— Me desculpa por… por como a gente dormiu. — Ele passou a mão pela nuca, um pouco constrangido. — Você tremia muito. Achei que se eu te aquecesse, ajudaria a estabilizar… seu corpo.
Lyra o olhou devagar, os olhos apertados em desconfiança.
— Você não pode simplesmente… me abraçar enquanto eu durmo.
A acusação foi seca.
Fria.
Como se o pequeno gesto de carinho tivesse sido uma invasão.
River ficou visivelmente desconfortável.
— Eu sei. — Disse baixo. — Não queria invadir seu espaço, só estava tentando ajudar. Você estava queimando, Lyra, fiquei assustado.
Ela cruzou os braços, desviando o olhar, os lábios pressionados numa linha fina. O rosto corado pela febre parecia agora ainda mais vermelho pela vergonha ou raiva, ele não saberia dizer.
River, percebendo a rigidez dela, respirou fundo e se calou. Não queria deixá-la ainda mais na defensiva, o cheiro dela já tinha mudado, estava tensa, assustada.
Levantar o acampamento foi um processo silencioso. Lyra recolheu as coisas menores, ignorando solenemente a presença dele. River apagou a fogueira com terra e cobriu os rastros, tentando não pensar no olhar duro que ela havia lhe lançado.
O sol já estava mais alto quando começaram a caminhar, e mesmo com o terreno difícil e os resquícios da noite mal dormida, Lyra manteve um passo constante, determinada a não parecer fraca. River a seguia alguns passos atrás, atento a qualquer sinal de fraqueza, mas respeitando o espaço que ela parecia desesperada para manter.
Por um longo tempo, o som dos passos sobre as folhas secas foi a única coisa que se ouviu. O silêncio era incômodo, pesado, como se palavras não ditas pesassem entre eles.
Até que, de repente, Lyra quebrou o silêncio:
— Obrigada… pelas ervas.
Foi baixo, quase inaudível.
Mas ele ouviu.
River ergueu os olhos imediatamente, surpreso. Ela não o olhou ao dizer aquilo, continuou caminhando à frente como se não quisesse mais tocar no assunto, mas o coração dele disparou mesmo assim.
— De nada — respondeu com um leve sorriso, a voz mais suave.
Ele sabia que não foram só as ervas, mas não iria questioná-la sobre a possivel ligação da qual desconfiava que Lyra já tinha ciencia.
E então continuaram.
River deixou que ela tomasse a dianteira, observando-a com atenção. O cabelo dela, preso de qualquer jeito, balançava com o vento. O jeito como o sol filtrava pelas árvores e a tocava deixava a pele dela ainda mais pálida e bonita. Mesmo emburrada, mesmo desconfiada, ela era… linda.
Mas o que mais o fazia se perder era o cheiro.
Delicado, doce e o acalmava mesmo quando ele estava furioso por dentro.
Aquilo só confirmava o que entendeu na noite anterior, e saber disso parecia tornar o vinculo ainda mais forte, parecia fazê-lo querer estar cada vez mais perto. Estava cada vez mais certo de que Lyra era sua companheira, que seu lobo a reconhecia antes mesmo que ele compreendesse com a razão.
Mas ela ainda estava ferida.
Assustada.
Cheia de cicatrizes que ele ainda não compreendia.
Então ele precisava ir devagar.
Provar que não era uma ameaça.
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