O quarto era silencioso, exceto pelo som constante e ritmado do monitor cardíaco. A luz do entardecer atravessava as persianas parcialmente fechadas, projetando listras douradas sobre a cama branca onde River continuava deitado, imóvel, há dois dias. Lyra estava sentada ao lado dele desde a primeira noite, não comia direito, não dormia, mal saía dali para tomar banho.
Ela segurava sua mão com firmeza, como se o toque fosse suficiente para mantê-lo ancorado ao mundo dos vivos.
A cada hora que passava, um médico ou enfermeiro, todos usando equipamentos sofisticados, jalecos bordados com o símbolo da alcateia, entrava para verificar os sinais vitais, administrar medicação, escanear o cérebro dele com aparelhos que mais pareciam ter saído de um hospital humano de cidade grande.
Era tudo tão diferente da Ventos Sombrios.
Aquela estrutura, aquelas tecnologias, as câmeras discretas nos cantos do teto, os sensores de presença nos corredores, os sistemas de segurança com reconhecimento facial. Tudo ali exalava modernidade e organização. Havia uma ala pediátrica com brinquedos, uma biblioteca para os pacientes em recuperação e até uma sala de aula no terceiro andar, onde filhotes aprendiam não só sobre os costumes dos lobos, mas também matemática, história, química... igualzinho às escolas humanas.
Alguns enfermeiros conversavam sobre colegas que estavam cursando medicina na capital. Outros falavam de intercâmbios, de bolsas universitárias, de viagens. Uma realidade que nunca existiu sob o comando de Kael.
Na Ventos Sombrios, tudo era controle, repressão, submissão. Aprendiam a lutar, a obedecer e a temer, nada mais. A tecnologia humana só era usada para o que o alfa considerava útil e as ômegas mal tinham acesso a uma televisão, quem dirá celulares e internet.
Ali... ali parecia que os lobos tinham permissão para sonhar.
Lyra deslizou os dedos pela mão de River com carinho. Ele ainda estava pálido, as olheiras fundas sob os olhos cerrados. Os cortes pelo corpo começavam a cicatrizar com a ajuda de soro e tratamentos celulares avançados. Ela queria acreditar que ele estava melhorando, mas o medo nunca deixava seu peito por completo.
— Acorda... por favor... — sussurrou baixinho, encostando os lábios nos nós dos dedos dele. — Me mostra que você vai ficar bem…
River se mexeu.
Tão de leve que ela pensou ter imaginado.
Mas então ele gemeu baixo, a cabeça se moveu ligeiramente para o lado e os lábios tentaram formar palavras.
— R-River? — Lyra se inclinou para perto, apertando sua mão. — Você tá me ouvindo?
Ele franziu o cenho, os olhos ainda fechados, e murmurou algo que ela não entendeu.
— Tá tudo bem. Calma... — ela sussurrou, o coração disparado. — Você tá seguro agora, River... você tá em casa.
Os olhos dele se abriram de repente, azuis como o céu antes da tempestade. Ele se sentou na cama de uma vez, o peito arfando, o olhar perdido e assustado.
— Ei! — Lyra se levantou, segurando os ombros dele com firmeza. — Tá tudo bem. Eu tô aqui, tá tudo bem agora.
River olhou para ela. Por um segundo, parecia que não a reconhecia, como se ainda estivesse preso em alguma lembrança de dor. Mas, aos poucos, os olhos dele se suavizaram.
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