O impacto fez o mundo girar.
Lyra sentiu o corpo ser jogado para trás como se fosse um brinquedo de pano. As patas perderam o chão, a visão virou um borrão de branco, cinza, vermelho. Ela bateu com as costas na neve dura, o ar saiu inteiro dos pulmões num gemido mudo. A cabeça girou, um zumbido alto preencheu tudo, por um segundo, não soube onde estava.
Então o peso veio.
O corpo colossal do supremo caiu sobre ela, prensando-a contra o chão. Uma das patas enormes desceu diretamente sobre o peito dela, esmagando suas costelas. Lyra sentiu os ossos protestarem, alguns talvez racharem, o pulmão comprimido lutando por espaço.
Ela arfou, encarando de baixo o rosto monstruoso que tantas vezes já a fez se sentir segura.
Os olhos de River estavam vazios, não havia humanidade ali. Não havia o homem que a tirou da sujeira quando ela era apenas uma ômega que limpava chão, não havia o alfa que escolheu amar uma ninguém. Só havia comando. Só havia a corrente invisível do colar no peito de Atlas.
Lyra tentou falar pela conexão mental, mas o som saiu estrangulado.
“R… River…”
Ele não reagiu.
Ou reagiu, em algum lugar muito fundo, enterrado demais sob a ordem.
A mandíbula dele se abriu, os dentes enormes brilhando, afiados, manchados de sangue de aliados dela. Ele baixou a cabeça até ficar tão perto que o hálito quente e pesado bateu no rosto da Luna. O rosnado que saiu dele não era o do companheiro, era o do cão obediente de um rei cruel.
Lá em cima, no alto da encosta de pedra, Atlas observava. Viu o golpe, viu a Luna cair, viu o supremo prendê-la e um sorriso lento se abriu no rosto dele.
Ele começou a descer, cada passo um recorte de arrogância no meio da guerra.
Em volta, os soldados dele ainda lutavam, as bruxas de Lyra gritavam feitiços, as raposas cravavam os dentes nos inimigos, mas nada disso importava tanto quanto a cena que se desenrolava à frente. Atlas atravessou o campo ignorando os corpos caídos, pisando em quem estivesse no caminho sem nem olhar. O colar brilhava no peito, pulsando junto dos olhos de River, as veias negras se espalhando ainda mais enquanto a magia cobrava dele seu preço.
Quando se aproximou o suficiente, sua expressão era calma, irritantemente calma.
Ele parou a poucos metros, olhando a Luna prateada presa sob o monstro que um dia foi seu irmão.
— Eu nunca vou me esquecer disso. — a voz dele cortou o ar, baixa, cheia de prazer. — Nunca.
Lyra, ofegante, lutava sob o peso, tentando ganhar alguns centímetros de ar. As patas dela arranhavam o peito de River, mas ele era uma montanha viva sobre ela.
Atlas se aproximou mais.
Se abaixou, quase num gesto íntimo, como se fosse um confidente. Estendeu a mão e passou os dedos pelos pelos do pescoço dela, como quem afaga um animal que está prestes a sacrificar.
— A vingança perfeita… — murmurou. — Melhor do que eu imaginei, Lyra. Depois de tudo que o “supremo” tirou de mim, ver ele assim, em cima de você, pronto para arrancar sua garganta, seguindo uma ordem minha… — o sorriso se alargou. — É poesia.
Ela tentou rosnar, mas o som saiu rouco, quebrado. Os olhos prateados ardiam de ódio, dor e, sob tudo, amor, amor por aquele mesmo monstro que a esmagava.
“Você… não vai vencer” conseguiu dizer, a voz ecoando na mente, já que a boca de loba não formava palavras humanas.
Atlas riu, curvando a cabeça para o lado, como se estivesse escutando um elogio.
— Eu já venci, Luna. O supremo é meu cão, a oráculo vai ser minha, sua alcateia está sangrando aos meus pés. — Ele ergueu o colar, deixando o brilho verde iluminar o focinho de River. — E, quando isso acabar, eu vou fazer uma última gentileza pro meu irmãozinho querido.
A sombra de um riso passou pelos olhos dele.
— Vou deixar a consciência dele voltar, só um pouco, só o suficiente para ele lembrar de tudo. Para ver você morta, para saber que foi a mão dele que colocou você no chão, para ouvir o choro da princesa dele antes de eu marcá-la como minha.
Lyra ainda tentava.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...