Na Lua Sangrenta, o mundo não tinha parado de tentar acabar com ninguém.
O hospital da alcateia cheirava a álcool, erva esmagada e metal limpo. Tinha monitor apitando num ritmo chato, suporte de soro, cortinas brancas que tentavam organizar a urgência em quadrados. Bruxas e enfermeiras passavam, sussurrando em voz de quem se acostumou a dar más notícias como quem oferece chá.
River estava deitado numa maca larga demais pra qualquer outro lobo, mas estreita pra ele. Tinha manchas arroxeadas na pele onde a prata ainda fazia algum estrago, um curativo grosso no flanco, outra faixa no pescoço, nada profundo, mas o suficiente pra fazer o veneno agir mais rápido ao circular pelo sangue. Parecia exausto, estava pálido e os machucados demoravam a se curar, mas as bruxas e enfermeiras estavam fazendo seu melhor para conseguir um antídoto o mais rápido possível.
Lyra parou na porta, respirou uma vez e entrou. Não pedia licença naquele lugar era Luna, esposa, a pessoa que ele procurava até quando dormia.
— Mesmo assim todo acabadinho… — ela disse, como se fosse piada, com um pequeno sorriso. — Continua lindo.
Ele sorriu um pouco, um canto de boca, e esticou a mão de um jeito que dizia “fica aqui”. Lyra encostou na maca, as mãos nos dedos dele, o toque que sempre fechava qualquer ferida que não era de corpo.
— As bruxas neutralizaram o veneno, mas estão preocupadas — ela começou, sem rodeios, porque ele odiava rodeios. — Falaram que nunca viram liga de prata com toxina daquele jeito. Alguém pensou nisso por muito tempo, não é nada conhecido por ninguém daqui.
— Atlas deve ter planejado isso por muitos anos — River respondeu, seco, e a palavra “Atlas” fez o ar mais denso. — Não foi improviso, ele esperou a lua cheia como eu esperaria, veio com o que fazia mais estrago. — A mão dele apertou a dela. — E vai tentar de novo.
— Vai, claro que vai. — Lyra não tinha tempo pra consolo vazio. — Mas você tá vivo, eu tô aqui, e a nossa filha… — prendeu a respiração um segundo, mediu a reação — está segura.
O olhar dele mudou de cor, não o vermelho furioso, o outro, o de pai.
— Do que está falando? Como assim, Lyra? — perguntou, preocupado.
— Ontem ela fugiu da alcateia com Amber e Tailon, e eu garanti que saissem sem deixar rastros. — Lyra tocou de leve a linha do curativo no pescoço dele, acariciando de leve. — Lua foi com o Caleb, é o melhor lugar pra ela ficar até a gente entender como responder isso aqui. — Moveu o queixo na direção do soro. — Você teria feito igual.
River não discutiu, respirou fundo e assentiu.
— Então a questão não é só poder. — Sua voz foi macia, mas firme. — Essa é a vingança dele… — Uma pausa. — Mas vamos dar um jeito, vamos conseguir resolver, meu amor.
— Exatamente isso tá acontecendo por minha causa — River admitiu. — E eu achei que poderia lutar contra ele. — Não pediu desculpa por isso, só colocou na mesa. — Se tem algo que mexe com o meu irmão é ser desafiado na frente de outros. Se a gente não obedecer, ele vai vir com tudo o que tiver.
— Não vamos obedecer, Lua está segura e nós vamos neutralizar Atlas antes que ele ameace Lua de novo.
River soltou um som que poderia ser riso se não tivesse dor misturada.
— Acho que preciso descansar um pouco… — ele disse, contra o próprio impulso de levantar. — Depois disso, eu levanto e a gente tenta encontrar um jeito de resolver isso. Cuida de tudo pra mim enquanto isso?
— Claro, meu alfa — Lyra respondeu, com um sorriso carinhoso, beijando-o de leve e se levantando. — Vamos dar um jeito nisso.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...