O ar da madrugada era espesso e silencioso.
Só o som das botas no chão úmido quebrava o silêncio enquanto o grupo deixava para trás a toca das raposas. Renee vinha na frente, o manto puxando a poeira leve do caminho e, antes de cruzar a fenda de pedra que marcava a saída do cânion, ela olhou por cima do ombro e chamou um dos guardas.
— Fique atento, Lark. — A voz dela era firme, mas baixa. — Se eu não mandar notícia até o amanhecer, você reúne metade do bando e vem atrás. Leve as curandeiras também.
— Sim, anciã. — o soldado respondeu, o rosto sério.
Ela assentiu uma vez e voltou a andar.
Lua seguia logo atrás de Caleb, ele caminhava em silêncio, o corpo tenso, o olhar firme no horizonte. Era estranho vê-lo assim, quase totalmente humano, mas ainda com a sombra da fera nos ombros. Amber e Tailon vinham juntos, de mãos dadas, tentando disfarçar o medo que apertava o peito de ambos. Solaris e Bertil fechavam a formação, atentos a qualquer som.
O caminho que saía dos cânions se abria lentamente na floresta. Árvores altas, a brisa fria, os pássaros que cantavam alto demais, como se tentassem avisar algo.
Era bonito, e ao mesmo tempo, assustador.
— Faz tanto tempo... — Solaris murmurou, quebrando o silêncio. — Nem lembrava de como o ar daqui é leve.
Bertil olhou para a irmã.
— Leve pra você. Eu ainda sinto cheiro de guerra.
— Isso é porque você é um frouxo. — Ela tentou sorrir, mas o tom saiu tenso.
Renee ouviu o diálogo e comentou, sem olhar para trás:
— Vocês dois se esqueceram do que é viver. Hoje, tentem lembrar.
Ninguém respondeu.
A floresta se tornou mais densa conforme se aproximavam da fronteira da Lua Sangrenta. O céu começou a mudar de cor, o azul queimado do dia dando lugar ao dourado do entardecer.
Lua sentia o coração disparado.
A cada passo, a ansiedade crescia.
Ela não sabia o que iria encontrar, se o pai estava vivo, se a mãe estava bem, se ainda havia uma casa para voltar.
Caleb percebeu o ritmo acelerado da respiração dela.
— Vai ficar tudo bem — disse, baixo, sem virar o rosto. — A gente já tá quase lá.
Ela olhou para ele e tentou sorrir.
— Eu sei. Mas, Caleb... tô com medo do que vamos encontrar, e se Atlas já...
— Vai dar tudo certo. — Caleb apertou o passo. — Su pai é o alfa supremo, ele não vai entregar sua casa assim tão fácil.
***
O portão da Lua Sangrenta apareceu entre as árvores, alto, reforçado, guardado por dois lobos armados. O símbolo da alcateia estava pintado em tinta nova. Quando os guardas viram Lua, o choque foi imediato.
— É a filha do Alfa! — gritou um deles, correndo para abrir o portão.
O som metálico ecoou alto demais e, antes que o portão se abrisse completamente, uma voz rugiu do pátio.
— Incompetentes! — River.
Lua congelou, aquele tom de fúria rasgava o ar como faca.
Ela correu os olhos para dentro, o pai estava no meio do pátio, o corpo ainda forte apesar do cansaço, a expressão tomada por raiva e desespero. Soldados se afastavam, curandeiros observavam à distância.
— Eu pedi pra dobrar as patrulhas! — River rugia. — E mesmo assim, deixaram ela desaparecer? Como?!
— Pai! — Lua gritou.
Ele parou, o silêncio caiu pesado.
O Alfa Supremo virou-se devagar, os olhos vermelhos ainda brilhando. Por um segundo, ele não acreditou, mas o cheiro dela o alcançou, e seu coração de pai acelerou por um instante. Lua deu dois passos à frente e, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele a puxou num abraço forte, seus braços grandes envolvendo todo o corpo da filha, escondendo-a em seu peito.
— Minha menina... — a voz dele saiu embargada. — Lua...
Ela o abraçou de volta, o coração apertado.
— Eu tô aqui, pai.
O corpo dele tremia. A raiva parecia dissolver enquanto ele a segurava, e, por um momento, ele não era o Alfa, só um pai que achou que tinha perdido tudo.
— Achei que nunca mais ia te ver. — Ele recuou um pouco, olhando o rosto dela. — O que você tá fazendo aqui? É perigoso!
— Não sou desconhecida pra Lua. — Renee a observava com calma. — E sinto o que há dentro de você, Petra. Culpa. Medo. E uma pergunta que não quer calar.
Petra respirou fundo, tensa.
— Você consegue mesmo... sentir isso?
— Posso ver além do que você tenta esconder. — A raposa inclinou levemente a cabeça. — Fala o que tem pra dizer, talvez eu possa ajudar.
Petra hesitou por alguns segundos, olhando para os lados. Depois, baixou a voz.
— É sobre Lyra.
Renee manteve o olhar sereno.
— Eu imaginei.
— Ela me mandou um link mental antes de desaparecer. — Petra engoliu em seco. — Disse que caiu numa armadilha, mas que não precisávamos nos preocupar com ela, que tinhamos que salvar Lua.
O olhar de Renee ficou sombrio.
— E o Alfa ainda não sabe sobre isso, não é?
— Se ele souber agora, vai enlouquecer. — Petra passou a mão pelo rosto. — E se perder o controle, Atlas vence. Só Lyra consegue controlar River, sem ela, ele enlouquece.
Renee ficou em silêncio por um instante, o vento frio mexeu o manto dela.
— Então a gente precisa agir antes.
— Como? — Petra perguntou.
— Vamos seguir o que sua Luna disse — Renee respondeu. — Pelo que sei, ela é uma lider forte então, vamos obedecer.
Petra assentiu
— E o que fazemos? Como tiramos Lua da rota de Atlas? Ela está bem ali!
Renee sorriu de leve.
— Eu vim para ajudar nisso.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...