Dois dias se passaram desde que o cânion virou casa do grupo, não tinham mais relógios se guiavam pelo sol, Tailon era o melhor nisso, sempre sabia com certeza ou quase que horas eram. A caverna tinha ganhado alguma cara de refúgio: mochilas empilhadas num canto, arrumaram um colchonete velho numa das explorações de Tailon, os panos foram dobrados e postos uns em cima dos outros para ampliar a cama improvisada, garrafas d’água cheias da água do lago que havia numa das cavernas, uma lanterna pendurada por um mosquetão numa saliência da rocha, um kit de primeiros socorros aberto sobre uma caixa plástica com remédios.
E a fera, claro, enorme, tentando ocupar menos espaço do que tinha.
Amber e Lua separavam gaze, pomada e analgésico numa toalha de microfibra enquanto Caleb dormia, encolhido da forma mais confortável possível. A fera sempre deixava a cama improvisada para os três e dormia no chão Amber e Lua sempre o cobriam com alguns cobertores. Ele melhorava devagar, falava mais, tinha menos tremor na voz, memso no corpo de monstro lentamente, Caleb parecia cada vez mais humano.
— Vou dar uma volta no perímetro de novo — Tailon avisou, prendendo o cabelo ruivo com um elástico no meio da nuca. O rádio de mão, que só usavam em emergência, no modo mais fraco para economizar bateria, ficou preso no ombro. — Volto em quarenta, minutos, ok?
— Tá bom, não demora, se não vamos te procurar — Amber respondeu, com um pequeno sorriso, mas o tom deixava claro que se ele passasse um minuto do horário combinado, ela com certeza iria atrás dele.
— Se achar alguma coisa útil, trago pra cá — ele prometeu, já caminhando para a saida. — Qualquer coisa, três toques.
— A gente já combinou cem vezes — Lua sorriu de canto. — Vai.
Ele foi.
O ar no corredor estreito do cânion era frio e úmido, Tailon se movia com o corpo inteiro atento: olhar varrendo, ouvido aberto, todos os instintos atentos com força total. Aprendeu com o pai que o perigo podia vir de qualquer lado e, por isso, sempre estava pronto para qualquer coisa. Dar a volta no “quarteirão” novo deles significava subir por uma linha de rocha mais clara, cortar por um corredor natural onde o vento assobiava baixo, e descer por degraus tortos até um terraço de pedra que dava visão de toda parte leste, onde nunca parecia ter nada
Foi ali que ele ouviu.
Não foi um som de bicho, nem do vento, foi humano: uma respiração em soluços, arrastada, e um gemido cansado que parecia sair junto com as ultimas forças de alguém. Tailon parou, corpo inteiro ficando tenso, pronto para se transformar se fosse necessário, mas não o fazendo no mesmo momento, afinal seja lá quem fosse parecia completamente exausto não seria perigoso. Ao menos era o que ele achava.
— Ei! — chamou baixo,. — Quem tá aí?
Houve silêncio por alguns longos segundos e, então, uma voz feminina, fraca, soou:
— Por favor…
Ele se aproximou pelo lado, primeiro viu um pé descalço sujo de sangue seco e terra. Depois, tornozelos finos com marcas roxas, um anel de ferrugem como se correntes tivessem passado muito tempo presas ali. Dois corpos encolhidos num buraco que fazia um pouco de sombra, uma abraçada à outra.
— Não chega perto! — a mais velha tentou rosnar, mas saiu quase um sussurro. — A gente… a gente só quer… água e,,, descansar… Só um pouco…
— Eu ajudo — Tailon decidiu, porque era isso ou deixar morrer. — É perto. Mas… — e aqui, o aviso necessário — lá tem alguém que pode assustar vocês. Ele não vai machucar, precisam confiar em mim. Conseguem?
A mais velha sustentou o olhar dele por tempo suficiente pra avaliar, e assentiu.
— Eu sou Cecile. — Tocou o ombro da mais nova com cuidado. — Ela é Jully.
— Vamos, Cecile e Jully — Tailon disse, e a forma como ele falou o nome das duas, devagar, com respeito, as fez confiar ainda mais nele. — Devagar, eu te apoio aqui. — Passou o braço por baixo das axilas de Jully e levantou, sentindo o corpo leve demais, o tremor de febre. Pra Cecile ofereceu o ombro. — Fiquem atentas e sigam o que eu mandar tá?
— Combinado — Cecile respondeu por ambas, a respiração controlada à força.
O caminho de volta pareceu mais longo.
Jully tinha o passo manco e o corpo pedindo desistência o tempo todo, Cecile estava um pouco mais forte mas tamb[em precisava andar bem devagar. Quando finalmente chegaram a fenda que levava para o sistema de cavernas onde estavam escondidos, Tailon avisou:
— A gente vai entrar. Vai ter uma luz fraca e… — procurou o termo — alguém grande, mas não fiquem com medo, ele é amigo.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...