— Companheira…
A chuva caía em cortinas densas quando Lyra se ajoelhou diante da criatura, os joelhos afundando no barro encharcado da floresta quando a voz gutural soou chamando-a com um sofrimento, uma necessidade que ela sempre quis ouvir antes de tudo.
Ela estendeu a mão trêmula, os dedos hesitantes, e tocou a face do monstro que, segundos antes, havia massacrado os caçadores. A pele era quente, pulsante, os olhos vermelhos ainda ardiam, mas já não havia fúria neles. Apenas dor. Exaustão. E algo mais profundo, devoção talvez, necessidade de protegê-la.
— River... — sussurrou, com a voz falhando. — Volta pra mim.
Ele soltou um som grave, gutural, que poderia ser um lamento, e então, lentamente, o impossível começou.
Os músculos retraíram, os ossos se reajustaram num estalar grotesco. O pelo negro recuou, desaparecendo sob a pele pálida. Os dentes diminuíram, as garras sumiram. Em questão de segundos, River voltou à sua forma humana. Nu, coberto de sangue e lama, os olhos fechados.
E então, como se seu corpo tivesse segurado até o último instante possível, ele desabou.
— Não! — gritou Lyra, caindo ao lado dele. — River!
Ela o virou de lado e só então viu a gravidade dos ferimentos. Haviam vários buracos no peito, no braço, na barriga. As bordas queimadas em preto, o sangue escuro, espesso. Prata.
— Droga, droga, não... — murmurou, tentando estancar com as mãos, mas não adiantava. O sangue escorria quente por entre seus dedos, enquanto a respiração dele se tornava cada vez mais difícil.
A caçadora sobrevivente saiu correndo pela trilha, sem olhar para trás, aos soluços. Lyra não se importou, não tinha tempo para ela. River estava morrendo, ela tinha certeza disso.
Sem pensar, ela agarrou os braços dele e começou a arrastá-lo. Os pés escorregavam na lama, os músculos doíam, mas ela não parava. A mata parecia mais densa, mais escura, como se cada árvore fosse uma ameaça.
— Aguenta, River. Por favor, aguenta...
Os galhos batiam em seu rosto, a chuva tornava tudo mais difícil. A cada metro, ela sentia o corpo dele pesar mais, a temperatura cair. Tudo o que queria era ter a força dele agora, para poder protegê-lo como ele a protegeu.
— Por aqui! — gritou uma voz adiante.
Lyra parou, o coração disparado. De repente, duas silhuetas surgiram em meio à escuridão. As duas garotas que River encontrara naquela noite, as mesmas que lhe emprestaram roupas. A mais alta, de cabelos escuros presos em um coque, correu até ela.
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