— Companheiro destinado? — Camilla soltou uma risada nervosa e amarga. — Você está me dizendo que estou assim porque escolhi o Kael em vez daquele soldadinho de merda? Não sou a primeira que faz isso!
Belia não respondeu de imediato. Apenas observava, como se estivesse diante de uma fera prestes a despencar no próprio abismo.
— Não é uma questão de escolha comum, Luna. É sobre o laço que nasce antes mesmo do sangue pulsar. Há histórias antigas… de lobas que tentaram ignorar esse chamado, a maioria… morreu.
Camilla cambaleou para trás, como se tivesse levado um soco. O rosto empalideceu ainda mais. Seus olhos se encheram de lágrimas, não de dor física, mas de frustração, de humilhação.
— Você vai contar pra ele, não vai? Vai correr pra Kael e dizer que eu sou uma aberração? — sua voz tremeu, carregada de veneno.
— Eu preciso avisá-lo. É o dever de uma anciã proteger a alcateia. Isso pode se tornar perigoso, a doença pode se espalhar se não for tratada — respondeu Belia, já se virando para a porta.
— Você não vai sair daqui. — Camilla rosnou.
Belia parou, sentindo o cheiro de fúria.
— Eu sou a Luna dessa alcateia! — Camilla gritou. — E se você abrir essa boca maldita para ele, juro pelos deuses antigos que mando cortar a sua língua!
Belia a encarou, tensa, mas com calma.
— Está ameaçando uma anciã?
— Estou garantindo a minha sobrevivência. — Camilla se aproximou dela, sangue negro ainda escorrendo pelo canto dos lábios. — Ninguém vai tirar meu posto, ninguém vai tirar meu alfa. Eu vou dar um jeito, mas você vai calar essa boca até que eu diga o contrário.
As duas ficaram se encarando por longos segundos. Então, por fim, Belia assentiu.
— Como desejar, minha senhora. Mas isso… vai te destruir, e talvez destruir todos nós no processo.
— Já estou destruída — sussurrou Camilla, voltando para o banheiro. — Não me importo com mais ninguém.
A anciã observou a mulher por alguns instantes, sabia que a posição da atual Luna era dificil, mas também tinha plena consciencia de que Camilla havia procurado por aquilo. Com pena, Belia foi até a bolsa que trazia e começou a preparar um pequeno chá com folhas secas e raízes escurecidas. Os movimentos eram precisos, lentos, carregados de receio.
— Beba isso. Vai aliviar os sintomas e conter sua doença… por enquanto.
Camilla pegou a caneca de barro das mãos da anciã e a observou com desconfiança.
— Não tem veneno aqui, tem?
— Se quisesse vê-la morta, teria deixado a maldição seguir seu curso — disse Belia, séria. — Isso só vai atrasar os efeitos, mas não cura.
— Já serve. — Camilla levou a caneca aos lábios e engoliu o conteúdo amargo de uma vez.
— Uma bruxa.
A palavra saiu com um sopro, quase inaudível, mas ali estava. A semente de um plano que começava a crescer como erva daninha dentro dela.
— Uma bruxa pode saber o que fazer… pode entender mais dessa doença e me curar antes que eu morra…
A ideia se instalou com força.
Sabia das histórias dos boatos, tinha plena consciência que a terra de ninguém era recheada dessas mulheres que não veneravam a deusa da lua, mas outra divindade… Talvez estas pudessem lhe ajudar, elas poderiam saber mais doque aquela velha maldita.
Camilla mordeu o lábio, sentindo o gosto metálico do sangue.
— Ninguém vai tirar Kael de mim. — Seus olhos brilharam. — Ninguém vai roubar meu trono.
Ela se virou, determinada, arrancou suas roupas, tomou um banho e maquiou o rosto para esconder a palidez. Colocou uma blusa com uma gola alta para esconder a marca e pegou a capa escura pendurada atrás da porta.
Teria que partir agora mesmo, se esgueirar sem que a vissem, sem levantar suspeitas. Levaria consigo apenas o necessário e voltaria antes que seu alfa desse sua falta.
Porque se a Deusa da Lua havia lhe dado as costas, então ela buscaria forças na escuridão.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Rejeitada: A Luna do Alfa supremo
Excelente pena que nao tem o livro impresso....
Muito bom! Livro excelente! História bem amarrada! Estou quase no final! Recomendo!...