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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 150

A tarde tinha um peso estranho.

O céu estava limpo, o vento gelado demais para o fim de tarde, e a alcateia parecia respirar por conta própria, já que tinha gente cruzando o pátio com passos apressados, rádios de bolso chiando, crianças reclusas dentro de casa porque “hoje não é dia de brincar lá fora”. River ainda estava acamado, melhorando, mas cada movimento dele custava esforço, porém, Lyra preferia ver seu amado acordado e furioso do que sedado e quieto, mas os curandeiros foram firmes com as recomendações, repouso, antídoto, repouso de novo.

Porém, faltava um dia para o prazo de Atlas acabar.

Lyra riscou mais um X no quadro branco da sala, passou a ponta dos dedos pelo cronograma de patrulhas e respirou fundo.

O rádio preso ao cinto de Lyra estalou.

— Portão sul, ok. Leste fechadas, ok. Posição dos soldados, ok. Prossigo patrulha oeste.

— Copiado — Lyra respondeu, a voz firme sem forçar.

Ela ia cruzar o pátio para verificar o barracão de suprimentos quando algo alcançou o fundo do peito como um fio puxado sem aviso, uma voz.

“Mãe.”

Não veio pelo rádio, muito menos chamada de sentinela, foi sua filha, Lua, chamando com uma voz baixa, urgente, como se sussurrasse do meio da mata. Lyra parou no ato, o corpo inteiro em alerta, afinal, sabia que aquilo não era normal, não assim, não desse jeito.

“Lua?” chamou de volta, mentalmente, a pele formigando. “Onde você está?”

Silêncio… e então, outra vez, “mãe”, um pouco mais longe. O coração de Lyra errou o ritmo, era tarde, o sol ainda tocava os topos das árvores, mas a mata já estava escura nas beiradas. A voz chamando e se afastando parecia alguém puxando uma linha até que arrebentasse.

Ela atravessou o portão interno, passou pelo corredor de serviço e entrou na trilha estreita que sumia entre as árvores, o cheiro de eucalipto e terra molhada invadindo os pulmões; por cima, o cheiro conhecido, fraco, mas estava lá.

— Lua! — chamou em voz alta agora. — Onde você…

A resposta não veio em som, veio em sensação, um aperto na boca do estômago, a certeza desconfortável de que havia alguém esperando logo adiante. Lyra parou, um passo antes de sair da sombra da última árvore.

A pele dela arrepiou dos braços às costas, e sabia que não era o vento, nem qualquer outra coisa, eram emoções uma maré de coisas ruins vindo como se alguém despejasse tinta preta sobre um lago. Ódio, prazer na dor, uma fome antiga de vencer e, misturado, um traço afiado de vingança.

Atlas.

— Maldito — sussurrou, e o sussurro não era medo, era reconhecimento. — Eu devia ter desconfiado!

Ela fechou os olhos rápido, e antes de qualquer outro movimento, jogou a mente adiante como uma rede de pesca, buscando a única pessoa que sabia que faria exatamente o que ela mandasse sem questionar.

— Eu aprendi bastante desde a última vez — ele comentou, leve. — E você, aprendeu a perder?

— Ainda não — Lyra respondeu, calma de propósito. — Vê se aprende você. — Ela olhou por cima do ombro dele, para a mata silenciosa. — E da próxima, tenta vir realmente sozinho, se a ideia é me provar alguma coisa. Tô sentindo uns sete ao redor, oito, talvez.

O sorriso morreu, a voz dos grilos desapareceu. Foi uma transição tão limpa que o corpo de Lyra se preparou sem ela perceber, o ar afunilou e a luz entre as folhas diminuiu como se alguém passasse um véu.

A dor veio sem aviso.

Um estalo seco cortou a trilha, algo picou o antebraço esquerdo de Lyra, imediatamente um calor estranho espalhou sob a pele, e olhando instintivamente para baixo, um dardo, com um filete de líquido roxo escorrendo devagar, tingindo as veias ao redor de onde estava fincado.

— Covarde. — Ela arrancou o dardo sem gemer e jogou no chão, o cheiro do composto subiu, amargo, químico, e Lyra sabia que tinha bruxaria no meio.

— Nunca disse que seria justo — Atlas respondeu, sem pressa. — Disse que te ensinaria a perder só isso.

Lyra deu um passo para a direita e o mundo balançou, o foco duplicou por uma fração de segundo e reencaixou, enquanto ela piscou, cerrou a mandíbula.

— Desisti de brincar com você, Atlas. — Os olhos dela ficaram quase prateados. — Cadê o resto? Acha que vai conseguir me levar sozinho dessa vez? Está tão convencido assim?

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