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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 155

Solomon segurou o filho como se o mundo estivesse prestes a desabar ao redor deles, e, no fundo, estava. Os braços largos do beta envolveram Tailon, a barba roçando nos cabelos ruivos do garoto, e por um segundo toda a fúria que vibrava na alcateia pareceu recuar meio passo.

— Você fez um bom trabalho em cuidar das meninas — disse, a voz grave arranhando de orgulho contido.

Tailon assentiu, engolindo o nó que insistia em subir. Queria parecer sóbrio, adulto, guerreiro, mas o calor que subiu ao rosto o traiu quando os olhos dele buscaram, por reflexo, a silhueta de Amber perto do portão principal. Ela conversava com dois guardas e sorria de leve, nervosa, o mundo inteiro andava sobre uma corda bamba.

Foi então que um burburinho diferente atravessou o pátio, esticando olhares e erguendo pescoços. O cheiro veio primeiro, terra molhada, metal e o resíduo azedo do mata-lobos ainda impregnado na pele, e, depois, as pessoas se afastaram para que o lobo pudesse passar. Tommy surgiu da entrada, o corpo inteiro coberto da viagem apressada, os olhos muito claros de quem não dormia havia dias.

E viu.

Caleb estava de pé ao lado de Lua, humano, alto, meio magro como quem saiu de uma febre longa. Os cabelos, agora limpos, caíam rebeldes sobre a testa; as mãos, grandes, estavam espalmadas ao lado do corpo, tensas como garras que aprenderam a guardar-se. Havia neles, contudo, uma doçura contrária, algo humilde, quase envergonhado, que não combinava com o rumor assustado que sempre vinha colado ao seu nome.

— Pai… — Amber sussurrou, aproximando-se devagar de Tommy, mas os olhos dele não conseguiam se soltar do rapaz diante de si.

Lua sentiu o ar rarear, respirou fundo, então deu um pequeno passo a frente, os dedos se entrelaçando aos de Caleb para dar a ele um pouco de coragem e força.

Caleb inspirou curto, sentiu o peso do passado pousar sobre os ombros, a floresta inteira voltando, o sangue, a lua, os uivos. O rosto de sua mãe surgiu em sua mente como uma ferida que nunca vai se curar, o último instante, o chamado, o gesto de acolhê-lo e a morte.

Tommy andou, devagar, se aproximando lentamente do garoto que via como filho e, ao mesmo tempo, como assassino de seu grande amor..

O peito de Caleb doeu de vergonha.

— Sinto… — começou, a voz ainda rasgando as sílabas como se as palavras fossem pedra. — Sinto muito.

O antigo Beta agora alfa por conta da morte de Camilla, parou diante dele. Os músculos do maxilar saltaram duas vezes, o lobo dentro dele rosnou, querendo dizer “você a arrancou de mim”. Mas o homem, e tudo o que aprendera sobre culpa e destino e a maldição que não se escolhe, respirou de outro modo.

— Eu sei que não foi cupa sua — disse, e o braço dele avançou, puxando Caleb para um abraço que significava perdão, mas também compartilhava a dor da perda. — Eu sei.

Caleb ficou rígido por meio segundo, como se não soubesse onde pôr aquelas mãos imensas. Depois, cedeu. O peito sobressaltou, uma respiração longa e instável escapou, e quando ele fechou os olhos pôde, pela primeira vez em muito tempo, simplesmente chorar por sua mãe.

Amber apertou os lábios para segurar o choro, o coração batendo rápido, as imagens misturadas: a mãe, o irmão, o passado e aquela esperança morna que nascia ali, nas mãos calejadas de Tommy. Tailon, um passo atrás, baixou a cabeça numa reverência breve ao homem que, por sorte da vida, sempre foi um farol para ele também.

River parou ao lado, olhou Caleb de cima a baixo, como se julgasse se ele merecia mesmo estar com sua filha se não seria o mesmo monstro que matou Camilla com Lua.

— Já chega de boas-vindas — disse, a voz limpa e fria, cortando o murmúrio que se ensaiava. — Atlas virá ao amanhecer. — Os olhos dele vacilaram um único instante, aquele ponto onde o vínculo ardia como cicatriz aberta. — E, muito provavelmente, ele está com Lyra.

O nome da Luna atravessou o pátio como vento frio. Muitos baixaram a cabeça, respeito, medo, raiva. Lua apertou o punho, o metal de uma pulseira roçando no osso do pulso. Caleb virou o rosto na direção das casas do fundo, como se pudesse enxergar a sombra da mulher que o olhara sem medo naquela noite, a primeira a lhe dizer com silêncio que ele ainda era alguém.

—Vamos vencer por ela — River continuou, os olhos arrastando cada soldado, cada loba, cada aliado. — E por você, minha filha. — O olhar desceu um pouco, findando na filha, e nele havia orgulho e pavor, os dois, como fogo e água. — Não entregaremos ninguém. Quebrem as linhas, dobrem as rondas. Quero os anéis defensivos completos antes da lua subir.

A ordem disparou homens e mulheres em todas as direções. As bruxas, chamadas desde cedo, repintaram selos no chão, fixaram amuletos de proteção nas passagens estreitas que levavam à vila delas. O chefe da guarda dividiu as patrulhas, amarrou um contingente nos telhados da mansão e deixou outro grupo de tocaia nas copas das árvores. O portão principal recebeu barras novas de ferro e prata; o secundário foi selado com runas de contenção. No refeitório, ômegas e lobas jovens enfileiravam panelas, ervas, bandagens: o cheiro de caldo quente, alho, sangue e álcool medicinal se misturava no ar. A alcateia respirava guerra.

***

Do outro lado do pátio, Amber conversava com Lua sobre a posição dos arqueiros quando Tailon se aproximou por trás, tocando o cotovelo dela de leve, uma passada rápida de coragem. O olhar de Amber foi primeiro para a mão dele; depois, subiu até o rosto, e a pequena contração no canto da boca foi a confirmação silenciosa de que, apesar do medo, havia também vida para ser vivida.

À medida que o sol foi baixando, o crepúsculo derramou ouro e sangue sobre as pedras. As tochas foram acesas e o pátio, que na manhã parecia um coração hiperventilado, agora pulsava num compasso mais firme. River subiu os degraus e fez a ronda com os líderes. Connan mostrou os mapas; Erwin discutiu linhas de recuo; Haelena rosnou alto ao ouvir um plano covarde de cercar e esperar, “nós não espreitamos atrás de paredes enquanto tiranos marcham”, disparou, e Ignis, com a doçura firme de sempre, colocou a mão nas costas da companheira, tentando conter a rudeza que sempre tomava as palavras da mulher.

Quando a noite se adensou, e todos os que tinham que chegar chegaram, a alcateia pareceu, enfim, um corpo completo: cicatrizado à força, mas inteiro.

Foi no meio de instruções, abraços rápidos, armas conferidas que Petra lançou um olhar para Ignis. A Luna da alcateia de mulheres entendeu na hora: havia segredo.

— Venha comigo — pediu Petra, em tom que não admitia perguntas.

Ignis tocou o braço de Haelena, sussurrou algo no ouvido da alfa, recebeu um assentir curto e um selinho de despedida antes de se afastar. Depois, seguiu Petra pelo corredor lateral da mansão, o som do pátio abafando ao fundo, os passos delas pegando o rumo da mata. Desceram uma trilha que tecnicamente não existia: dois desvios, um tronco caído, um arvoredo mais fechado. As folhas batiam na altura das coxas, o cheiro da terra subia doce e antigo, e as corujas abriam os olhos silenciosos lá no alto. A poucos metros dos limites simbólicos que separavam o território da alcateia e a vila das bruxas, uma cabana pequena se encolhia sob árvores velhas, esquecida de propósito.

Petra bateu uma vez, um padrão curto de três toques, a porta se abriu com um estalo de madeira velha.

Renee já as esperava, de pé, a raposa-oráculo tinha os cabelos presos de um lado com uma trança bem feita, e os olhos carregavam aquele brilho que não era só da vela sobre a mesa: era de quem olha para frente do tempo. Ao lado dela, uma bruxa jovem se virou, pele morena, sardas tímidas, os cabelos trançados com minúsculas contas prateadas. No pescoço, um talismã de pedra levemente lilás pulsava um ínfimo ritmo próprio.

— Agora que estamos reunidas — disse Petra, fechando a porta com cuidado, o coração batendo alto no peito como quem sabe que atravessa uma linha invisível — podemos começar o plano.

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