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Rejeitada: A Luna do Alfa supremo romance Capítulo 38

— Na Lua Sangrenta, Petra — disse ele, com a voz baixa e firme —, ninguém vive para servir. Vivemos juntos, lutamos juntos, comemos à mesma mesa. Aqui você é parte do que somos, todos somos iguais, sem distinção.

Petra o olhou, surpresa pela gentileza, mas também desconfiada. Então abaixou a cabeça em respeito, sussurrando:

— Sim, senhor Solomon.

Lyra observava tudo, o olhar de Solomon demorou-se um pouco mais do que o necessário sobre sua amiga. Não de forma inapropriada, não era isso, mas havia ternura. Familiaridade. E aquilo despertou algo em Lyra, um pressentimento que se formava como uma bruma em sua mente. Ela quis perguntar, mas não o fez.

River voltou a andar pelo escritório, bufando de raiva, os pensamentos em turbilhão.

— Eles não vão parar. Nunca param. Querem moldar tudo à imagem deles, como se fossem os únicos com o direito de decidir o destino da nossa espécie.

— Então mostre quem você é — disse Solomon, levantando-se. — Mas da forma certa. Sem derramar sangue sem necessidade, dê a eles algo que não esperam.

— Inteligência? — retrucou River com um meio sorriso amargo.

— Precisamente.

Petra olhou de um para o outro, hesitante.

— E se... e se eles vierem atrás de mim de novo?

River se virou para ela. E então, pela primeira vez naquela noite, a voz dele não foi de um alfa supremo... mas de um protetor.

— Quem tentar tocar em você, vai lidar comigo. Você faz parte de minha alcateia, agora eu sou seu alfa e vou protegê-la.

Petra ainda parecia hesitar, os ombros encolhidos, como se temesse ocupar espaço demais naquele lugar que não conhecia. Mas havia algo no olhar dela que tentava resistir à insegurança, um desejo mudo de pertencer, de ser algo além do que a vida cruel até ali permitira.

River a observava em silêncio. Seu olhar não era duro como antes, ainda era firme, inabalável… mas havia calor, mesmo que discreto.

— Você vai entender com o tempo — disse ele, a voz grave quebrando a tensão com uma espécie de calma inesperada. — Aqui, ninguém vive de joelhos. Uma amiga de Lyra sempre será bem-vinda como uma das nossas.

Os olhos de Petra se arregalaram por um instante, a boca entreaberta como se não soubesse o que dizer. Mas Lyra se adiantou, passando o braço ao redor da garota e sorrindo com doçura.

— Vem, vou te mostrar um quarto e encontrar roupas que sirvam em você. Não prometo nada novo, mas pelo menos não vai dormir com esse vestido rasgado, brincou, tentando aliviar o peso da noite.

Petra assentiu, ainda visivelmente tocada pelas palavras de River, e seguiu com Lyra em direção à porta. Antes de sair, a menina lançou um último olhar para Solomon, e então desapareceu no corredor com passos leves, mas ainda tensos.

O silêncio voltou ao escritório assim que a porta se fechou, e com ele, veio a densidade da realidade que os dois homens tinham que enfrentar.

Solomon caminhou até a janela, encostando-se na moldura de pedra enquanto observava a noite além da floresta. As estrelas estavam escondidas por nuvens pesadas, e o vento carregava o presságio de algo maior que se aproximava.

— No que você está pensando? — perguntou ele, sem tirar os olhos do céu carregado.

River demorou alguns segundos para responder, foi até a mesa de madeira maciça no centro da sala, apoiou as mãos ali e olhou fixamente para o tampo, como se encarasse algo invisível.

— Quero que você vá até a reunião dos anciãos amanhã.

Solomon se virou devagar.

— Eu?

— Sim. Não vou me prestar ao papel de mendigar espaço num conselho que sempre tentou me eliminar, mas quero que eles saibam que não estou cego. Nem quieto. Nada melhor do que como um aviso do meu beta, não acha?

Solomon se afastou, pegando o casaco pendurado no encosto de uma cadeira. Vestiu-o com um movimento ágil e já caminhava até a porta quando River falou novamente:

— Solomon.

Ele parou, a mão já na maçaneta.

— Obrigado.

Solomon se virou de lado, um sorriso de canto surgindo em meio à seriedade.

— Você me tirou do buraco quando ninguém mais estendeu a mão. A única coisa que me surpreende é que tenha demorado tanto pra me pedir algo assim.

River balançou a cabeça, quase rindo, um som rouco e breve que desapareceu tão rápido quanto surgiu.

— Só não me faça ter que ir atrás de você caso se envolva em alguma briga.

— Não prometo nada — respondeu Solomon com um aceno debochado, antes de desaparecer pelo corredor, com passos determinados e prontos para o confronto.

O vento soprou mais forte lá fora, uivando entre as árvores como um aviso. E no silêncio que se instalou novamente no escritório, River ficou sozinho, de pé no centro da sala, o olhar fixo na chama baixa da lareira.

As sombras dançavam nas paredes como ecos do que estava por vir.

E ele sabia.

Aquela era apenas a calmaria antes da verdadeira tempestade.

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