo túnel de saída que desembocava mais a frente na superfície. No teto, uma abertura permitia que a luz da lua entrasse e também ar fresco.

Não estava vazia, a esquerda, um monte de cobertores amassados, alguns de lã, outros sintéticos, jogados sobre uma parte mais lisa e nivelada do chão de pedra. Em cima, um casaco masculino grosso, sujo, e um lençol de algodão com manchas antigas de terra e sangue. Havia um banco de madeira com um pé quebrado, apoiado numa pedra para não tombar, e duas tigelas de plástico riscadas que já tinham visto dias melhores. Um copo de vidro azul, lascado na borda. Uma garrafa térmica amassada. Um cobertor infantil com desenho de estrelas, rasgado. E, pendurados com um fio de nylon num gancho, dois panos de prato desbotados, alvejados pelo tempo.

O mundo ficou borrado, Amber apertou o pingente na palma com tanta força que a corrente machucou. Chorou sem barulho no começo, depois com som, sem vergonha de desabar ali, naquele buraco escondido do mundo. Tailon se ajoelhou ao lado, uma mão nas costas dela, sem dizer nada, o jeito mais bonito que ele tinha de dizer tudo.

Caleb, perto dos cobertores, baixou a cabeça. Os ombros largos, marcados por cicatrizes novas e antigas, ficaram menores, como se pudesse encolher até caber na própria culpa. A garganta trabalhou, ele quis falar, mas o som saiu falho.

— Eu… — a voz raspou. — Não… con… se… gui.

Amber ergueu o rosto ainda molhado, os olhos duas pedras verdes quebradas.

— Eu sei — disse, e aquilo não era perdão, ainda, mas também não era uma faca. — Eu sei.

Lua foi até Caleb e tocou a mão dele, enorme, pesada, quente, com as duas mãos. Ele não recuou, o peito dele subia devagar, irregular, como de alguém que correu por meses e só agora parava.

— Eles vão ficar bem? — Lua perguntou, e a pergunta já tinha endereço: seus pais. — Meu pai… minha mãe…

Caleb virou o rosto, como quem tenta ouvir algo que está muito longe.

— Luta..r. — disse, devagar, cada sílaba como um passo numa ponte estreita. — Ele… — o nome pesou — A… tlas… forte. Mas… Lu… na… gran… de e… m…mais… forte. — os olhos vermelhos encontraram os dela, quase humanos naquela hora. — Sua… mãe… é… tem… pes… ta… de.

Lua riu triste, fungando. “Tempestade”... Sim, era isso, Lyra era tempestade.

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