As garras do supremo desceram.
Lyra viu.
Viu o arco do golpe, viu o brilho metálico da própria morte refletida nas lâminas negras, viu o mundo se estreitar em um único ponto: o peito dela, a garganta, o lugar exato onde River a tinha beijado uma vez, rindo, dizendo que nada nunca a machucaria enquanto ele estivesse ali. Viu o sorriso de Atlas lá atrás, viu a neve suja de vermelho, viu Lua em algum lugar do campo, tentando chegar perto, e então fez a única coisa que podia fazer.
Fechou os olhos.
Ela não rezou.
Não pediu perdão.
Não implorou à deusa.
Só pensou nele. No homem, não no monstro, pensou no River que a salvou naquela noite, que deu a ela sua vingança contra Kael, no River que a chamou de Luna pela primeira vez, no River que sempre fez de tud por ela, que nunca mediu esforços para fazê-la feliz.
“Eu te amo. Protege nossa filha”, foi sua última decisão consciente. Depois, só esperou.
Mas a morte não veio.
O que veio foi um som.
Um som de esforço cortando o ossos.
Um uivo preso, estrangulado, como se uma garganta enorme estivesse tentando conter algo que não cabia mais dentro dela. Lyra abriu os olhos em um sobressalto, o coração batendo tão rápido que parecia querer sair pela boca. As garras do supremo estavam ali, sim, mas paradas a centímetros de sua garganta, o ar frio raspando na ponta das lâminas, tão perto que ela sentiu o cheiro de sangue nelas.
O corpo gigantesco de River tremia.
Cada músculo, cada fibra, cada pedaço dele parecia travar uma guerra interna. Ele estava em cima dela, ainda a prendendo contra o chão, mas não avançava. A pata erguida tremia como se pesasse toneladas, os tendões do braço esticados, a coluna arqueada numa posição impossível, como se forças opostas o puxassem por dentro. Um som rouco escapava do peito dele, um misto de rosnado e gemido.
Os olhos.
Os olhos não eram mais totalmente verdes.
O brilho do comando ainda estava lá, venenoso, latejante, mas algo engolia aquele verde de dentro pra fora. Uma cor vermelha começava a surgir, primeiro num pequeno anel, depois num lampejo mais forte, como brasas acendendo em cinzas molhadas. Verde e vermelho se chocavam na íris, dançando numa luta silenciosa, um empurrando o outro, até que os olhos tremulavam, instáveis, como se duas versões de River estivessem presas naquele olhar ao mesmo tempo.
— O QUE ESTÁ FAZENDO? — a voz de Atlas cortou o ar, furiosa, histérica, ecoando por toda a encosta. — NÃO OUSE PARAR!
Ele ergueu a mão, o colar brilhando no peito. A pedra esverdeada queimava, as veias negras já tinham subido até o pescoço, denunciando o preço daquela magia antiga, mas Atlas estava cego. Cego de ódio, de obsessão, de vingança. Ele apertou os dedos ao redor do pingente e, com um rugido, lançou outra ordem, jogando mais poder em cima do supremo.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...