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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 154

A Lua Sangrenta dormia em silêncio.

Lá fora, o vento passava entre as copas das árvores, trazendo o cheiro da chuva distante e do metal fresco das armas recém-afiadas. A maioria dos lobos já havia se recolhido, preparando-se para a vigília da madrugada e para a guerra que viria, mas Petra ainda estava acordada.

Caminhava rápido pelos corredores de pedra, o rádio preso ao cinto, o casaco jogado sobre os ombros. O som dos próprios passos era a única coisa que quebrava o silêncio do abrigo. Quando passou pela porta da enfermaria, olhou de relance: River dormia, exausto, e dois curandeiros vigiavam o quarto em silêncio.

Ela desviou o olhar e continuou até a saída lateral, onde Renee já a esperava, o capuz cobrindo metade do rosto, o manto preso por uma faixa de couro escuro.

— Por aqui — Petra disse, sem parar de andar.

As duas atravessaram o pátio vazio e seguiram até uma pequena casa um pouco mais distante da mansão, um chalé de madeira cercado por pinheiros, com um jardim bem cuidado, as luzes estavam apagadas. Petra abriu a porta e deixou a raposa entrar primeiro.

— Essa é sua casa? Achei que morasse na mansão principal — Renee perguntou, olhando em volta.

— É sim, aqui podemos escolher uma casa da vila quando nos casamos ou precisamos de mais espaço, não quis ficar na casa central depois que me uni com Solomon — Petra acendeu uma lâmpada na parede. — E é aqui que ninguém vai ouvir a gente.

O interior era simples: uma mesa, duas cadeiras, uma lareira apagada e pilhas de relatórios espalhadas sobre o balcão, flores na janela, um tapete no chão, tudo delicado e bem arrumado. Petra afastou uma pilha de papéis e serviu café em duas canecas.

— Pode falar — Renee disse, sentando-se. — O que está acontecendo?

Petra segurou a caneca com as duas mãos, mas não bebeu. Ficou em silêncio por alguns segundos, até que o olhar firme da raposa a forçou a falar.

— Eu sabia. — Ela soltou, de repente. — Eu sabia que a Lyra estava desaparecida antes do Alfa.

Renee não reagiu de imediato, apenas esperou.

— Quando senti a ligação quebrando, eu soube. — Petra continuou. — Mas ela me mandou focar em cuidar de Lua, disse que iria se virar.

— Ela mandou? — Renee perguntou, arqueando uma sobrancelha. — Mesmo sabendo o risco?

Petra assentiu, os dedos tamborilando na borda da caneca.

— A Lyra sabia que River não aguentaria mais um golpe, o corpo dele ainda tá fraco. Se ele soubesse que ela foi levada, ia sair daqui sozinho, e aí Atlas teria o que quer.

— Então foi ele. — A voz de Renee ficou mais baixa. — Atlas.

— Foi. — Petra respondeu, sem hesitar. — Mas não foi uma emboscada simples, ele usou a filha deles como isca. Chamou o nome da Lyra com a voz de Lua de dentro da floresta, e a Lyra caiu na armadilha achando que era a garota. Quando me avisou, já era tarde demais.

Renee encostou as costas na cadeira, absorvendo as palavras.

— E você acredita mesmo que ela ainda está viva?

Petra levantou o olhar, firme.

— Acredito, minha amiga é forte, a loba mais forte que já conheci, vai se virar.

O silêncio se estendeu entre as duas, lá fora, um trovão distante fez a janela tremer. Renee observou a loba com atenção, havia determinação no olhar dela, mas também cansaço, culpa e algo mais profundo: medo de falhar.

— Então o que você quer de mim, Petra? — perguntou, finalmente. — Por que me trouxe aqui?

Petra respirou fundo e respondeu:

— Porque eu não consigo fazer isso sozinha.

Renee inclinou a cabeça.

— “Isso”?

— Proteger todos, principalmente Lua. — Petra passou as mãos pelos cabelos, nervosa. — O Alfa tá instável, a Lua quer ir pra guerra, e Atlas tá movendo peças demais. Eu... preciso de ajuda.

Renee apoiou os cotovelos na mesa.

— Do que você precisa?

Petra piscou, surpresa.

— Vai me ajudar?

— Vou. — Renee se aproximou de novo, parando diante dela. — Precisamos proteger a menina, se posso fazer algo para evitar que aquele mnstro coloque as mãos nela, então irei me dispor.

Petra estendeu a mão.

— Então estamos combinadas?

Renee segurou.

— Combinadas.

***

Mais tarde, quando Renee saiu da casa, a lua cheia iluminava o pátio e os telhados molhados. Ela parou por um instante, sentindo o vento frio bater no rosto. Sabia que o que estavam prestes a fazer era arriscado, talvez até proibido, mas alguma coisa dentro dela dizia que era o caminho certo.

Do lado de dentro, Petra apagou as luzes e ficou parada no escuro, olhando pela janela. O rádio no balcão chiou, uma voz qualquer pedindo atualizações das rondas, ela ignorou.

Pegou o colar que Lyra havia dado a ela anos atrás, uma pequena lua de prata presa a uma corrente fina, e o apertou entre os dedos.

— Confio em você, Lyra... — sussurrou. — Vamos proteger sua menina.

O vento soprou de novo, e o som lembrou um sussurro feminino vindo da floresta. Por um instante, Petra jurou ouvir a voz da amiga respondendo, lá longe, em algum lugar.

"Obrigada."

Ela fechou os olhos, o coração acelerado.

A guerra ainda não tinha começado, mas o pacto entre loba e raposa já estava selado.

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