O hospital improvisado das raposas ficava numa parte mais alta do acampamento, era uma grande tenda e tudo ali era silencioso, as pessoas mal passavam por perto para não incomodar aqueles que precisavam de cuidados. Lá dentro, o ar cheirava a álcool, ervas e remédios. Jully estava deitada numa das macas, o corpo coberto por lençóis limpos. Suava, mas já não tremia tanto, o que já era bom.
Bertil permanecia sentado ao lado dela, quase sem piscar, estava ali a horas, verificando pessoalmente cada sinal vital da loba, procurando qualquer sinal de que seu corpo ainda estivesse lutando. A cada pequeno movimento, ele se inclinava, atento, medindo a temperatura da pele dela, o ritmo da respiração.
Cecile apareceu com uma tigela de água e um pano úmido.
— Você precisa descansar um pouco — disse, colocando a tigela na mesa. — Eu posso cuidar dela agora, já ajudou muito.
— Ela ainda está fraca — respondeu ele, sem desviar o olhar. — A febre pode voltar.
— Eu sei — Cecile assentiu, suspirando. — Mas você não pode ficar aqui a noite inteira.
Bertil finalmente olhou pra ela, os olhos dourados estavam cansados, mas firmes.
— Ela é forte, só precisa de tempo.
Cecile o observou por um momento e percebeu o que ele ainda não tinha coragem de admitir.
— Você sente o vínculo, não sente?
Ele desviou o olhar, o maxilar travando.
— Não sei do que está falando.
— Sabe sim. — A voz dela saiu suave, sem acusação. — Eu já tive um companheiro reconheço esse olhar.
O rapaz respirou fundo, balançando a cabeça e se levantando.
— Pare de pensar besteiras, lobos e raposas não podem formar vínculos, a deusa une apenas seus iguais, todo mundo sabe disso.
— O destino nunca se importa com o que pode ou não acontecer — disse Cecile, molhando o pano e passando na testa da amiga. — Mas se for verdadeiro, vai sobreviver a qualquer regra.
Bertil ficou em silêncio, tocou de leve a mão de Jully, sentindo o calor da pele dela. Seu coração bateu mais rápido, mais forte, mas então ele se afastou e suspirou, saindo do hospital mais rápido do que pretendia.
***
Na parte externa do acampamento, Solaris caminhava com Amber. As duas carregavam canecas de chá, o vapor subindo entre elas. O clima estava leve, pela primeira vez em dias e ninguém precisava correr ou fugir.
— Então vocês vivem aqui há muito tempo? — perguntou Amber.
— Desde antes da guerra dos montes — respondeu Solaris. — Quando as cidades começaram a se expandir, escolhemos ficar na mata. Mantivemos o que era nosso e aprendemos a usar o que veio dos humanos. — Ela apontou para o gerador que zumbia ao fundo. — Energia solar, conexão via satélite. A gente se adapta.
Amber riu de leve.
— Vocês são mais organizadas que metade das alcateias que eu conheço. Minha mãe também organizava a nossa assim.
— Temos que aproveitar o melhor que conseguimos dos humanos sem perder nossa essência, né?
Amber sorriu, balançando a cabeça.
— É... faz sentido.
Solaris observou Tailon, que conversava com alguns guerreiros adiante. O jeito dele, meio desajeitado, meio atento demais a Amber, era óbvio.
— E vocês dois? — perguntou, arqueando a sobrancelha.
Amber fingiu não entender.
— O quê?
— Você e o ruivo. Estão juntos?
Amber engasgou no chá e tossiu.
— N-não. Quer dizer... ainda não.
— Ainda? — Solaris riu, divertida. — Então tem chance.
Amber corou.
— Ele é... complicado.
— Homens sempre são — respondeu Solaris. — Mas vocês formam um casal bonito.
Amber não respondeu, só olhou para Tailon por um instante e sorriu de canto.
***
Lua fechou os punhos.
— Isso destruiria tudo.
— Sim. E é por isso que precisamos agir antes dele testar.
Ela ficou em silêncio por um tempo, observando o reflexo das duas na água.
— Eu ainda não sei o que posso fazer... — confessou Lua.
Renee se levantou, apoiando-se na bengala de madeira.
— Você vai saber quando for hora. O poder dentro de você está acordando. O vínculo com a fera é a chave, e só você pode decidir se o homem vence o monstro.
Lua ficou parada, olhando a superfície calma do lago.
***
A muitos quilômetros dali, Atlas atravessava o acampamento com passos duros, o vento da noite fazia o fogo das tochas dançar, o rosto dele ainda estava manchado de sujeira da caverna destruída.
Dentro da tenda central, uma bruxa velha o aguardava. A pele enrugada, os cabelos brancos trançados em mechas finas, e os olhos tão claros que pareciam vidro.
— Está quase pronto — disse ela, sem rodeios. — O uivo de comando, só falta uma coisa.
Atlas arqueou uma sobrancelha.
— E o que seria?
— O sangue da oráculo. — Ela sorriu, mostrando os dentes escuros, então mostrou um pequeno fracos com uma poção escura. — É o que vai ligar a magia à carne. Misture o sangue dela aqui e beba, mas faça isso apenas na lua de sangue, então você vai conseguir comandar qualquer um até o alfa supremo.
O sorriso do alfa cresceu, frio e cheio de poder. A possibilidade de poder subjugar seu irmão, de forçá-lo a caçar sua propria filha… Aquilo lhe dava uma felicidade genuina que nã conseguia conter.
— Finalmente, uma boa notícia.
Ele virou-se para o mapa estendido sobre a mesa. O dedo percorreu as linhas desenhadas até o ponto onde ficava a alcateia inimiga.
— Preparem tudo. — O tom era firme, quase calmo. — Na próxima lua de sangue, o mundo vai se ajoelhar.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...