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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 140

O acampamento de Atlas fervia em tensão, as fogueiras queimavam alto, o cheiro de ferro e suor se misturava ao vento. Três batedores se ajoelharam no centro, diante do rei, com a cabeça baixa. Atlas estava em pé, braços cruzados, o olhar como lâmina.

— Repitam — ordenou, a voz cortante. — O que vocês disseram?

O primeiro tentou falar sem gaguejar.

— Encontramos o monstro, meu rei. No cânion, ao norte. Mas... fomos atacados por raposas.

Atlas se inclinou levemente.

— Raposas?

— Sim, senhor. Eram metamorfos, duas, elas nos… Nos expulsaram e salvaram o monstro.

O segundo batedor se apressou em acrescentar:

— Elas protegeram a fera, meu rei. Nos... achamos rastros humanos. Pareciam ter saído de uma caverna próxima, mas quando voltamos com reforços, já tinham sumido.

Um silêncio pesado caiu sobre o grupo, Atlas andou devagar até eles, os passos firmes, o som seco das botas ecoando no chão de pedra.

— Então vocês... — ele começou, em tom calmo demais — encontraram a fera. E... deixaram que um bando de raposas os expulsasse. — Ele ergueu uma sobrancelha. — É isso mesmo?

Ninguém respondeu.

O som veio antes que alguém piscasse: um golpe. Atlas cravou o punho no rosto do primeiro batedor, que caiu de lado, cuspindo sangue.

— Fracos! — ele rosnou. — Inúteis! — A mão se fechou de novo, o peito subindo e descendo rápido. — Se eu quiser algo bem-feito, preciso fazer eu mesmo!

O terceiro batedor tentou argumentar, a voz trêmula:

— Meu rei, nós estávamos em menor número…

Atlas virou o olhar e o silêncio voltou, o batedor engoliu as palavras e abaixou a cabeça.

— Preparem o grupo de caça — Atlas ordenou. — Vamos ao cânion. Agora!

***

A lua estava alta quando eles chegaram ao local, as lanternas iluminavam as rochas e o vento carregava o cheiro de terra e poeira. Atlas andava na frente, em forma humana, os olhos refletindo a luz.

Os soldados se espalharam, revistando cada canto.

Um deles chamou.

— Aqui! — gritou, apontando para uma fenda escura.

Atlas entrou na caverna, o corpo tenso. O chão ainda guardava marcas de pés, o cheiro de lobo, humanos e raposas. Ele se agachou e tocou o chão, os dedos passando por uma gota seca de sangue.

— Estiveram aqui. — O tom do rei era baixo, frio. — Todos.

Levantou o rosto, inalando o ar com força. Os cheiros ainda estavam frescos.

— Faz... — ele fechou os olhos, farejando de novo — ...três horas. Talvez menos.

O rugido saiu sem aviso. Atlas se ergueu de um salto, a pele tremendo sob a força da transformação, o corpo se expandiu, a carne cedendo lugar ao pelo cinzento, e a fera se libertou.

O lobo colossal avançou, as garras riscando as pedras. O som do impacto ecoou pelo cânion. Atlas destruiu tudo o que encontrou: pedras, armas deixadas para trás, mantos rasgados. O rugido dele fez os soldados recuarem.

Um deles tentou falar algo, mas o lobo virou a cabeça e o olhar bastou. Ninguém mais ousou se mover.

Quando enfim parou, o chão da caverna estava coberto de destroços. Ele voltou à forma humana, os olhos queimando de raiva.

“Se eu tivesse chegado antes…” murmurou. “Teria ela em minhas mãos agora.”

***

No acampamento das raposas, o ar era outro, o cheiro de ervas queimando suavemente, o barulho constante da água correndo por baixo das pedras. A noite seguia calma, apesar da tensão que todos carregavam.

Jully ainda dormia, o corpo coberto por lençóis e ataduras limpas. Bertil cuidava dela, incansável, Caleb descansava próximo, em silêncio, a respiração pesada, as garras retraídas.

Renee, a anciã, chamou Lua com um gesto.

— Venha. Quero te mostrar algo.

Lua levantou, ajeitando o casaco sobre os ombros, e seguiu a raposa mais velha por um túnel estreito. As paredes eram cobertas por musgos brilhantes e pequenas luzes elétricas presas em fios iluminavam o caminho. Depois de alguns minutos, o corredor se abriu num salão enorme de pedra clara quase branca.

O som da água ecoava forte e, à frente, um lago cristalino se estendia, cercado por colunas naturais. A superfície era turquesa, iluminada por pontos de luz vindos do teto.

Lua parou, surpresa.

Um campo de lua cheia, o chão coberto por cinzas. Caleb ajoelhado, a forma de fera se misturando à humana. Ele gritava o nome dela, mas a voz não saía. As correntes presas ao corpo dele brilhavam em prata viva.

Uma voz sussurrou dentro da cabeça de Lua, a mesma voz que ela ouvia em sonhos desde criança: “Só você pode libertá-lo. O sangue da oráculo quebra a maldição da fera e talvez… Talvez ele consiga finalmente alcançar sua verdadeira face.”

Lua viu uma marca, desenhada em chamas no peito de Caleb, pulsando como ferida. A cada batida, o brilho diminuía.

“Mas se outro o fizer primeiro…”

As imagens mudaram, Atlas apareceu, a pele coberta por tatuagens negras, os olhos vermelhos. Ele segurava Lua pelos ombros e marcava seu pescoço com os dentes, a dor atravessando o corpo dela. Caleb, em forma de fera, rugia, mas sua voz se partia no ar.

A marca queimava, e o homem dentro do monstro se apagava, só o animal permanecia, cego e furioso.

Lua tentou correr, mas o chão cedeu, a água engoliu tudo.

Ela abriu os olhos, ofegante, voltando à superfície do lago. A respiração saía rápida, o coração batendo descompassado.

Renee a ajudou a sair, cobrindo-a com uma toalha.

— O que viu?

Lua engoliu seco.

— Eu vi ele… Caleb. Vi a marca. — Olhou para Renee, assustada. — Se outro me marcar, o homem dentro dele morre. Só vai sobrar a fera.

Renee assentiu, o olhar sério.

— Então agora você sabe o que precisa proteger.

Lua respirou fundo, o corpo tremendo.

— Atlas vai tentar.

— Sim — respondeu a raposa. — E é por isso que precisamos agir antes dele.

Lua olhou o reflexo do lago atrás de Renee, a água ainda brilhando em turquesa. Sentiu o peso da visão latejar na cabeça, a certeza de que o tempo deles estava acabando.

E, enquanto o vento frio atravessava o túnel, ela soube: o próximo ataque de Atlas não viria por força, viria pela marca.

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