O castelo nas montanhas sombrias parecia respirar trevas naquela noite. A névoa estava tão espessa que engolia as torres, rastejando pelas paredes como serpentes de fumaça fria. Havia neve recente acumulada nos parapeitos, mas o ar não parecia congelado, parecia morto. Um silêncio pesado envolvia tudo, como se as pedras soubessem que algo terrível se aproximava.
Atlas estava diante da enorme janela da sala do trono, observando o horizonte enevoado com impaciência. Seus dedos tamborilavam no braço da cadeira, o corpo ainda fraco depois do desmaio na noite anterior, mas a raiva o mantinha de pé. A pele dele estava pálida, quase cinzenta, e veias escuras subiam pelo pescoço cada vez que o colar pulsava.
Ele odiava aquela sensação.
Odiava a dor.
Odiava parecer fraco, incapaz.
Odiava que tivesse sido enganado.
E acima de tudo, odiava Lyra.
— A Luna prateada… — rosnou baixinho, cerrando os punhos. — Aquela vadia ousou me desafiar…
A porta da sala do trono se abriu de súbito com um estrondo, e um soldado entrou correndo, o corpo coberto de lama e neve, os olhos arregalados de pavor.
— Majestade! — ele gritou, caindo de joelhos imediatamente. — Majestade, perdão pela interrupção, mas… temos um problema urgente!
Atlas virou-se devagar, os olhos verdes brilhando de irritação.
— Fale de uma vez — ele ordenou, a voz baixa, fria.
O soldado engoliu seco.
— Um grupo enorme de lobos — ele disse — está atravessando as Terras de Ninguém neste momento. Não são caçadores, não são renegados migrando de um lado para o outro… estão marchando em formação completa.
Atlas semicerrrou os olhos.
— Quantos?
— Centenas, meu rei. Talvez mais. E… — ele respirou fundo, como se estivesse prestes a dizer algo impossível — quem lidera o grupo é… a Luna Lyra.
As palavras percorreram o salão como um trovão.
Atlas ficou completamente imóvel por três segundos que pareceram longos demais. Depois, o rosto dele se contorceu num ódio tão profundo que parecia impossível ser humano. Ele virou o corpo inteiro, respirando forte, até que finalmente explodiu.
Então rugiu.
Um rugido que fez as paredes tremerem.
— DESGRAÇADA! — gritou, e a voz ecoou pelos corredores, fazendo todos que estavam por perto se encolherem de medo.
Sem pensar, ele agarrou a mesa central e a virou com força, arremessando livros, frascos de vidro e papeis pelo chão. Um vaso antigo se espatifou contra a parede, duas cadeiras foram chutadas, o trono quase caiu quando ele o empurrou com violência.
— COMO ELA OUSA? COMO ELA OUSA MARCHAR CONTRA MIM? — O colar pulsava freneticamente, derramando luz verde pelas veias do peito. — EU SOU O REI! EU SOU O ALFA DAS MONTANHAS! EU…
O soldado permaneceu de joelhos, tremendo, sem ousar levantar a cabeça.
Atlas chutou uma das colunas, deixando uma rachadura profunda na pedra.
Depois respirou fundo, tentando recuperar a postura. A raiva borbulhava, mas por trás dela, havia algo pior: medo. Medo de Lyra. Medo da Luna prateada. Medo de enfrentá-la após ter tirado seu companheiro.
“Ela não pode chegar até mim”, pensou.
Mas não admitiria isso nem sob tortura.
— Levante-se — Atlas ordenou.
O soldado obedeceu imediatamente.
— Quero que todos os guerreiros se preparem, agora. — A voz do rei cortou o ar como lâmina. — Quero magia, quero tudo que temos. Se eles acham que podem vir até mim… — ele sorriu, um sorriso louco — … vão morrer antes de atravessar o sopé das montanhas.
O soldado assentiu rapidamente e saiu correndo.
Mas Atlas não terminou.
— E finalmente chego a hora de usar minha arma mais poderosa.
***
O caminho até o calabouço era escuro e úmido, cheio de raízes que emergiam das pedras e um cheiro forte de sangue seco. O castelo parecia mais sombrio ali, como se as paredes respirassem dor. Dois guardas abriram a grade de ferro quando viram o rei se aproximar, curvando-se profundamente.
Atlas desceu a escadaria em passos lentos, carregados de ódio e expectativa.
O rugido ecoou antes mesmo que ele chegasse ao fim do corredor, seguido por um guincho de tristeza e até medo.
River estava ali, preso por correntes de prata grossas que queimavam sua pele. A forma de Lycan ocupava quase todo o espaço da cela, o corpo colossal, os músculos retorcidos, as garras impossivelmente longas. O pelo negro estava sujo de sangue seco, e os olhos estavam vazios e ao mesmo tempo cheios de dor.
Ao lado, o corpo de Renee ainda estava, mutilado, sem vida, completamente ensaguentado.
O supremo tremia, respirando como uma fera, mas não era medo, não só isso, estava tentando resistir, lutar.


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Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...