O sol ainda nem tinha subido por completo quando Renee chamou Lua para fora da caverna. O ar da manhã estava frio, e o chão coberto de orvalho do amanhecer. O acampamento das raposas começava a despertar aos poucos, o barulho de vozes, de passos, de ferramentas, pessoas começando a preparar as refeições do dia.
Renee caminhava à frente, com um tipo de manto amarrado nos ombros e o cabelo preso em uma trança grossa. Lua a seguiu, esfregando as mãos para aquecer os dedos, estava usando roupas que lhe deram no acampamento, uma blusa de mangas longas meio folgada e calças jeans. Seus cabelos brancos estavam presos num rabo de cavalo.
— Vamos começar simples — disse a raposa, parando no meio de uma clareira aberta entre as rochas. — Você tem dentro de si algo que ainda não sabe usar. Seu dom não é só ver o que vem, é também sentir o que tentam esconder de você..
Lua franziu a testa.
— O que quer dizer?
— A verdade. — Renee apontou para o peito dela. — Oráculos têm o dom da visão, sim, mas também tem algo que eu chamo de zona da verdade. Se alguém mente para você, você vais aber, desde que saiba como usar esse poder. E quando você aprender a dominar isso, vai poder arrancar verdades só com o olhar. Além disso, o dom da visão também te dá a habilidade de prever os movimentos de seu oponente em batalha, e isso pode, e com certeza vai, salvar sua vida.
Lua engoliu em seco.
— Parece... intenso.
— É. — Renee sorriu. — Mas você vai precisar ser intensa também.
Solaris apareceu do outro lado da clareira, vestindo calça escura e uma blusa simples, o cabelo preso.
— Posso participar do treino de hoje?
— Pode — respondeu Renee. — Quero que Lua tente sentir o que você sente, nem precisa falar.
Solaris se aproximou, os pés firmes no chão.
— Vai com calma, novata. Eu sou rápida.
Lua riu de leve, levantando as mãos.
— Eu percebi.
Renee recuou alguns passos.
— Concentre-se, Lua. Feche os olhos e escute o corpo dela.
Lua respirou fundo, tentando se desligar dos sons do acampamento. O vento passava pelas folhas, o cheiro de terra úmida enchia o ar. Quando Solaris deu o primeiro passo, Lua sentiu algo, um estalo no ar, uma vibração leve.
Ela se moveu para o lado no mesmo instante, escapando de um golpe que viria no ombro.
— Boa — disse Renee, satisfeita. — Continue.
Solaris atacou de novo, mais rápida, Lua desviou, mas por pouco. O coração batia alto, o corpo leve. De repente, ela viu, por um segundo, como um flash, a imagem do próximo movimento da raposa: um chute baixo. Lua ergueu o joelho, bloqueando o golpe.
Solaris recuou, surpresa.
— Ela viu.
— Está começando a sentir — comentou Renee. — Mas ainda precisa aprender a usar o que sente.
Lua limpou o suor da testa.
— Eu... vi antes de acontecer. Tipo um eco.
— Isso é o instinto da oráculo. — Renee deu um passo à frente. — Você precisa confiar nele.
Treinaram até o sol alcançar o meio do céu. Lua tropeçou algumas vezes, caiu, levantou, mas continuou. Cada acerto deixava Renee mais confiante, cada erro, mais determinada.
Quando enfim pararam, Lua estava suada, o cabelo grudado na testa. Solaris se aproximou e deu um leve empurrão no ombro dela.
— Você aprende rápido.
Lua riu, ofegante.
— Só porque você pega leve.
— Ah, eu nunca pego leve — respondeu a raposa, sorrindo.
***
No fim da tarde, Lua voltou para a caverna onde Caleb descansava. Ele ainda estava em sua forma de fera, o corpo enorme deitado sobre panos improvisados. As garras grandes reluziam sob a luz do fogo, mas os olhos... eram tranquilos.
— Trouxe comida — disse ela, se aproximando. — Você precisa comer direito.
Ele virou o rosto, os olhos vermelhos acompanhando cada passo dela.
— Difícil... pegar.
Lua olhou para as mãos dele, grandes demais para segurar qualquer coisa pequena. Sentou-se ao lado e pegou o pote.
— Vou te ajudar.
— Não precisa.
— Precisa sim. — Ela mergulhou a colher no ensopado e ergueu até perto da boca dele. — Abre.
— A gente ainda tem quatro dias antes do prazo dele,nossa filha tá segura e, até lá vamos estar prontos.
— Quatro dias não é nada. — River fechou os olhos. — Eu devia ter acabado com ele quando tive chance.
— Você não tinha escolha. — Lyra tocou o braço dele. — E a nossa filha está viva por causa do que você fez.
Ele ficou em silêncio, o maxilar travado.
— Eu falhei em proteger ela.
— Não. — Lyra segurou o rosto dele entre as mãos. — Lua tá viva porque você a criou pra lutar. E porque ela tem o sangue da Lua Sangrenta correndo nela.
River respirou fundo e encostou a testa na dela.
— Então, vamos rezar pra isso ser o bastante.
***
No acampamento de Atlas, a noite estava densa. O alfa observava a fogueira com um olhar perdido, preso nos proprios pensamentos pensamentos que ninguém nunca conseguia decifrar..
— Meu rei — disse um deles, curvando-se. — Nossos espiões já mapearam os turnos de guarda da Lua Sangrenta.
Atlas virou o rosto devagar.
— E?
— A Luna costuma sair à noite. Faz as rondas pelo hospital e pelos portões.
Atlas sorriu, um sorriso frio.
— Então ela se separa do alfa.
— Sim, senhor. Ela tem sua rotina com as mulheres, mas acredito que a janela de tempo que fique sem o alfa agora está muito menor, devido a tudo o que aconteceu.
Ele se levantou, o olhar brilhando de satisfação.
— Ótimo. — Olhou para os homens diante dele. — Precisamos tirá-la de perto dele. Se a Luna cair, o alfa cai junto, e o plano não vai falhar. Mas se aquela maldita estiver com ele, a voz de comando não vai funcionar, ela vai protegê-lo.
O fogo estalou, refletindo nos olhos prateados de Atlas.
— Faltam quatro dias — ele disse, a voz baixa, firme. — E quando o prazo acabar, o sangue deles vai ser meu.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...