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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 151

O som da chuva batendo contra o tecido grosso da tenda foi a primeira coisa que Lyra ouviu ao acordar. A cabeça latejava, seu corpo inteiro doía, até tentou se mover, e quando o fez, o som do metal tilintando quebrou o silêncio abafado do lugar.

As mãos estavam presas acima da cabeça, correntes grossas de prata atravessando os pulsos. Assim que tentou forçar o movimento, o metal queimou sua pele, e um choque elétrico percorreu o corpo inteiro. Lyra gritou, o som rouco, dolorido, ecoando dentro da tenda luxuosa.

A respiração saiu em ofegos curtos, o ar cheirava a sangue, vinho e incenso. Ela olhou ao redor, encontrando tapetes vermelhos, velas acesas, cortinas de seda, o contraste do luxo com a sujeira do chão a enojou.

Sabia exatamente onde estava, o cheiro não deixava esconder, aquela eram as terras de ninguém um lugar que ela conhecia melhor do que desejava e que lhe trazia lembranças ruins de antes de sua família, da noite em que conheceu River, anos atrás.

Mas não estava num ponto qualquer daquele território, no ar também sentia um cheiro que já estava impresso em sua memória, Atlas. Ele a havia levado para seu acampamento.

A raiva cresceu dentro dela, quente e sólida, e a Luna forçou as correntes mais uma vez, ignorando a dor da prata queimando sua pele.

— Merda... — sussurrou entre os dentes, tentando conter o grito.

O som da corrente arrastando chamou atenção do lado de fora e a entrada da tenda se abriu com um movimento lento e teatral, então Atlas entrou sorrindo. O sorriso dele era o mesmo de sempre, largo, cruel e satisfeito, usava uma camisa aberta até o peito, o colar de ossos e dentes pendendo sobre a pele marcada por tatuagens antigas.

Os olhos brilhavam sob a luz das velas, cheios de um prazer doentio ao vê-la assim.

— Olha só quem resolveu acordar... — disse, com voz suave, quase gentil. — A Luna da Lua Sangrenta, que honra te ter ajoelhada no meu chão.

Lyra ergueu o rosto, os cabelos desgrenhados caindo sobre os ombros, mesmo ferida, mesmo fraca, o olhar dela queimava.

— Você devia ter me matado quando teve a chance, Atlas.

Ele deu uma risada baixa, aproximando-se.

— Eu pensei nisso. Mas onde estaria a graça?

Com um movimento brusco, agarrou o cabelo dela e a puxou para cima, forçando-a a se ajoelhar e olhar para ele. Lyra arfou, mas não desviou o olhar.

— Agora sim — ele disse, a voz soando satisfeita. — Assim que você fica melhor, no chão, abaixo de mim.

Ela sorriu, mesmo com a dor.

— Eu já estive de joelhos antes, mas sempre levantei. E quando eu levantar de novo... vou arrancar seus olhos com as minhas próprias mãos.

Ele se inclinou, o rosto a poucos centímetros do dela.

— Cuidado com o que promete, Luna. O veneno no seu sangue ainda vai te deixar fraca por dias. — Passou um dedo pela corrente de prata, fazendo um estalo ecoar. — E eu ainda tenho planos pra você.

— Planos? — ela cuspiu a palavra. — Você não passa de um covarde com delírios de grandeza.

Atlas riu de novo, o som abafado, quase divertido.

— Meu irmão escolheu bem. — A voz dele ficou mais baixa, arrastada. — Você é muito mais forte que ele. Por isso, tive que tirar você de perto.

— River vai te destruir. — Lyra rosnou. — E quando ele vier, você vai implorar pra morrer.

— Ah, River... — Atlas zombou. — O coitadinho do alfa perfeito. Sempre o favorito, sempre o “abençoado pela deusa”, o grande supremo. — O sorriso dele sumiu. — Sabe o que é crescer sendo o segundo? Sendo o erro? O filho que nunca devia ter nascido sendo que sou mais velho que aquele maldito? — O tom dele ficou tenso, carregado. — Eu nasci cinco minutos antes, Lyra, cinco malditos minutos. Era pra eu ser o alfa, era pra eu herdar o trono! Mas o velho achou que River era “mais digno”, que a alcateia precisava de um alfa “especial”...

Lyra o observava em silêncio, o olhar frio.

— Então é isso? É por isso que você massacrou clãs inteiros? Porque seu papai não te escolheu?

Ela o ignorou, os lábios se curvando num meio sorriso.

— Quero ver você tentar.

Atlas a puxou pelos cabelos de novo, fazendo-a encará-lo, o olhar dele ardia de ódio e orgulho ferido, mas, pela primeira vez, havia algo diferente ali, um traço de dúvida.

Lyra viu e sorriu.

— Você pode me prender, me torturar, mas nunca vai vencer. — A voz dela saiu firme, mesmo fraca. — Porque no fundo, você sabe... que eu nunca vou temer você, sabe que na primeira oportunidade que eu tiver, vou te matar. Não existe um mundo onde eu estou viva e você não está em perigo, Atlas.

Atlas ficou em silêncio por um momento, depois, soltou o cabelo dela e se afastou.

— Vamos ver quanto tempo essa coragem dura. — Ele passou a mão pelo rosto, se recompondo. — A propósito... — Parou na porta, olhando por cima do ombro. — Sabe o que é mais bonito em tudo isso?

Lyra não respondeu.

O sorriso dele voltou, gelado.

— Sua filha herdou seus olhos.

E saiu, deixando a tenda mergulhada no cheiro de prata queimada e medo contido.

Lyra ficou sozinha, o corpo latejando de dor, o sangue escorrendo pelos pulsos, mas quando fechou os olhos, viu o rosto de Lua, e o ódio virou força.

— Eu vou te achar, minha menina — sussurrou. — E quando eu sair daqui, Atlas... você vai desejar nunca ter me tocado.

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